Ancestralidade e afrofuturismo

29/mai

A Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, inaugura no próximo dia 02 de junho a exposição “Àwón Ìrun Ìmólè” (*), do artista visual Wuelyton Ferreiro. A curadoria é de Marco Antonio Teobaldo exibindo um acervo de esculturas (totalizando 20 obras em metal) que se dirigem à cultura afro-brasileira com representações da mitologia dos deuses africanos. O artista elabora, no limiar entre a arte sacra e arte contemporânea, um repertório autoral através de soluções com formas inusitadas.

 

Mesmo assim, Wuelyton Ferreiro trabalha a partir de um conhecimento tradicional apreendido no trato diário dos cultos das religiões de matriz africana, cujos ensinamentos não são revelados em sua totalidade aos não iniciados, mas que possuem papel fundamental para a manutenção da identidade afro-brasileira. Por meio de seus trabalhos as leituras possíveis tornam-se amplas e enigmáticas, nas quais figuras humanóides – de traços finos – lembram por vezes, os personagens encontrados nas obras de Giacometti. O arranjo e configuração do ferro torcido remetem a um ou mais orixás, adornados com elementos que os caracterizam. Talvez seja nesta habilidade imaginativa que o difere dos demais trabalhos encontrados no âmbito da arte com sentido religioso.

 

A concepção de suas obras traz uma linguagem única e autoral, onde a fluidez da representação proporciona uma atração aos olhos do observador. Segundo o curador da exposição, Marco Antonio Teobaldo, para compreender o trabalho de Wuelyton Ferreiro “…não é necessário ser um iniciado nas religiões de matriz africana ou estudioso do tema, pois a delicadeza apresentada é, acima de tudo, uma ode à cultura negra, que bravamente resiste desde o tempo colonial escravocrata”. A exposição enaltece a bravura e resistência da cultura negra. Em tempos de tanta intolerância religiosa contra as religiões de matriz africana, esta mostra chega como mais um ato de resistência. A arte se aporta como um alicerce para a manutenção da identidade afro-brasileira. 

 

 

(*) Àwón Ìrun Ìmólè (iorubá) Todos os orixás (primários) de uma classe do Orun, responsáveis pela criação do mundo

 

 

 

De 05 de junho a 04 de agosto.

Projeto de Elizabeth de Portzamparc

28/mai

No próximo dia 02 de junho, estará aberto ao público o “Musée de la Romanité”, em Nîmes, na França, projetado pela arquiteta e urbanista brasileira Elizabeth de Portzamparc, vencedora em 2012 do concurso internacional promovido pela Prefeitura da cidade.  Com área de 9.100 m², o Museu vai abrigar raras coleções arqueológicas, até então guardadas em diferentes reservas técnicas da cidade. Agora, o público poderá apreciar esses tesouros que cobrem um arco de 25 séculos, em três grandes períodos: gaulês (pré-romano), romano e medieval. O Museu abrigará um tesouro arqueológico de 25 mil peças, que cobrem o período gaulês, romano e medieval. A museografia interativa, também projetada pela arquiteta, possibilita um fascinante percurso por 25 séculos de história.

 

 

Elizabeth de Portzamparc, radicada na França desde 1969, desenvolveu também a museografia, que permite uma fascinante viagem pelo tempo a partir de aproximadamente cinco mil peças, distribuídas em um percurso cronológico e temático que abrange desde o século 7 a.C até a Idade Média, e o legado romano no século 19. As coleções ricas e variadas compreendem mil inscrições latinas, 200 fragmentos arquitetônicos, 65 mosaicos, 300 elementos esculpidos (baixos-relevos e esculturas tridimensionais), 800 objetos em vidro, 450 lanternas a óleo, 389 objetos manufaturados (em osso e marfim), centenas de cerâmicas, objetos em bronze, 12.500 moedas antigas e medievais, e 15 painéis de pinturas murais romanas restauradas.

 

 

 

Tecnologias inovadoras

 

 

Uma série de suportes de reconstituição digital acompanha os visitantes ao longo do percurso, ajudando-os a imaginar o aspecto original dos edifícios antigos, e a vida cotidiana dos habitantes. Caixas brancas luminosas, chamadas “caixas do saber”, abrem as três seções cronológicas do percurso. Esse método criado por Elizabeth de Portzamparc serve de introdução às diferentes sequências: mapas, linhas do tempo e telas apresentam e contextualizam o período apresentado. Diversos dispositivos multimídia são distribuídos ao longo do percurso: visitas virtuais, animações gráficas (desenhos animados e motion design) e mapas permitem uma melhor apreensão do contexto das coleções. Os dispositivos de realidade aumentada, os panorâmicos interativos a 180° ou ainda a parede interativa de imagens são feitos para projetar os visitantes no passado e fazê-los descobrir a vida dos homens da Antiguidade, a evolução de suas habilidades e as obras-primas que eles produziram.  Crianças e adultos vão ainda se maravilhar com a casa gaulesa, pré-romana, construída em pedra e madeira. Distribuídos no chão, estarão peças e utensílios verdadeiros, que remontam a séculos a.C. A arquitetura interior e elementos da mobília também têm a assinatura de Elizabeth de Portzamparc, resultando em um projeto de grande coerência.

 

 

 

 

Nîmes e a Herança Romana

 

 

Em Nîmes estão famosas construções romanas, do período de Augusto, no século 1 de nossa era. O “Musée de la Romanité” está construído no centro histórico da cidade, em frente às Arenas romanas, um pequeno Coliseu, onde são realizadas touradas, nos dias de hoje.  Para criar um diálogo com esta forte presença romana, Elizabeth de Portzamparc projetou para o Museu belas fachadas, compostas por uma estrutura de aproximadamente 7 mil lâminas de vidro serigrafadas, que cobrem uma superfície de 2.500 m², e são capazes de refletir o entorno, criando um diálogo com a cidade ao refletir as cores, a luz e a vida ao redor. Por conta de seus ângulos, inclinações e relevos, dão ideia de movimento, de acordo com a variação da luz ao longo do dia e das estações do ano.  As fachadas conjugam a transparência moderna e a tradição de uma arte romana de grande importância: o mosaico, evocando, graciosamente, esses elementos fundamentais das coleções do Museu.

 

 

 

O terraço e o Jardim Arqueológico

 

 

O terraço não estava previsto no programa do concurso, mas foi criado por Elizabeth de Portzamparc como ponto culminante do percurso ascendente do museu. Ele finaliza a visita proporcionando um mirante sobre a cidade de Nîmes e seus mais de 20 séculos de história, com as Arenas em primeiro plano, e ao longe a torre Magna, que data da fundação da cidade. No terraço, com colunas e um caminho sinuoso por entre o jardim, está também uma sutil homenagem da arquiteta as suas raízes brasileiras, e à obra de Oscar Niemeyer (1907-2012).

 

 

O “Musée de la Romanité” traz características que são marcantes na trajetória de Elizabeth de Portzamparc, presente em outros projetos como o GED – Grand Equipement Documentaire (Grande Biblioteca) do Campus Condorcet, em Aubervilliers, e a estação de Le Bourget, na Grande Paris.   Suas construções são abertas para a cidade e para seus habitantes, um espaço público acessível a todos e um ponto de encontro. Os locais são pensados como espaços “vitais” dos quais o público se apropria com facilidade: uma arquitetura concebida como suporte para a animação local e qualidade de vida para aqueles que a frequentam.  Uma rua pública atravessa o Museu, e conecta a praça frontal com uma interna, elevada, onde estão vestígios da muralha romana, dentre outros descobertos durante as escavações.  Assim, Elizabeth de Portzamparc, criou um jardim arqueológico, pensado como um “museu vegetal”. Todos os traços da história foram preservados e restaurados, e serão acessíveis gratuitamente a todos os visitantes e transeuntes. Esse espaço vegetal público de 3.500 m² foi projetado pelo arquiteto paisagista Régis Guignard, e se estrutura em três camadas de vegetação que correspondem aos mesmos três grandes períodos da museografia – gaulês, romano e medieval –, enriquecendo o conteúdo científico e trazendo uma grande coerência e harmonia. Para cada nível, árvores, arbustos e plantas vivazes foram escolhidos em função da sua época de introdução, de acordo com as trocas, as influências e ocupações.

 

 

 

 

Um concurso internacional de arquitetos

 

 

Lançado em junho de 2011, o júri do concurso aprovou três dossiês entre as 103 candidaturas recebidas, antes de declarar vencedor, um ano depois, o projeto da agência 2Portzamparc, desenhado por Elizabeth de Portzamparc. “Eu analisei profundamente as Arenas e me questionei sobre a própria noção de edifício contemporâneo e sobre como glorificar os 21 séculos de história da arquitetura que separam esses dois prédios. Uma arquitetura leve, possibilitada pela tecnologia atual, pareceu-me algo evidente, bem como o fato de expressar as diferenças entre essas duas arquiteturas, por meio de um diálogo baseado em sua sinergia: de um lado um volume circular, rodeado pelos arcos verticais romanos de pedra e bem ancorado ao solo, do outro um grande volume quadrado, em levitação e recoberto de uma toga de vidro plissada”, explica. O Museu terá ainda uma livraria, um auditório, um café e o restaurante La table du 2, com sua vista magnífica para as Arenas, com cardápio assinado pelo Chef Franck Putelat, duas estrelas no guia Michelin por seu restaurante Le Parc, em Carcassonne.

Ismaïl Bahri no Brasil

25/mai

Apresentada pela primeira vez no Jeu de Paume, de Paris, exposição “Instrumentos”traz seleção de nove vídeos do artista visual franco-tunisiano Ismaïl Bahri. Tomar o particular para refletir sobre o todo. Voltar-se para uma gotícula de água sobre a pele e chamar atenção para o tempo que nos cerca. Tomá-la como uma ferramenta de auscultação, que revela e amplia a força vital pulsante para, no fim, explicitar o desejo por um ritmo orgânico, avesso à agitação do mundo contemporâneo e da vida nas grandes metrópoles. É este o norte de “Ligne”,obra que sintetiza e abre a exposição que Espaço Cultural Porto Seguro, Campos Elíseos, São Paulo, SP,exibe até 22 de julho.

Assinada por Marie Bertran, curadora independente, e por Marta Gili, diretora do Jeu de Paume, de Paris, a exposição reúne nove videoinstalações do artista visual, a maior parte delas apresentada no centro de arte contemporânea parisiense entre junho e setembro de 2017. Em São Paulo, a mostra – primeira individual do artista na América Latina – conta com a correalização de Expomus Exposições, Museus, Projetos Culturais Ltda.

 

Os vídeos da exposição voltam-se para movimentos e elementos singelos: a veia pulsa, a linha separa, a mão amassa, o vento sopra, o fogo queima. Água, papel e tinta transformam-se de objetos a sujeitos protagonistas. “Na maioria das obras de Ismaïl Bahri, os instrumentos atuam como meio de intersecção entre o mundo físico e o mundo das ideias, liberando sutilmente uma série de hipóteses, cujos vereditos parecem ser indefinidamente adiados”, afirma Marta Gili.

“Valorizo em meu trabalho a busca pela simplicidade. O desafio está em, justamente, arranjar uma maneira de como expor uma questão pessoal para tratar um problema que é de todos”, afirma o artista. Nesta empreitada, Ismaïl dispõe-se a investigar, de modo extenuante, objetos, escalas, ângulos e linguagens. Ao longo dos trabalhos, o artista percorre um caminho crescente: o plano, que no início toma como foco uma gota de não mais que dois, três milímetros, vai se alargando até compreender uma paisagem inteira dentro dos limites da projeção. O mesmo ocorre com o conteúdo, material e mais figurativo em um primeiro momento, fluído e mais abstrato ao final.

 

Para o crítico e curador François Piron, a impermanência está no cerne do trabalho de Ismaïl. “O artista se posiciona como um observador, anda por aí e fala de miopia em relação ao seu trabalho. Ele então configura o que ele chama de dispositivo de captura para esses gestos, geralmente usando vídeo, mas também fotografia e som, sem distinção. É muitas vezes fora do quadro da imagem que o significado emerge, na presença perceptível do mundo circundante, que de repente é revelado”, afirma. “A obra de Ismaïl Bahri tem uma atuação potente e transformadora. Ela opera a partir de elementos muito sutis, mas que em seus trabalhos, passam a ser instrumentos de conexões inesperadas”, afirma Rodrigo Villela, diretor executivo do Espaço Cultural Porto Seguro.

 

 

Sobre o artista

 

Ismaïl Bahri nasceu em 1978, em Túnis, capital da Tunísia. Atualmente, vive e trabalha entre sua cidade natal e as francesas Paris e Lyon. O vídeo ocupa um lugar importante em seu trabalho, embora o artista crie também desenhos, fotografias e instalações. Sua obra volta-se a elementos simples da vida cotidiana, sobre os quais desenvolve processos e atribui questões universais. Participou da 13ª Bienal de Sharjah, nos Emirados Árabes, e expôs em instituições culturais como o Centro de Arte Contemporânea La Criée, em Rennes; no Jeu de Paume, em Paris; Les Églises, em Chelles; e no museu alemão Staatliche Kunsthalle, em Karlsruhe. Seus vídeos já foram exibidos nos festivais internacionais de cinema de Toronto, Nova York, Roterdam e Marselha; e a obra “Filme em branco” fez parte da exposição Levantes, de Georges Didi-Huberman, no Sesc Pinheiros (2017). Seus trabalhos apresentam relações profundas com a obra de artistas como o chileno Alfredo Jaar (com quem dividiu mesa na abertura da Paris Photo em 2017), o albanês Anri Sala, o belga Francis Alÿs ou o brasileiro Jonathas de Andrade, com os quais participou da Bienal de Sarjah (2013).

Palestra sobre Portinari

Luiz Fernando Dannemann, curador da exposição “Portinari – A Construção de uma Obra”, e o artista plástico Sergio Campos, responsável pelas esculturas expostas na mostra, realizam palestra dia 29 de maio, às 18h, na CAIXA Cultural Rio de Janeiro, sobre Cândido Portinari, seu processo criativo e a transformação das obras do artista em esculturas feitas por Campos, bem como técnicas utilizadas. A entrada é gratuita e a inscrição é feita pelo e-mail portinarinacaixa@gmail.com.

 

Exposição inédita, “Portinari – A construção de uma obra”, permanecerá em cartaz até 1º de julho de 2018, na Galeria 4, da CAIXA Cultural Rio de Janeiro, Centro. O projeto tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal. A mostra reúne cerca de 71estudos, pinturas e obras do pintor, muralista e desenhista, que conquistou reconhecimento internacional retratando o cotidiano do país e a desigualdade social, com atualidade surpreendente. Também fazem parte da montagem 18 esculturas criadas pelo artista plástico Sérgio Campos, que reproduzem personagens de importantes obras de Portinari.

 

Na foto, Luiz Fernando Dannemann, João Cândido Portinari e Sérgio Campos na abertura da exposição.

Toz na Caixa Cultural

24/mai

A Caixa Cultural, Centro, Rio, de Janeiro, RJ, apresenta a exposição individual de Toz que obedece ao título geral de “Toz/Cultura Insônia” a partir do dia 29 de maio.

 

Texto crítico por Felipe Moraes

 

Em 2010, Toz conheceu Insonia. Poderíamos dizer que fora criado, mas suas implicações na obra do artista são tão profundas que parecem ultrapassar aquele que o revelou, levando-nos a crer em uma possível existência mitológica a priori dessa criatura, com vontades, ambições e humor próprios.

 

Insonia, que cresceu e aos poucos foi mostrando seu povo e sua cultura. Gradativamente expressando-se na pluralidade de suas aparições, é um personagem análogo ao imaginário de diversas tradições. É possível pensa-lo sob o arquétipo do trickster, uma entidade ambígua e brincalhona, podendo-se encontrar paralelos com Hermes, Mercúrio, o Coringa, e nos contextos brasileiro e africano, como uma deidade tão controversa quanto querida: Exu.

 

Insonia é tanto o malandro da Lapa, Seu Zé Pelintra, quanto o arruaceiro Saci-Pererê. Assim como este, que só se torna visível quando se cai na modorra – estado suspenso entre o sono e a vigília em que é difícil discernir o onírico do plausível – a criatura começou a revelar-se para o artista nas suas noites em claro. Foi nessas fronteiras borradas entre delírio e a linearidade, entre indivíduo e a coletividade que se deram sua existência e seu fenômeno. É uma manifestação dessa mitologia universal no universo particular do artista.

 

Como uma faceta desse arquétipo, é possível pensar a própria figura do grafiteiro. Ao observá-lo pela ótica da história da arte, percebemos esse ator curioso e indefinível que vem das ruas, passa à galeria, elude o cubo branco, retorna ao urbano em uma monumentalidade inédita, não nos revelando seu lugar de (des)pertencimento. Talvez porque não tenha e não queira ter. Sua pertinência está exatamente no esgarçamento dos limites e de sua eterna inadequação.

 

 

O grafiteiro, tal qual Insonia, tal qual Exu, quando acreditamos ser possível compreendê-los, nos eludem e assumem uma nova forma, um novo discurso em uma excêntrica e irreverente pantomina caleidoscópica que distorce nossas noções de linearidade, território e identidade.

 

Até 26 de agosto.

Liliane Dardot em Ondina, Salvador – BA

A premiada artista mineira Liliane Dardot será responsável pela próxima exposição da Roberto Alban Galeria, em Ondina, Salvador – BA.  A partir do dia 06 de junho, ela apresenta a mostra “No Oco das Horas”, na qual investiga, através da pintura, o universo da vegetação do Cerrado, lugar que muito a encanta “…pela resistência, pela capacidade de se desenvolver nas situações mais adversas”.

 

 

A palavra da artista

 

“Nós somos seres da natureza. Assim como as plantas se transformam e se adaptam ao meio, regulam seus ciclos ao clima, buscam a água nas profundezas, se orientam para a luz, encontram as formas mais diversas para se propagar, nós também dependemos de uma sintonia para sobreviver. A vida contemporânea nos afasta de um contato direto com o meio ambiente em todos os seus aspectos. A consciência ecológica é muito importante”,

 

 

Sobre a artista

 

Liliane Dardot nasceu em Belo Horizonte, 1946, cidade onde vive e trabalha. Graduou-se pela EBA UFMG, onde foi professora de desenho (1969/77). Residiu em Olinda, PE (1978/89), tendo participado da criação da Oficina Guaianases de Gravura. Retornando a Minas Gerais, lecionou litografia na Escola Guignard (1990/97). Desde 1968 participa em mostras coletivas e em salões em vários estados brasileiros entre os quais: 1979 Salão Nacional de BH, Figuração Referencial, MAP, BH; 1980 Salão Nacional de BH, MAP, BH; Panorama 80, MAC, SP e 3º Salão Nacional, RJ; 1983 14° Salão Nacional de Arte, MAP, BH; XXVI Salão de Artes (premiação), Centro de Convenções, Recife; 36° Salão Paranaense (premiação), e 23ª Mostra do Desenho Brasileiro (premiação), Curitiba; 1986 Jovem Arte Contemporânea, MAC, SP. Bienais Internacionais: 1980, 1986 e 1996 Ciudad de Mexico; 1981 Cali, Colômbia; 1981 e 1983 San Juan, Porto Rico; 1984 Bradford, Inglaterra e Habana, Cuba; 1990 Berlim, Alemanha. Liliane Dardot, participou recentemente da prestigiosa mostra “Radical Women: Latin American Art”, no Brookling Museum, New York, EUA.

 

 

De 06 de junho a 07 de julho.

Mostra de Gilberto Salvador

23/mai

Entre os dias 30 de maio e 14 de julho, a Emmathomas Galeria, Jardim Paulista, São Paulo, SP, abre suas portas para a primeira exposição individual de 2018: “Duas SpherogrÁfias”, de Gilberto Salvador, com curadoria de Ricardo Resende. A mostra reúne 17 obras elaboradas por meio de técnicas que refletem o pensamento poético do artista, reconhecido pela diversidade de suportes e dimensões em projetos bidimensionais e tridimensionais, que propõem ao público múltiplas interpretações.

 

Inspiradas nos poemas do grande poeta espanhol Federico Garcia Lorca, doze das obras que compõem a exposição são painéis com fragmentos retirados dos poemas do escritor. Com efeitos causados pelo lançamento de esferas cobertas por tinta preta, esse recorte inédito faz um mergulho entre duas linguagens artísticas: o corpo humano e a literatura.

 

 

“O artista de uma obra só.” 

 

São as palavras do próprio artista ao olhar para o que produziu ao longo de mais de 50 anos de carreira. “Criou sem amarras, exercendo coerentemente a liberdade de sonhar, pensar e visualizar movimento, cores e formas. O seu imaginário plástico é inspirado na natureza, nas formas orgânicas que compõem o mundo. O seu processo criativo não muda. Não importa se é na pintura, se é na escultura, se é na gravura. Em todas as linguagens, se dá da mesma maneira. Nem escultor nem pintor. O híbrido é o artista”, conta o curador Ricardo Resende.

 

Nesses mais de 50 anos de trajetória, Gilberto Salvador sempre trabalhou com formas esféricas. Ora apresentadas de forma mística, também revelam certo simbolismo e aspectos lúdicos – temas abordados frequentemente nas obras do artista, que nessa produção utilizou bolas de tênis como instrumento de pintura.

 

Com extenso repertório tridimensional, principalmente no que diz respeitos às obras em espaços públicos, Gilberto Salvador insere uma grande esfera vermelha no centro da galeria. De forma invasora e incômoda, a escultura permite a interação do público – que irá cercá-la para contemplar os seus três metros de diâmetro.

 

Segundo o artista, em “Duas SpherogrÁfias”, a esfera transmite uma visão romântica. “Dividi a exposição por segmentos: no recorte inédito e bidimensional, a esfera é utilizada de forma quase que instrumental; no segundo, o uso da esfera se dá como agente interativo e questionador ao público, representando seu significado da forma mais evidente. Por fim, objetos que rodam na parede mudam as esferas de posição e provocam sons. Essa movimentação cria atividade e passividade, ou seja, a androginia da esfera”, explica.

Fotógrafos brasileiros em Paris

Um Brasil único e personalíssimo clicado por sete artistas brasileiros e um australiano, sob a orientação do fotógrafo internacional Ricardo Esteves. O resultado dessa experiência pode ser visitado em “Meu Brasil”, coletiva com co-curadoria de Anna Priscilla Marques, e vernissage dia 28, às 18h30, na Galerie Espace 7, 11 rue Saint Sabin, Bastille, em Paris.

 

No time de talentos estão Adrian Luke Dimarco, Guilherme Costa Pinto, Igor Gomes, Luís Todeschi, Marco Escada, Maria Elizabeth Broxado, Marlene Reinaldo e Rose Aguiar. Durante o aprendizado com Ricardo Esteves, eles imprimiram novas abordagens sobre suas produções, orientados pelo diálogo com este fotógrafo especializado em clicar grandes personalidades do universo corporativo, e que há dez anos se alterna entre Paris e Londres.

 

Ao longo de seis meses, os oito artistas compartilharam seu desenvolvimento criativo e técnico com Esteves. O processo se diferencia também por ter sido realizado totalmente de maneira remota. O produto desse projeto é a percepção muito pessoal de brasilidade de cada um deles, e que pode ser visitada em “Meu Brasil”.

 

 

Sobre Ricardo Esteves

 

Seu olhar sobre a França influenciaria em definitivo seu estilo de fotografar e, principalmente, suas pesquisas estilísticas e sociais. Em 2006, foi o fotógrafo oficial do Ano do Brasil na França, contratado pelo Gabinete do Comissário ligado ao Ministério da Cultura do Brasil. Entre outras iniciativas, desenvolve esse projeto de acompanhamento, com a proposta de envolver fotógrafos na trajetória contínua de desenvolvimento artístico e promover a visibilidade, reconhecimento e acessibilidade da fotografia brasileira na Europa.

 

De 15 a 31 de maio.

Ivens Machado na Carpintaria

A Carpintaria, espaço da Fortes D’Aloia & Gabriel no Rio de Janeiro, exibe “Ivens Machado: Corpo e construção”, primeira exposição do artista em uma galeria após seu repentino falecimento em 2015. A mostra apresenta seis esculturas realizadas entre 1991 e 2005, um tríptico fotográfico a partir da “Performance com bandagens cirúrgicas”, de 1973, e uma série de fotos com registros inéditos da mesma performance, editado a partir da recuperação de negativos do artista.

 

Ivens Machado utilizava matérias-primas próprias da construção civil como concreto, vergalhões, vidro e madeira, manipulando estes materiais de modo a reorganizar os códigos da escultura convencional. Suas obras articulam tensões sociais e sexuais ao abordarem questões como a violência e a repressão, temáticas que revelaram-se controversas ao longo de sua carreira, especialmente durante o período da ditadura militar. Suas esculturas materializam uma sintaxe clara e objetiva que dá voz às formas em si, deixando que o concreto armado ou estilhaçado, telas aramadas e tijolos quebrados desvelem camadas de significação para além de suas superfícies.

 

Em “Sem título”, obra de 2005, na primeira sala expositiva, o concreto dilata-se em um ângulo superior a 90º, encerrando-se em robustas extremidades cravadas por estilhaços de telha. Parte de uma geração de artistas sucessora ao Neoconcretismo, Machado escolhe trilhar uma trajetória estética paralela ao circuito da arte dos anos 70, marcado pelas discussões políticas e afiliações a grupos e movimentos. A crueza de suas formas revela-se, portanto, como digestão da herança construtivista para uma terceira direção, de forte viés autoral e alta carga provocativa. O excesso e a exuberância de suas formas tecem relações entre corporeidade e construção, carne e cimento.

 

A obra “Sem título” de 2001, que ocupa um dos salões frontais do espaço expositivo, tem forte relação com a escultura pública originalmente produzida pelo artista para o entorno do Largo da Carioca, no Centro do Rio de Janeiro, em 1997. O arco de Ivens evidencia, já em um momento avançado de sua trajetória, a coerência e o rigor formal com que sua obra se desenrola ao longo de mais de quatro décadas. A série de fotografias “Sem título”, – Performance com bandagem cirúrgica – 1973 – 2018, também sublinha a articulação entre o corpo e a escultura. Ao recobrir partes do corpo, as bandagens brancas acentuam suas formas à medida em que recortam em partes o sujeito (o próprio artista). Braços e pernas aparecem despregados do corpo e o rosto, que em um momento está encoberto, em outro mira a câmera desafiadoramente. A performance remonta a um momento da arte em que a investigação de questões ligadas ao corpo no campo do vídeo, da fotografia e da performance aparece como elemento central na pesquisa de diversos artistas. Aqui, o artista forja seu corpo enquanto campo de experimentação, permitindo conotações de dor e privação. A escolha da gaze enquanto dispositivo performático possibilita diferentes chaves de leitura, remetendo a dor tanto em uma dimensão física, do autoflagelo, quanto em uma dimensão metafórica, aludindo à repressão militar e sexual.

 

 

Sobre o artista

 

Ivens Machado nasceu em Florianópolis, SC, em 1942 e faleceu em 2015 no Rio de Janeiro. Começou sua carreira na década de 1970, em uma produção que se desdobra entre desenho, escultura, pintura, e vídeo. Após um período de dificuldades relacionadas a problemas de saúde, o artista começa a trabalhar com a Fortes D’Aloia & Gabriel no ano de 2014 mas, infelizmente, acaba por não concretizar a tempo sua primeira individual com a galeria. A presente exposição, portanto, foi realizada em colaboração com o recém-criado Acervo Ivens Machado, coordenado por Mônica Grandchamp. Esta primeira exposição marca o início de uma trajetória de trabalho que busca dar continuidade ao legado deste grande artista de trajetória singular.

 

 

Até 28 de julho.

Simon Evans no Galpão 

Fortes D’Aloia & Gabriel | Galpão apresenta “Shopping Chão”, terceira exposição individual de Simon Evans no Brasil, duo colaborativo formado pelo britânico Simon Evans e pela norte-americana Sarah Lannan, que exibem cerca de quinze trabalhos inéditos. Os trabalhos da dupla possuem uma linguagem única, caracterizada por elaboradas colagens com fragmentos de papel, textos e imagens, coletados a partir dos detritos da vida cotidiana, da prática do ateliê e por cidades que visitam. Frases curtas e poéticas alternam-se entre reproduções de objetos domésticos, cartões de crédito e passaportes, sempre marcados pelo sarcasmo e pela melancolia.

 

A instalação que dá título a exposição é inspirada no comércio informal de rua do Rio de Janeiro, cidade onde a dupla residiu nos últimos três meses. Na capital carioca, a prática comercial do “shopping chão” consiste em estender um tecido ou lençol na calçada e dispor sobre ele objetos das mais variadas naturezas e origens, frequentemente achados no lixo, a serem revendidos a preços módicos.

 

 

Sobre os artistas

 

Simon Evans é a colaboração artística entre Simon Evans (1972) e Sarah Lannan (1984). Ambos vivem e trabalham em Nova York. Entre suas exposições individuais, destacam-se: Not Not Knocking On Heaven’s Do or , Palais de Tokyo (Paris, França, 2016); Only Words Eaten By Experience , MOCA Cleveland (Cleveland, EUA, 2013); First We Make the Rules, Then We Break the Rules (Simon Evans & Öyvind Fahlström), Kunsthalle Düsseldorf (Düsseldorf, Alemanha, 2012) e Kunsthal Charlottenborg (Copenhague, Dinamarca, 2012); How to Be Alone When You Live with Someone , MUDAM (Luxemburgo, 2012); H o w t o g e t a b o u t , Aspen Art Museum (Aspen, EUA, 2005). Entre as exposições coletivas, destacam-se as participações nas seguintes bienais: 12ª Bienal de Istambul (Turquia, 2011); 31º Panorama da Arte Brasileira, MAM (São Paulo, 2009); 27ª Bienal de São Paulo (2006); Bienal da Califórnia, OCMA (Newport Beach, EUA, 2004). Sua obra está presente em diversas coleções importantes, como Aspen Art Museum (Aspen, EUA), CIFO (Miami, EUA), Louisiana Museum of Modern Art (Humlebaek, Dinamarca), Miami Art Museum (Miami, USA), MUDAM (Luxemburgo), Philadelphia Museum of Art (Filadélfia, USA), SFMOMA (San Francisco, USA), entre outras.

 

 

De 26 de maio a 28 de julho.