A galeria NONADA SP, em sua sede paulistana, expõe “Sob o signo do ocaso – Wasthavastahunn: o universo paralelo de Fernando Duval”, com curadoria de Bernardo José de Souza, – um breve retrospecto -, obras criadas ao longo de mais de sessenta anos. Com obras totalmente inéditas, a mostra traça um panorama da produção de Fernando Duval (1937, Pelotas, RS), figura singular no cenário da arte brasileira, cujas produções – desenvolvidas ao longo de mais de seis décadas – são inteiramente dedicadas ao desenvolvimento de um universo de ficção científica: o planeta Fahadoika e, em especial, o continente de Wasthavastahunn.
Num gesto que desafia as convenções do campo artístico e da própria realidade, Fernando Duval criou uma cosmogonia própria, com personagens, línguas, tradições e tecnologias, povoando esse mundo alternativo por meio de desenhos, pinturas, esculturas, textos, narrativas orais e até um dicionário completo. Entre a ficção especulativa, o escapismo e o prazer, sua obra se insere na tradição da outsider art, sendo uma das mais notáveis expressões de invenção radical na história recente da arte brasileira.
A exposição reúne uma seleção de trabalhos que revelam as camadas narrativas, políticas e sensoriais do imaginário wasthianno: um povo fictício que, apesar da semelhança com os humanos, vive à margem de sistemas econômicos, religiosos e patriarcais. Em Wastha não há pobreza nem trabalho compulsório – tampouco fé ou dogma científico. O que impera é uma filosofia hedonista e libertária em que o prazer, a especulação intelectual e a recusa às normas constituem os pilares de uma civilização alternativa e profundamente crítica à lógica dominante no mundo real.
A mostra inclui também registros de personagens míticos – como Santa Bartola, padroeira da loucura e dos afetos desviantes – e evoca figuras centrais da política interestelar de Wasthavastahunn, como Ada Andes, baronesa e chanceler junto às Galáxias Ulteriores. As obras de Fernando Duval assumem, assim, o papel de documentos sensíveis de um mundo que não apenas questiona a normatividade ocidental, mas propõe outros modos de viver, imaginar e habitar o tempo.
O projeto curatorial de Bernardo José de Souza parte do próprio envolvimento afetivo e intelectual com a obra de Duval – artista que, ao longo de sua vida, permaneceu à margem do circuito institucional, mas criou uma das mais completas e sofisticadas ficções do século XX no Brasil. Como escreve o curador, “entre o escapismo, a luxúria e a transgressão, Duval deu corpo a um universo paralelo ao nosso, estruturado sobre as bases da imaginação, do regozijo e da recusa em viver sob a normatividade das sociedades capitalistas e patriarcais”.
Em cartaz até o dia 27 de setembro é uma oportunidade única para adentrar os meandros desse universo radical e encantador.