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AGENDA CULTURAL

Chagall no CCBB Rio

08/mar

 

 

O Centro Cultural Banco do Brasil, Centro, Rio de Janeiro, RJ, exibe “Marc Chagall: Sonho de amor”. A exposição apresenta a trajetória de vida e obra do pintor Marc Chagall (1887-1985), que marcou as artes no século XX com a criação de um universo único, pautado pelo lirismo e pelo uso revolucionário de formas e cores. São mais de 180 obras, produzidas entre 1922 e 1981, através de pinturas, aquarelas e gravuras que abrangem seus temas mais caros: a infância e a tradição russa, o sagrado e suas representações, o amor e o mundo encantado nas ilustrações das Fábulas de La Fontaine. As obras são provenientes de coleções do exterior e de acervos museológicos brasileiros. A curadoria é de Dolores Duràn Ucar.

Até 06 de junho.

Primeira individual em São Paulo

07/mar

 

 

Primeira individual em São Paulo

 

A Galeria BASE, Jardim Paulista, SP, abre sua agenda com a primeira individual, em circuito cultural, do artista plástico Guilherme Almeida – “Este sorriso que em mim emana”, com 35 trabalhos que incluem um recorte da série “Destruição dos Mercados I”, com pinturas sobre jornal; “Destruição dos Mercados II e III”, com pinturas sobre tela, todos criados no período entre 2021 e 2022. A exceção fica por conta de “Calouros”, pintura de 2018, que abre a exposição. A curadoria é de Paulo Azeco e a coordenação artística de Daniel Maranhão.

 

“Este sorriso que em mim emana”, trecho de um poema de Carolina Maria de Jesus que nomeia a exposição, não surge de forma aleatória uma vez que o ‘sorriso’ ao qual se refere a autora sempre inspirou o artista: “Carolina é tudo que é meu trabalho. Ele é sobre isso, é o sorriso da vitória, aquele reflete e inspira as pessoas, aquele que tenta apagar mas um dia ele volta a ascender”. Suas pesquisas, que possuem como foco central sua experiência pessoal, oferecem o sorriso negro como uma arma contra os preconceitos pré-existentes arraigados na vivência diária dos povos. “Este Sorriso que Em Mim Emana”, é uma luz, é algo para falar sobre nós, nossa geração, a geração passada, conquistas e aprendizados”, explica o artista.

Segundo Paulo Azeco, “a exposição apresenta um paralelo interessante entre o caráter biográfico dos trabalhos e a representação de pessoas negras bastante conhecidas, vencedoras. A primeira obra da mostra, e única anterior a série, ajuda a compreender a prática do artista ao se valer da sua vivência para a criação do vocabulário estético. Apresenta jovens, assim como ele, transbordando alegria por entrarem na universidade pública.”

A série “Destruição de Mercados”, cuja pesquisa teve início em 2019, retrata diversas personalidades – Maju Coutinho, Emicida, Elza Soares, Mano Brown, Baco Exu do Blues, Basquiat, Dona Onete, Nath Finanças, Carolina Maria de Jesus, Daiane dos Santos, Viola Davis, dentre outros – que atingiram o sucesso em suas áreas de atuação e, com a sensibilidade de Guilherme Almeida, são retratados com “sorrisos” preenchidos com ouro e prata. Em “Destruição de Mercados I”, “a série de retratos sobre jornal, a maior e principal pintura é um retrato orgulhoso de sua família, ecoando gratidão. Todos os outros são figuras que o artista considera como inspiração, os que representam que é possível sim um negro ser vitorioso e bem-sucedido em todas as áreas” aponta o curador.

Sobre o processo de criação da série, em uma primeira etapa, as pinturas são executadas sobre jornal e nas subsequentes o artista retorna às telas, suporte utilizado anteriormente quando seu tema ainda era ligado ao abstracionismo. Quando abstrato, Guilherme era ligado às formas e cores. A pintura nunca é única. As tintas lançadas sobre o suporte escolhido são em várias camadas, tinta sobreposta a tinta, cor sobreposta a cor. O artista trabalha com contrastes tanto na escolha das cores como nos materiais escolhidos: “a cor mais clara brigando com a mais escura; do suporte barato com a tinta mais valorizada e assim vou construindo”, explica.

Guilherme Almeida é um artista que se sustenta de apontamentos advindos de sua própria visualidade do mundo e das pessoas que o habitam. Suas lembranças pessoais e alguns registros fotográficos como apoio são a base de suas criações. Não há rascunho. Algumas palavras são colocadas no papel para conduzir o tema e ele começa a pintar. O processo é ágil, rápido, com mais frescor, onde o tema é lapidado através da repetição onde nascem as séries. A pintura nunca é única.

O fazer arte para Guilherme Almeida possui metas e direcionamentos. Posicionar-se antecipadamente em relação a mensagem que seu trabalho vai transmitir é de suma importância. Ele tem plena consciência de que, mesmo não sendo um posicionamento novo, é diferente do que é esperado de um artista negro nas artes visuais: “eu quero falar das nossas vidas, coisas boas e ruins, mas de uma forma que traga o meu igual para revigorar, que levante a cabeça, que destrua as amarras’.

“A Arte Contemporânea muda conforme seu tempo. Hoje o que está em voga (e as vezes fazem parecer que é até moda) é falar sobre as minorias, questões raciais, de gênero e sociais, como diria no melhor dialeto, “tá na boca do povo”. O que eu estou fazendo, simplesmente, é falar sobre mim, falar do que faço parte. Meu trabalho é verdade. Não sei se servirá para sempre para a Arte…” Guilherme Almeida

“Guilherme entendeu desde sempre, na sua família, que apesar da forma modesta que eles viviam, é possível sonhar e é possível ser feliz. E essa exposição transborda sorrisos e vitórias mesmo quando se chocam com feridas escravocratas ainda abertas. O conjunto aqui apresentado é de força criativa e estética únicos, mas acima de tudo é um ato revolucionário.” Paulo Azeco

 
Poeta, por que choras?

Que triste melancolia.

É que minh’alma ignora

O esplendor da alegria.

Este sorriso que em mim emana,

A minha própria alma engana

Carolina Maria de Jesus

 

Sobre o  artista

 

Guilherme Almeida nasceu em Salvador, BA, 2000, cidade onde vive e trabalha. Graduado em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), conduz sua produção em narrativas que evidenciam a composição do corpo negro no contexto contemporâneo. Morador do bairro Uruguay, periferia de Salvador, sua produção recente é influenciada pela vida urbana e pela cultura POP, em especial o hip-hop. Desenvolve pinturas e trabalhos tridimensionais em suportes não convencionais como jornal, Eucatex e outros refugos. Seu discurso urgente e firmado, no cotidiano, produz imagens nas quais o corpo está repleto de poder e autonomia. Desde 2017 já participou de várias mostras coletivas e intervenções artísticas no Brasil e no exterior.

 

De 15 de março a 23 de abril.

 

Livro de Fernando Limberger

 

A palavra do artista

 

 

Agradeço ao Museu da Cidade SP, através de Marcus Cartum, Henrique Siqueira, Monica Caldiron e Gabriela Rios, à Automática Produtora, através de Luiza Mello, Marisa S. Mello e Mariana Schincariol de Mello, pela produção do catálogo da exposição RELICTO, realizada no Beco do Pinto e Casa da Imagem, em 2020 e 2021. Agradeço, também, ao Everton Ballardin pelas imagens, e aos Guilerme Wisnik, Ricardo José Francischetti Garcia e Marcelo Zocchio pelos textos, e, ainda, à Monique Shenkels pelo projeto gráfico. Estou muito feliz com a publicação. Lembro que o jardim Retomada permanece no quintal da Casa da Imagem até 2025. Venham observar o desenvolvimento das plantas sentados no banco especialmente criado por marcenaria quiari.

Livro

 

Apresentando ensaios de Guilherme Wisnik, Ricardo José Francischetti Garcia, Marcelo Zocchio e Everton Ballardin, o livro “Relicto” apresenta em textos e imagens a exposição homônima de Fernando Limberger realizada entre 2020 e 2021 na Casa da Imagem e no Beco do Pinto, São Paulo. Em um exercício arqueológico que proporciona o encontro do espectador com “relictos”, elementos remanescentes que resistiram a um processo de transformação ambiental, o artista tensiona a relação entre o crescimento urbano e o apagamento da história da cidade, destacando na paisagem vestígios que testemunham a permanência de um tempo anterior à configuração urbana atual de São Paulo. Conheça esse projeto e passeie pelas instalações “Cinzas”, “Verde Infinito” e “Retomada”, a partir desta publicação de distribuição gratuita editada pela Automatica.

Jorge Macchi na Luisa Strina

24/fev

 

 

Reunindo um conjunto de obras de Jorge Macchi, artista argentino, “A estatura da liberdade” fica em cartaz até 19 de março na Galeria Luisa Strina, São Paulo e busca uma experiência que subverta a lógica cotidiana e vá além do palavrório conceitual.

Sem direção definida e objetivo claro, uma pequena mala sobre rodas percorre sozinha a galeria. Colidindo com obras, paredes e visitantes, altera seu rumo a cada obstáculo – como um protozoário, que diante de um estímulo reage de forma primária, afastando-se ou aproximando-se. Trata-se de La estrategia de la ameba (A estratégia da ameba, em tradução livre), de Jorge Macchi. Para o artista argentino, a instalação permite, de forma grotesca e bem-humorada, que a aparente diversidade das peças expostas seja “ridiculamente homogeneizada” na mostra A estatura da liberdade, que entrou em cartaz no último dia 9 de fevereiro na Galeria Luisa Strina em São Paulo.

Os trabalhos, feitos em diferentes materiais e com características distintas, parecem reunidos como em um livro de contos, em que cada obra é independente. A maleta automatizada se apresenta como um “objeto voraz e obstinado, que circula criando relações sempre novas entre as peças”, aponta Macchi. Assim, ela corrobora com a intenção primeira do artista: “Que se perceba um rio subterrâneo que perpassa todos os objetos”, conectando-os de alguma forma.

Porém, talvez não seja possível dar nome a esse rio, colocar essa suposta unidade em palavras. “Geralmente, acham que um artista tem que explicar o seu trabalho, mas estamos falando em outra linguagem: a visual. Não é possível traduzir”, explica o argentino. Tal qual La estrategia de la ameba, percorremos a exposição, criando possíveis relações entre as obras e tentando compreendê-las a partir de sua linguagem primeira, ao invés de defini-las numa tentativa de tradução. “Os statements [essas descrições explicativas], tortura a que somos submetidos diariamente em todo o mundo, são tentativas inúteis de simplificar ao extremo a criação artística para torná-la mais acessível. Acho que são pílulas anti-ansiedade que acalmam o espectador, mas roubam a complexidade do evento artístico”, desabafa Macchi; e complementa: “Diante disso, digo que não há como determinar e delimitar a poética. Pode-se sentir que há algo, mesmo que não se possa colocar em palavras. Meu desejo é que o conjunto de obras que compõem esta exposição nos permita perceber aquele fio ou aquele rio que aparentemente não está ali”.

A estatu(r)a da liberdade

Caminhando pela galeria, nos deparamos com diversos objetos que podem aludir à realidade, mas que de alguma forma a alteram. A série Confésion (Confissão, em tradução livre) traz duas caixas de papelão, que antes armazenavam smart TVs e agora estão vazias, cujas superfícies apresentam padrões de cruz que remetem aos confessionários religiosos. Em Debajo de la mesa (Debaixo da mesa), seis mesas de madeira são conectadas por seus pés, criando um espaço central vazio – consequentemente, o título passa a se referir a uma posição que não existe, já que não há mais “debaixo da mesa”, mas sim o centro de um objeto escultórico. Todas las palabras del mundo (Todas as palavras do mundo) é uma parede sem tijolos, em que só resta o cimento que os mantinha unidos, e cuja forma remete ao formato de um teclado de computador.

Apesar da preferência de Jorge Macchi por não estabelecer uma relação rígida entre o título e a mostra, há nessas alterações do real uma relação. Como ele próprio destaca em entrevista à arte!brasileiros: “Há algo na criação deste título que me interessa: como a adição de uma única letra transforma um objeto (A Estátua da Liberdade) em um conceito (a estatura da liberdade). As obras partem da premissa de introduzir mudanças muito pequenas na realidade e, assim, perturbar a forma como a percebemos ou entendemos”. O artista também acredita que o título possa ser visto como uma referência distante a O Fantasma da Liberdade, do diretor de cinema Luis Buñuel. “O filme é uma sucessão de situações aparentemente independentes, caprichosamente ligadas por um personagem ou uma situação, e cujo resultado é um violento ataque à lógica cotidiana.”

Seguindo essa proposta, diversas das obras parecem suscitar as ideias de presença e ausência, permanência e efemeridade. Se na série Presente estruturas feitas de haste de aço reproduzem as dobras de um papel que em algum momento embrulhou uma caixa – que está ausente -, Acorde nos remete simultaneamente à permanência e a efemeridade, ao que reproduz um teclado de piano em que uma sequência de teclas pressionadas congelam o momento de execução de um acorde de sol menor, “cujo som já se desvaneceu, ou cujo som permanece e, justamente sua permanência o torna inaudível”, conforme explica o texto de apresentação da galeria.

No corredor ao fundo da galeria encontramos ainda uma série de aquarelas. Segundo Macchi, elas são o começo da criação artística. “Se uma imagem surge através de uma experiência urbana, ou de um simples desenho, ou de uma memória, a primeira coisa que penso é como ela pode se materializar.” As pinturas são a atitude mais imediata, a ideia diretamente transposta para o papel. Ao que o artista busca uma forma de melhor comunicar essas imagens e extrair suas maiores riquezas, muitas acabam por gerar outra peça, em um suporte diverso. “Se me prendesse a uma técnica ou a um material, deixaria de lado essa premissa”. Isso agrega certa heterogeneidade não só a essa exposição, mas a seu corpo de obras como um todo. “Em geral, não gosto de reconhecer um artista vendo apenas uma obra. Sou contra a ideia de estilo”, conclui Macchi.

 

Fonte: Giulia Garcia para Arte Brasileiros!

Novo artista representado

 

 

A Simões de Assis, Curitiba, PR e São Paulo, SP,  anuncia a representação do artista Thiago Rocha Pitta.

Nascido em Tiradentes, MG, em 1980, Pitta iniciou sua produção artística nos anos 2000, depois de mudar-se para o Rio de Janeiro e frequentar cursos de Arte, Filosofia e Estética na UFRJ e na EAV Parque Lage. Sua pesquisa se ancora, desde então, em relações narrativas, visuais e materiais que estabelece intimamente com a natureza – que é, de fato, uma espécie de coautora em suas obras. Seu corpo de trabalho é absolutamente diversificado, materializado em vídeos, fotografias, instalações, aquarelas e afrescos. Profundamente fascinado pelas sutis transformações do mundo ao seu redor, o artista mergulha na investigação de elementos pequenos e banais do mundo natural, assim como também examina detalhadamente os campos expandidos da Astronomia, Biologia e Geologia.

Thiago Rocha Pitta recebeu o Prêmio “Marcantonio Vilaça” em 2005 e o Prêmio “Open Your Mind” na Suíça, em 2009. Em 2014, participou do programa de residência artística Circulating AiR, na Noruega. Realizou individuais no Arts Initiative Tokyo (2008); no Andersen’s Contemporary, Copenhagen; na Galeria Marianne Boesky (Nova York, em 2017, e Aspen, em 2019); e no MAM Rio de Janeiro, entre outras. Participou de notáveis exposições coletivas onde destacam-se “J’en Rêve”, na Fondation Cartier pour L’art Contemporain, Paris (2005); “A Time Frame”, no MoMa-PS1, Nova York (2006); Galería Fundación/Colección Jumex na Cidade do México (2009) e na 30ª Bienal de São Paulo. Possui obras em diversas coleções particulares e públicas como MoMA, Colección Jumex, MAM São Paulo, MAM Rio de Janeiro, Inhotim e Hara Museum.

 

 

 

 

Volpi popular no MASP

23/fev

 

 

“Volpi popular” é a terceira de uma série de exposições que o MASP, Paulista, São Paulo, SP, organiza em torno de artistas modernistas brasileiros canônicos do século 20 que empregam referências populares ou vernaculares em seus trabalhos. Em 2016, o MASP organizou “Portinari popular” e, em 2019, “Tarsila popular”.

Alfredo Volpi nasceu em Luca, Itália, 1896 e faleceu em São Paulo, Brasil, 1988, é um artista central da arte brasileira do século 20 e sua pintura é caracterizada por um repertório único de experiências e influências que mesclam tradições modernas e populares, incluindo interesses como: o trabalho artesanal, as festas populares, os temas religiosos e as fachadas da arquitetura colonial e vernacular brasileira.

De família de origem trabalhadora, o artista migrou ainda criança para São Paulo e sua produção inicial era voltada para paisagens urbanas e rurais, distantes do estilo que marcaria sua obra. Na década de 1950, Volpi começou a sintetizar suas composições, tornando sua figuração cada vez mais geometrizada, com padrões, formas e temas recorrentes – como suas famosas bandeirinhas, mastros, faixas, fachadas e ogivas – que desenvolveu até o final de sua carreira.

Assim, a sua obra passou a ganhar as características formais que tanto o tornaram conhecido, com a sua pintura de espaços planificados, com campos cromáticos bem definidos, mas com contornos irregulares, marcados pelo uso sensível e sutil da cor, e pela textura áspera da sua têmpera.

Nesse sentido, a mostra de caráter panorâmico abrangerá diversos períodos da carreira do artista e contará com cerca de 100 pinturas. A exposição foi organizada em torno do contínuo interesse de Volpi pelos temas do imaginário popular brasileiro e estruturada em seções temáticas, como paisagens do campo e do mar; fachadas; bandeiras e mastros; representações religiosas; festas populares; e retratos.

Acompanhando a mostra, será publicado o mais amplo catálogo sobre o artista num único volume, com ilustrações de todas as obras exibidas e mais. O livro conta com textos escritos especialmente para a ocasião por Adele Nelson, Antonio Brasil Jr., Aracy Amaral, Kaira Cabañas, Nathaniel Wolfson, Sônia Salzstein e Tomás Toledo, uma nota biográfica escrita por Matheus de Andrade, e duas entrevistas históricas com o artista feitas por Mario Pedrosa e Walmir Ayala. A publicação em capa dura conta com design de Paulo Tinoco, do Estúdio Campo, duas edições separadas na língua portuguesa e inglesa, e distribuição internacional por meio de Karen Marta Editorial Consultant e Distributed Art Publishers, nos Estados Unidos.

A curadoria é de Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP e Tomás Toledo, curador-chefe, MASP.

Até 05 de junho.

Cores e formas de Abdias Nascimento

 

Artista, intelectual, ativista político, pintor, dramaturgo, ator, escritor e diretor, Abdias Nascimento (1914 – 2011), foi uma figura multifacetada e fundamental da história do Brasil e estará com mostra monográfica no MASP, Paulista, São Paulo, SP. Intitulada “Abdias Nascimento: um artista panamefricano”, trata-se de uma exposição fundamental em torno de sua produção artística e enfatiza sua contribuição para a pintura brasileira. A mostra reunirá cerca de 60 trabalhos de sua fase mais profícua – desde o início de sua produção em 1968 até o ano de 1998 – e enfatizará o repertório de ideias, cores e formas do movimento pan-africanista, com noções, fontes e imaginário latino-amefricano – como cunhou Lélia Gonzalez (1935 – 1994) para se referir à experiência negra na América Latina.

Em 1968, ano que marca o início de sua produção de pinturas e sua mudança para os Estados Unidos, Nascimento já era nome laureado no Brasil, tendo participado da formação da Frente Negra Brasileira, movimento e depois partido político da década de 1930; da fundação do Teatro Experimental do Negro, o TEN, uma das mais radicais experiências de dramaturgia do país, nos anos de 1940; realizado o concurso “Cristo de Cor”, com a participação de artistas diversos, como Djanira, para a representação de um Jesus negro, em 1955; e idealizado o Museu de Arte Negra, na década de 1960, cujo acervo é referência nos debates sobre museus e comunidades.

Seus trabalhos de artes visuais foram mais celebrados em solo estadunidense, onde realizou exposições no conceituado Studio Musem Harlem, em Nova York, no Fine Arts Museum, em Syracuse, e na Crypt Gallery (da Universidade de Columbia). No Brasil sua faceta artista ainda precisa ser afirmada – esta é também uma das razões para esta mostra e o catálogo que a acompanha.

A curadoria é de Amanda Carneiro, curadora assistente, MASP e Tomás Toledo, curador-chefe, MASP.

 

Até 05 de junho.

 

Raio-que-o-parta: ficções do moderno no Brasil

 

 

A exposição reflete sobre a noção de “arte moderna” no Brasil para além da década de 1920 e do protagonismo muitas vezes atribuído pela história da arte a São Paulo. Para tal, são reunidas obras de um arco temporal que vai do final do século XIX a meados do século XX, além da essencial presença de artistas que desenvolveram suas pesquisas em diversos estados brasileiros.

O título da exposição é inspirado em antigas casas de Belém do Pará, com fachadas elaboradas pela justaposição de azulejos quebrados, formando desenhos geométricos angulados e coloridos. Conhecido como “raio que o parta”, este estilo arquitetônico foi influenciado pelo modernismo nas artes plásticas, em uma busca por superação dos modelos neocolonial e eclético, vistos pela elite paraense como ultrapassados. O modismo deste novo estilo não se restringiu às elites locais, sendo logo apropriado por outras camadas da sociedade, que popularizaram a nova arquitetura pelos bairros de Belém do Pará, a partir da década de 1950.

Ao articular a noção de modernidade com o território brasileiro, a exposição “Raio-que-o-parta: ficções do moderno no Brasil” pretende repensar a centralidade desse evento que ficou marcado na escrita da história da arte no país, a partir de uma ampliação não apenas cronológica, mas também geográfica. Trata-se de um projeto que visa dar prosseguimento ao reconhecimento da importância do movimento modernista de São Paulo e, ao mesmo tempo, mostrar ao público que arte moderna já era discutida por muitos artistas, intelectuais e instituições de Norte a Sul do país, desde o final do século XIX, perdurando esse debate até o final da primeira metade do século XX.

A intenção da exposição é dar atenção aos diversos tipos de linguagens e formas de criar e compartilhar imagens nesse período. Para além das linguagens das belas-artes (desenho, pintura, escultura e arquitetura), o projeto traz exemplos importantes de fotografia, do cinema, das revistas ilustradas e de documentação de ações efêmeras, essenciais para ampliar a compreensão das muitas modernidades presentes no Brasil. O projeto surge a partir do trabalho de sete pesquisadores, dedicados a diferentes regiões do país, que têm larga experiência em discussões a respeito da arte moderna na interseção entre o local e o nacional. A partir dessas pesquisas, suas múltiplas vozes e interesses, a exposição será dividida em núcleos baseados em tópicos constantes a esse período histórico no Brasil, os quais serão apresentados ao público de forma didática. A intenção é levar ao público a certeza de que a noção de Arte Moderna, no Brasil, é tão diversa quanto as múltiplas culturas, sotaques e narrativas que compõem um país de dimensão continental.

A mostra integra o projeto Diversos 22, do Sesc São Paulo, que celebra o centenário da Semana de Arte Moderna e o bicentenário da Independência, refletindo criticamente sobre as diversas narrativas de construção e projeção de um Brasil, e traz cerca de 600 obras de 200 artistas, como Lídia Baís, Mestre Zumba, Genaro de Carvalho, Anita Malfatti, Tomie Ohtake, Raimundo Cela, Pagu, Alberto da Veiga Guignard, Rubem Valentim, Tarsila do Amaral, Mestre Vitalino, dentre outros.

Curadores: Aldrin Figueiredo, Clarissa Diniz, Divino Sobral, Marcelo Campos, Paula Ramos e Raphael Fonseca, curadoria-geral de Raphael Fonseca tendo como curadores-assistentes, Breno de Faria, Ludimilla Fonseca e Renato Menezes. Consultoria de Fernanda Pitta.

Curadoria de Artur Lescher

17/fev

Bernardo - Glogowski - Sublime Ordinário

A mostra intitulada “Sublime Ordinário” na CASANOVA, Jardim Paulista, São Paulo, SP, é uma coletiva proposta por Artur Lescher que reúne obras de 10 artistas que buscam o extraordinário em objetos e materiais comuns. Tecidos desfiados se tornam padrões geométricos, rebocos e retalhos de parede são expostos, livros se tornam motivos principais do debate artístico entre outros materiais familiares que são adequados de forma não natural à sua origem.

“Um aspecto importante da seleção dos trabalhos é que os artistas buscam a via de subtração. Eles retiram a matéria ao modo de um escultor, sublimando o que é comum”, menciona Lescher sobre sua curadoria. A exposição permanecerá em cartaz até o dia 19 de março, ocupando os dois andares da galeria.

Os artistas participantes são representados tanto pelas galerias integrantes do Espaço C.A.M.A. assim como artistas convidados pelo curador. São eles, Cao Guimarães, Bernardo Glogowski, Fábia Schnoor, Fernando Laszlo, Ignacio Gatica, Lucas Dupin, Manoela Medeiros, Marina Weffort, Martin Derner e Sofia Caesar.

 

Mestre Didi na Simões de Assis, SP

16/fev

 

 

A Simões de Assis apresenta, em parceria com Graham Steele, a individual “Mestre Didi: Panteão da Terra”, em seu espaço em São Paulo.

Mestre Didi, emergência mítica – olhar universal
Didi é um sacerdote-artista.
Expressa, através de criações estéticas, arraigada intimidade com seu universo existencial onde ancestralidade e visão de mundo africanas se fundem com sua experiência de vida baiana. Tradição e contemporaneidade, civilizações replantadas e recriadas. “Evoluir sem perder a essência”, nas suas próprias palavras. Completamente integrado com o universo nagô de origem iorubana, revela em sua obra sua inspiração mítica, formal, material. A linguagem nagô com a qual se expressa é um discurso sobre a experiência do sagrado.
Mestre Didi absorveu o significado das múltiplas relações do homem com seu meio ético, social e cósmico, assimilando esses valores e modos desde sua infância. Iniciado aos 8 anos de idade, conviveu com grandes mestres africanos e desenvolveu sua vida iniciática e gosto estético em bem-estruturadas comunidades nagôs.
Suas obras carregam a experiência, o hálito, a respiração dos mais antigos aos mais novos, de geração em geração. Condensando sua história pessoal e sua capacidade de transcender.
Didi veicula intencionalmente, para além de sua própria vida, a energia mítica de sua trajetória iniciática, inscrevendo-se na vertente mitológica das artes, projetando uma energia poética de caráter universal.
Esse aspecto de incorporar iniciaticamente, de transcender gerações e de expandi-las é fundamental para a compreensão da capacidade de retextualização dinâmica de seu fazer estético afro-brasileiro.
Suas obras têm o poder de tornar presente a linguagem abstrato-conceitual e emocional elaborada desde as origens pelos seus antecessores. Elas têm o poder de tornar presente os fatos passados, de restaurar e renovar a vida. Através de suas atividades e obras, Didi contribui para reconduzir e recriar todo o sistema cognitivo emocional comunitário, em relação tanto ao cosmos quanto à realidade humana.
Suas obras se inscrevem na vertente mitológica das artes, projetam uma energia poética de caráter universal. Extrapolam o tempo. Didi redimensiona sua existência de homem indivíduo inserindo-se na corrente da ancestralidade, nos constantes renascimentos perpetuados e cultuados no Panteão da Terra, lama genitora, terra molhada, fecundada.
Didi, o Assogba, sumo sacerdote do Panteon da Terra, executa objetos rituais desde sua infância e adolescência. O discurso manifesto de suas obras, constituído de formas, cores e matérias, transporta, latente, o eidos – o conhecimento vivido, a emoção, a afetividade, as elaborações profundas passadas e presentes, o conjunto de teofanias evocadas, restituindo e renovando criativamente os princípios e a linguagem de sua tradição.
Em um movimento de recriação simbólica, Didi transporta materiais e técnicas tradicionais para uma arte contemporânea, traduzindo um conhecimento mítico e universal do qual é herdeiro. Por isso seu trabalho é autêntico no sentido emocional, moral e visual, proporcionando uma profunda coerência formal a suas criações. O trabalho de Didi é tradicional e novo.
Discorrer sobre Didi e sua criatividade estética implica discorrer sobre a arte afro-brasileira, implica abrir um leque epistemológico sobre a tradição, o religare, a visão de mundo da qual ele emerge e faz parte indissoluvelmente. Sua trajetória e criação estética emergem e recompõem, na continuidade e na descontinuidade do Brasil, o conhecimento, o pensamento e as subjacências emocionais dos princípios inaugurais reelaborados desde épocas remotas; antes de serem formas de arte, são criações que se encarregam de significar as múltiplas relações do homem com seu meio cósmico, social e ético. O conjunto de atividades e produções de Mestre Didi contribuem para expressar e transmitir o conhecimento universal cósmico, teológico e tecnológico dos afro-brasileiros.
Discorrer sobre sua obra diz respeito não apenas ao sacerdote-artista Didi, mas implica visibilizar e discorrer sobre a cultura afro-brasileira que se manifesta e magnifica através de sua criatividade; significa abrir um leque de conhecimentos sobre a tradição, o religare, a espiritualidade, a visão de mundo, a capacidade de um povo de expressar sua origem e seu enorme potencial de diálogo; diálogo que compõe e contribui para a complexa pluralidade cultural brasileira.
Conscientizar a trajetória de Mestre Didi, Deoscoredes Maximiliano dos Santos, intelectual, sacerdote, transmissor cultural, recriador lúcido de uma arte mítica de estética contemporânea, Doutor Honoris Causa, entre inúmeros títulos e condecorações. Um afro-brasileiro de olhar universal.
As manifestações estéticas magnificando o sagrado permeiam a tradição afro-brasileira. As criações de Deoscoredes Maximiliano dos Santos, emergentes desse universo, enriquecem e singularizam o patrimônio nacional.
Juana Elbein dos Santos
1992 – Texto originalmente publicado no catálogo da exposição “O Alapini-Escultor da Ancestralidade Afro-Brasileira” em 2013 no Museu Afro Brasil, São Paulo, SP.

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