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AGENDA CULTURAL

Fachada de Laercio Redondo

A Galeria Silvia Cintra + Box 4, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, exibe a exposição “Fachada”, do artista Laercio Redondo que toma como ponto de partida um marco da arquitetura moderna Brasileira: o Palácio Gustavo Capanema, onde funcionou, no Rio de Janeiro, o o Ministério da Educação e Cultura. Construído entre 1936 e 1945, foi projetado por uma equipe de arquitetos, entre os quais Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Eduardo Reidy, Carlos Leão, Ernani Vasconcellos e Jorge Machado Moreira com a consultoria do arquiteto franco-suíço Le Corbusier. O edifício também teve a colaboração de artistas plásticos, que criaram obras para as áreas internas e externas. Paradoxalmente, no entanto, estes arquitetos e artistas de esquerda conceberam o edifício em plena ditadura Vargas (1930-1945), ou Estado Novo, em cujo início havia uma forte inclinação fascista. Assim, o edifício incorpora uma contradição: a arquitetura representava um sistema baseado em valores democráticos e ao mesmo tempo também correspondia à visão de nação moderna do regime.

 

A mostra apresenta quatro trabalhos principais: uma frase fundida em bronze, um filme, um conjunto de serigrafias em painéis de plywood e a imagem ampliada de um cartão postal dos anos 50. O filme da fachada do edifício é a chave para a leitura da instalação. Numa única tomada, a câmera viaja em linha vertical que vai do térreo ao terraço do edifício e o ultrapassa, revelando a cidade, o mar e o horizonte. Se o filme nos mostra o edifício hoje, no reverso da tela de projeção, Redondo imprimiu reproduções de imagens históricas icônicas do Palácio Capanema na época de sua construção. Ao lado destas representações, molduras monocromáticas negras atuam como marcadores espaciais onde o espectador pode pensar o que o palácio foi, o que ele poderia ter sido, e o que ele ainda pode ser.

 

Ao lado do arquiteto Birger Lipinski, Redondo criou dispositivos para parede que lembram o conjunto de janelas da fachada do edifício, onde são expostas as serigrafias que retratam uma seleção de fotografias atuais do edifício tiradas pelo próprio artista. Redondo justapõe vários detalhes visuais do lugar, inclusive os bustos de Vargas e Capanema, painéis de Cândido Portinari, a bandeira Brasileira, dentre outras imagens e espaços que dialogam com a complexa história e iconografia do edifício. O efeito de collage gerado por estes fragmentos, por conta da sua colocação e disposição, evoca o legado contraditório de como ideologias distintas vieram a se manifestar neste mesmo espaço físico.

 

O Palácio Capanema foi originalmente sede do Ministério da Educação e Saúde, cujo programa político tinha por premissa o desenvolvimento de uma nação moderna e “saudável”. Por isso, um cartão postal da época foi impresso e ampliado, mostrando um atleta na frente do edifício, o que nos remete ao passado e também reflete o presente: quando vivemos às vésperas de eventos esportivos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, com grande impacto sobre o atual desenvolvimento socioeconômico da cidade.

 

Finalmente, na parede de fundo da galeria encontra-se a frase fundida em bronze “Na verdade, a cidade do Rio não existe ainda”, tirada de um esboço feito por Le Corbusier durante sua viagem ao Rio em 1936. A frase acena o quanto o Modernismo era percebido como uma solução radical para o desenvolvimento sem, no entanto, levar em consideração as realidades locais. Ainda assim, como no caso da imagem do atleta heroico do outro lado da galeria, também se pode ler as palavras de Le Corbusier em relação ao momento atual e à propulsão da cidade para o futuro.

 

Ao sobrepor diferentes temporalidades e vários elementos, todos reunidos neste marco da arquitetura, a obra de Redondo reativa uma visão sobre a história da política. Ao fazê-lo, ele cria um espaço onde o espectador pode avaliar a complexidade da memória histórica e suas ambiguidades a partir de diferentes perspectivas. Fachada sugere o contexto histórico múltiplo da construção do Palácio Capanema e os possíveis significados dessa fachada nos dias de hoje.

 

 

De 15 de maio a 21 de junho.

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