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AGENDA CULTURAL

Fragmentos sacros

14/set

A exposição “Fragmentos: coleções de Rafael Schunk e Museu de Arte Sacra” reúne na sede do MAS/SP, Luz, São Paulo, SP, fragmentos oriundos de demolições de catedrais, igrejas e capelas brasileiras. São objetos valiosos, pedaços de desmanche das construções, pinturas, obras de arte e santos feitos por mestres santeiros reconhecidos. A curadoria é de Percival Tirapeli.

 

No início do século modernista, os registros demonstram que a demolição das igrejas coloniais no centro antigo de São Paulo era quase uma rotina, assim como no interior e em estados como Bahia e Rio de Janeiro. Foram demolidas a Sé, igrejas do Pátio do Colégio, São Pedro dos Clérigos, Misericórdia, além dos conventos Carmelita, Beneditino de Santa Teresa e dos Remédios.

 

Constituída a partir do final dos anos 1990, a Coleção de Arte Sacra de Rafael Schunk enfatiza produções artísticas do período bandeirista a partir do século XVII, desde o surgimento da arte barroca brasileira até suas ramificações na cultura caipira, com permanência de arcaísmos até a modernidade. São, na maioria, fragmentos oriundos de catedrais do interior de São Paulo, como da antiga catedral de Taubaté, de Pindamonhangaba, da Basílica Velha de Aparecida, de Queluz e de Bananal. Um dos destaques é o conjunto de 60 azulejos da Osirarte, oficina que desenvolveu trabalhos para inúmeros edifícios públicos, a exemplo do MEC-Rio e representou a tradição da azulejaria brasileira desenvolvida no período moderno. Os azulejos das coleções do MAS/SP e de Schunk, apresentam esta importante técnica, tão apreciada pelos portugueses.

 

Outro destaque são as esculturas em terracota de pequenas dimensões de frei Agostinho de Jesus (1600/ 1661) e os denominados santos paulistinhas. O acervo de Rafael Schunk conserva obras de grandes artistas nacionais do período colonial e imperial, tais como frei Agostinho de Jesus, Mestre de Itu, Mestre do Cabelinho em Xadrez, Mestre Valentim da Fonseca e Silva, José Joaquim da Veiga Valle, Pituba, Luzia e santeiros populares do Vale do Paraíba. Soma-se a esta rica diversidade um conjunto de tocheiros, mísulas, oratórios e palmas de altar originários do Vale do Paraíba e Tietê. As obras, de culto coletivo e doméstico, representam a diversidade da arte sacra produzida em terras de bandeirantes, índios e jesuítas. Algumas pinturas de tradição cusquenha enfatizam a ligação e intercâmbio de São Paulo com os castelhanos da América Espanhola.

 

“A presença e reconhecimento de um fragmento advém da nossa maneira cultural de reverenciar o passado e nele encontrar um elo perdido dentro da História, e também nos ajuda a compreender a importância de ruínas”, explica o curador da mostra, Percival Tirapeli.

 

Em 1943, uma obra prima do Mestre Valentim, a igreja de São Francisco dos Clérigos, no Rio de Janeiro, foi destruída para a abertura da avenida Presidente Vargas. As partes oriundas daquele desmanche são pontos de partidas para a reflexão sobre os fragmentos presentes tanto em coleções particulares como nos acervos de museus. Na coleção de Rafael Schunk estão a cabeceira de cama e dois anjos. No MAS/SP, ficaram os dois anjos voantes, a Verônica e o entalhe do rosto de Cristo.

 

“O diálogo entre os fragmentos de ambas as coleções proporciona um olhar mais agudo sobre as partes de ornamentos que, desmembrados de sua totalidade, geram novas investigações sobre a técnica, o estilo, o douramento, constituindo assim um documento que é parte integrante de nosso patrimônio sacro”, diz o curador Percival Tirapeli.

 

 

De 18 de setembro a 20 de novembro.

Marcone Moreira no Paço Imperial

A primeira exposição individual de Marcone Moreira, em uma instituição cariocareúne conjunto representativo de sua obra. Azuis, vermelhos, amarelos, verdes, brancos desbotados, prata. Lado a lado, empilhados ou formando ângulos retos. Uma explosão de vida no pátio do Paço Imperial, Centro, Praça XV de Novembro, Rio de Janeiro, RJ. É “Visualidade Ambulante”, trabalho impregnado de histórias e significados, a obra que inicia o percurso da mostra de Marcone Moreira, como um cartão de visitas anunciando uma de suas principais características: a ressignificação de objetos do cotidiano.

 

A curadoria é de Moacir dos Anjos e configura um recorte preliminar de cerca de dezanos da carreira do artista, incluindo projetos dos anos 2000 até sua mais recente produção,“Território”, trabalho feito especialmente para a mostra. Na obra inédita, Marcone reúne quatro porteiras de fazendas, de quatro diferentes regiões do Brasil, promovendo o encontro delas para que juntas delimitem um novo espaço.

 

– Nessa exposição, o artista reafirma as questões que o inquietam desde o início da carreira:o antagonismo entre o local e o global, o popular e o erudito, o poder econômico e a desigualdade social – revela o curador. Moacir destaca ainda que as obras de Marcone lançam um olhar sobre as tensões do Brasil de hoje, desigual e conflituoso, com marcantes oposições como o direito de propriedade e o direito do trabalho.

 

As características apontadas pelo curador estão evidenciadas logo no espaço anterior à primeira sala da exposição, onde dois porretes detrabalho estão pendurados por uma corda. São instrumentos profissionaiscoletados no Rio de Janeiro e no interior do Maranhão. O primeiro, de borracha, usado para bater em peixe nas feiras urbanas; o segundo, de madeira, indispensável para a extração do babaçu.

 

– Para Marcone não é necessário fazer; ele se apropria de formas de objetos existentes e nos reapresenta de outra maneira. Com seu filtro artístico, nos leva a olhar objetos com que nos deparamos no diaadia como se fosse pela primeira vez – ressalta o curador.

 

Um barco fatiado, estendido ao longo do piso, exibe a visualidade amazônica do artista na primeira sala expositiva. Essa estrutura horizontal traz uma das marcas mais identificáveis da obra de Marcone, as peças em madeira de embarcação apresentadas com um conceito ambíguo de meio de transporte e labuta. As obras com madeira de carrocerias de caminhão também estão na exposição: pedaços regulares e muito semelhantes compõem uma variedade gráfica e pictórica, como uma grande grade vertical, que também faz referência ao mundo do trabalho.

 

– A ideia é reunir um conjunto significativo e representativo da diversidade de meios que venho explorando nos últimos anos, além das peças mais reconhecíveis da minha carreira, como as esculturas em madeiras de embarcações, e um conjunto de peças com madeiras de carroceria de caminhão, material que volto a usar depois de uma experiência no interior de Goiás ano passado. Vídeo e fotografia também fazem parte da mostra – diz o artista.

 

No vídeo “Horizonte de ferro”, 2014, Marcone revela imagens antagônicas do homem e da máquina, onde a estrutura de poder rasga a paisagem – a linha férrea que escoa a produção de minério de Carajás é também peça fundamental no constante fluxo migratório entre os estados de Maranhão e Pará.

 

O díptico fotográfico “Ausente presença”, na última sala, é a obra mais contundente da mostra. De um lado, imagem de pés esculpidos em barro dentro da lama; do outro, texto memorial com os nomes dos 19 trabalhadores mortos pela Polícia Militar do Pará, na chacina de Carajás, em 1996.

 

A exposição Marcone Moreira tem o patrocínio da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e da Secretaria Municipal de Cultura, através do Programa de Fomento à Cultura da Prefeitura do Rio – Viva a Arte! 2015.

 

 

 

De 21 de setembro a 20 de novembro.

David Magila na OMA galeria

“Frequentes Conclusões Falsas” é nome de seis das 11 obras (pinturas, gravuras e desenhos) que David Magila apresenta na exposição “Meio-Fio”, na OMA Galeria. Peças que integram uma série com mais quadros e questionam as interpretações que damos às cenas cotidianas. O texto curatorial é assinado por Sarah Rogieri.

 

Com traços bidimensionais e uma paleta de cores opacas que saltam aos olhos, o artista não utiliza de muitos truques para instigar o público a reconhecer lugares que mostram-se comuns e, ao mesmo tempo, apenas guardados na memória, em que não se sabe ao certo o quanto ainda há de movimentação e intervenção humana, mas em suas telas é possível sentir que naqueles traços há uma história presente no local retratado.

 

Segundo o galerista do espaço, Thomaz Pacheco, que conheceu a arte de Magila há mais de um ano – desde então foi iniciado um diálogo para a realização de ações na galeria –, as nomenclaturas escolhidas por ele dizem um tanto sobre o que o espectador vai encontrar. “Meio-fio (que denomina a exposição) é um lugar define limites. Muito se passa nessa linha de concreto denominada Meio-fio, e talvez essa seja uma pista, um convite para adentrar em sua poesia. Afinal, qual limite é esse que o David quer mostrar? Há um sarcasmo nas construções retratadas, e a meu ver, essa brincadeira de sobrepor as partes que compõem a imagem, criando formatos únicos e ao mesmo tempo reconhecíveis, acaba por aproximar o espectador”, comenta.

 

 

A palavra do artista

 

“Estas obras falam das coisas que passam. Chamo atenção para cenas corriqueiras, que representam um vazio comum e que a primeira vista não têm um foco de atenção expressivo. É um jeito de dar valor para estes momentos que passam desapercebidos”, finaliza.

 

 

Sobre o artista

 

Com 37 anos, nascido no ABC Paulista, em São Caetano do Sul, porém morador da capital paulista desde a infância, David Magila retorna à região com um currículo de peso. Ele já recebeu alguns prêmios importantes, como no 40º Salão de Arte de Ribeirão Preto; SP e o 3º Concurso Itamaraty de Arte Contemporânea, Palácio do Itamaraty, Brasília-DF; possui obras nas coleções públicas do Museu de Arte de Ribeirão Preto, Ministério das Relações Exteriores, Casa do Olhar, Santo André-SP; Centro Cultural Brasil Estados Unidos, Santos – SP.

 

 

Até 22 de outubro.

 

Projeto Zone Brésil(s)

Doze artistas brasileiros da ArtMaZone compõem o projeto Zone Brésil(s), com vernissage em 23 de setembro, na Igreja Notre Dame de Quilly, Bretteville sur Laize, Normandie, França. No dia seguinte será a vez da inauguração da coletiva que ficará abrigada na Galeria da Prefeitura. O vernissage será também evento de abertura à convenção política local, com a presença inclusive da secretária de estado Clotilde Valter, ministra do Trabalho, Emprego, Formação Profissional e Diálogo Social.

 

A pedido da Câmara Municipal de Bretteville sur Laize, e atendendo a um convite de honra para o Brasil, a iniciativa integra a tradicional Quinzaine de Quilly, programa cultural que inclui outras expressões, além das artes plásticas, e nesta edição tem como tema o Brasil.

 

Sub a curadoria de Nina Sales, idealizadora da ArtMaZone, participam desta exibição coletiva os artistas Christiana Guinle, Rafael Suriani, Patricia Figueiredo, Marcio Goldzweig, Lin Lima, João Santos, Claudia Malaguti, Stella Bierrenbach, Renata Sgarbi, Frederico Duarte, Iris Della Roca, Livia Melzi, além do convidado, Jean-François Rauzier.

 

 

Dois espaços

 

Igreja Notre Dame de Quilly
O projeto da exposição sublima a universalidade e a diversidade de temas abordados na atual arte brasileira – imagem da mulher, sexualidade, morte, religião, meio ambiente.

Galeria da Prefeitura
Um diálogo transversal é estabelecido entre as culturas francesa e brasileira, tendo como base observações sob os contrastes sociais e os fluxos migratórios que ligam os dois países.
Texto da curadora Nina Sales

 

 

Brasil: entre a tradição e a modernidade

 

“Sobre o que falamos quando evocamos o patrimônio mundial? Sobre monumentos marcantes e relíquias emblemáticas da história da arte? Sobre culturas hegemônicas indiscutíveis? Sobre regras acadêmicas ou sobre novas tendências subversivas? Claro, a história da arte promove a produção de obra primas, de movimentos e de revoluções que ampliam nossa visão sobre a arte.

 
O fenômeno crescente da globalização impulsiona o desenvolvimento da pesquisa artística. Nações jovens com um patrimônio rico mostram suas criações e se tornam a mais nova referência do segmento. Identidade, temporalidade e fronteiras também se desintegram no seio de “Zone Brésil(s)”, proporcionando uma exposição catártica. Herança e contemporaneidade se fundem para sublimar um Brasil que defende suas verdadeiras cores, cores estas de um território criativo e atual. Um hino à arte contemporânea! ”.

 

 

Vanguarda brasileira, anos 1960

13/set

A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, recebeu a exposição “Arte no Brasil: Uma história na Pinacoteca de São Paulo. Vanguarda brasileira dos anos 1960 – Coleção Roger Wright”, um recorte de 80 obras realizadas entre as décadas de 1960 e 1970 no Brasil pelos artistas mais representativos da nova figuração, do teor político e da explosão colorida do pop, como Wesley Duke Lee, Claudio Tozzi, Antonio Dias, Cildo Meireles, Nelson Leirner, Raymundo Colares, Rubens Gerchman, Carlos Zilio, entre outros.

 

A mostra de longa duração celebra o comodato de 178 obras estabelecido em março de 2015 entre a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, a Pinacoteca e a Associação Cultural Goivos, responsável pela Coleção Roger Wright. Além disso, também dá continuidade à narrativa iniciada com a exposição “Arte no Brasil”, em cartaz no segundo andar e que apresenta os desdobramentos da história da arte no Brasil do período colonial aos primeiros anos do modernismo em 1920.

 

“Com esse conjunto, o museu oferece aos visitantes a possibilidade de ver e compreender processos recentes que contribuíram para a formação da visualidade brasileira. Sem contar, que a Pinacoteca se consolida como um museu nacional da história da arte no Brasil, constituído por núcleos articulados em uma narrativa extensa e representativa”, explica José Augusto Ribeiro, curador da exposição.

 

A exposição tem patrocínio, via leis de incentivo, de Pirelli, Klabin e CreditSuisse. Sua realização foi possível também graças ao apoio direto de amigos pessoais do colecionador Roger Wright, como Paulo S.C. Galvão Filho e José Olympio da Veiga Pereira.

 

 

 

Comodato

 

A Coleção representa a produção brasileira dos anos 1960 e possui importantes instalações produzidas a partir de 2000. Foi montada por Roger Wright e seus dois filhos desde 1996 e, após o acidente que vitimou a família em 2011, Christopher e Ellen Mouravieff-Apostol, irmão e mãe de Roger Wright, decidiram manter as obras em solo brasileiro. Para isso, consultaram vários museus nacionais, buscando encontrar algum que apresentasse condições seguras e plenas de pesquisa, comunicação, salvaguarda e projeção pública.”Estou muito feliz com a perspectiva de ver em breve a coleção aberta ao público na Pinacoteca. Acima de tudo, tenho certeza que tanto o Roger como os filhos estariam orgulhosos com esse novo rumo na história da coleção que eles montaram com tanta dedicação”, disse Christopher.

 

A Pinacoteca tem experiência em acomodar obras de grande relevância por meio de comodatos, como a Coleção Brasiliana – Fundação Estudar, que após o período de empréstimo foram doadas ao museu e hoje compõem o seu acervo, e o comodato assinado em 2004 com a Fundação Nemirovsky com trabalhos importantes do período modernista.

 

 

Até 26 de agosto de 2019.

os gêmeos em NY

Mais de mil pessoas lotaram a abertura da exposição “Silence of the Music” na galeria Lehmann Maupin, 536 West 22nd Street, em Nova York, USA, no último dia 08.A exposição foi concebida como uma instalação site-specific, em que cada uma das cinco salas da galeria contém uma seleção única de pinturas e objetos que cobrem as paredes, do chão ao teto.

 

Na primeira sala, há telas com o estilo já conhecido dos artistas,com referência ao imaginário da cultura brasileira e suas tradições, e também sinais de um novo momento artístico, mais geométrico e limpo.

 

Em outra sala, os irmãos cobriram as paredes com referências à cultura hip hop, incluindo ícones do bboy como Ken Swift, uma colaboração com o artista Doze Green a partir de uma fotografia de Martha Cooper além de pinturas em formato de  boomboxes com alto-falantes embutidos.

 

Em outra sala, a escultura “O Beijo” transporta o espectador para outros universos através de sua música produzida 100% de forma automática através de elementos mecânicos e elétricos, como uma grande caixa de música.

Fotos: Max Yawney

 

 

Até 22 de outubro.

Peças ressignificadas

12/set

Spinners, portas, saídas de emergência, trem de pouso, manuais de instrução, hélice e outros itens que se transformam em peças únicas, abordando temas como a obsolescência, a memória e a passagem do tempo. Os 29 trabalhos realizados por um grupo de 19 artistas compõem a exposição “A.R. [Artefato Refeito]”, na Verve Galeria, Jardim Paulista, São Paulo, SP, com curadoria do 358.

 

O acúmulo de peças do universo da aviação deu asas à imaginação e à criatividade de um grupo de artistas que compartilham seus ateliers no 358, residência artística no bairro paulistano do Cambuci. Anderson Barbosa, Ayco, Ermãos Monjon, Evandro Angerami, Fabio Q, Felipe Guimarães, Felipe Ikehara, Heverton Ribeiro, João Cunha, Keyla Rosa, Mari Mats, Monocrew, Renan Cruz, Rafael Hayashi, Ronah, São, Valdinei Calvento Jr, Walter Muller e W2 receberam peças isoladas de aeronaves ou uma das páginas de Manuais de Bordo para integrar ao contexto de seu trabalho, objetos que em outro momento tiveram forma e/ou função distintas. O suporte é proveniente de coleção feita ao longo de décadas, de tudo o que se possa imaginar relativo a uma aeronave.

 

A proposta foi de estabelecer novos significados às obras: Um trem de pouso transformou-se em escultura, exibindo conceitos de equilíbrio e fluidez; O spinner quadripá, parte dianteira da aeronave, ganhou iluminação interna e transformou-se em objeto de onde emanam raios de luz; uma hélice transforma-se em objeto cinético e uma porta em suporte para pintura da forma de uma libélula, inseto que realiza apenas um voo em vida.

 

“Partes de partes sem funcionalidade em si quando não acopladas a outras. Promessas de que em conjunto nos fazem voar. Os artistas, acostumados a se encontrar nos corredores de seus ateliers, têm cada um uma visão de mundo. Da combinação entre eles e as peças, e entre as peças e eles, surgem novas conexões no tal fluxo ininterrupto em que estamos imersos”, define Angela Varela Loeb, que assina o texto curatorial da mostra. A coordenação é de Allann Seabra e Ian Duarte Lucas.

 

 

De 15 de setembro a 31 de outubro. 

 

Picasso na Caixa Cultural/Rio

09/set

O Instituto Tomie Ohtake, a CAIXA Cultural Rio de Janeiro, Arteris e IRB BRASIL RE, apresentam no Rio de Janeiro, Centro, RJ, nas Galerias 2 e 3, a exposição “Picasso: mão erudita, olho selvagem”, com 138 obras, entre pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, cerâmicas e fotografias pertencentes ao MuséeNational Picasso-Paris. Organizada pelo Instituto Tomie Ohtake em conjunto com o Musée National Picasso-Paris. A exposição tem curadoria de Emilia Philippot, também curadora da instituição francesa.

 

As obras traçam um percurso cronológico e temático em torno de conjuntos que seguem as principais fases de Pablo Picasso, nascido em Málaga, Espanha, em 25 de outubro de 1881, e morto em Mougins, França, em 8 de abril de 1973. A exposição percorre sua trajetória desde os anos de formação, com o óleo sobre tela “L’Homme à lacasquette” (1895), até os últimos de produção, como na gravura em metal “Couple: femme et hommechien. Avecfemme à lafleur” (1972). O patrocínio é da Arteris e IRB BRASIL RE, com apoio da CAIXA, da Prosegur e da Repsol Sinopec Brasil, realizado através da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Rouanet).

 

 

 

A exposição

 

 

A exposição com mais de 130 obras do gênio da arte do século XX esteve em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, onde foi sucesso de público e crítica, possibilita uma rara imersão do público no universo do artista espanhol, que viveu grande parte de sua vida na França. Das 138 obras, 109 são de Picasso: 27 pinturas, 42 desenhos, 20 gravuras e 20 esculturas, incluindo 12 cerâmicas, em sua quase totalidade nunca vistas no Brasil. Também integram a mostra 22 fotografias feitas por AndresVillers (1930-2016) em parceria com Picasso, e três fotografias feitas por Pierre Manciet durante as filmagens de “La viecommencedemain” (1949), de Nicole Védrès, no ateliê do artista em Fournas, Vallauris, na França. O filme, de 89 minutos, também poderá ser visto pelo público, junto com dois outros: “Guernica” (1950), de Alain Resnais e Robert Hessens, com 13 minutos, que aborda a obra-prima de Picasso, entre pinturas, desenhos e esculturas feitas por ele entre 1902 e 1949; e “Le Mystère Picasso” (1956), de Henri-Georges Clouzot, com 78 minutos, que revela seu processo criativo.

 

A curadora EmiliaPhilippot destaca o fato de que as obras expostas revelam para o público a ligação íntima e pessoal que alimenta toda a produção de Picasso, presente nos retratos íntimos da mãe do artista ou de seu primeiro filho, Paul, na celebração apaixonada da sensualidade feminina de Marie-Thèrèse Walter, e nas denúncias intransigentes dos males causados pelos conflitos contemporâneos, da Guerra Civil Espanhola ou da Ocupação da França pelas tropas alemãs. “Escolhemos aproveitar o caráter específico da coleção para esboçar um retrato do artista que questiona sua relação com a criação, entre fabricação e concepção, implantação e pensamento, mão e olho”, afirma EmiliaPhilippot. Estão presentes nos trabalhos as experiências vividas por Picasso. “Os laços afetivos do amante, as dúvidas do homem, as alegrias do pai de família, os compromissos do cidadão: tudo se introduzia em sua arte”, completa.

 

Uma característica importante da exposição é que o acervo é composto por obras selecionadas e mantidas pelo artista ao longo de sua vida. São trabalhos que estiveram ao seu lado e pertencem ao MuséeNational Picasso-Paris, um dos mais importantes do mundo sobre o artista, formado por doações sucessivas dos herdeiros do pintor, em 1979 e 1990.

 

 

 

Percurso da exposição

 

 

As obras estão dispostas de acordo com um roteiro cronológico e temático, em dez seções: “O primeiro Picasso. Formação e influências (por volta de 1900)”; “Picasso exorcista. As senhoritas de Avignon (processo da geometrização das formas)”; “Picasso cubista. O violão (relação com a música)”; “Picasso clássico. A máscara da antiguidade (a maternidade, o teatro e a dança)”; “Picasso surrealista. As banhistas”; “Picasso engajado.Guernica (estudos da obra, fotos e foco na apresentação da tela em 1953 no Brasil/ 2ª Bienal de São Paulo)”; “Picasso na resistência. Interiores e vanitas (processo de trabalho durante a guerra, vida doméstica e vaidades)”; “Picasso múltiplo. A alegria da experimentação (da cerâmica ao fotograma)”; “Picasso trabalhando. O Mistério Picasso (a magia de seu processo criativo na pintura)”; e “O último Picasso: o triunfo do desejo (erotismo em todos seus estados)”.

 

 

 

Sobre EmiliaPhilippot

 

 

EmiliaPhilippot é diplomada pela Écoledu Louvre e especializada em conservação do patrimônio pelo Institutnational Du Patrimoine (Paris). Foi gerente de projeto na RéuniondesMuséesNationaux, Paris (2007 e 2009), onde organizou a exposição “Le grand monde d’Andy Warhol”, nas Galeriesnationalesdu Grand Palais (2009). Foi responsável pelas coleções de artes decorativas, artesanato e design industrial no Centre nationaldesArtsPlastiques (Paris), entre 2010 e 2012, coordenando a exposição “Liberty, EqualityandFraternity”, no WolfsonianMuseum (Miami), em 2011. Responsável pela segmento de artes gráficas e pinturas do MuséeNational Picasso-Paris desde 2012, Philippot preparou a reabertura do museu e organizou importantes mostras como “¡Picasso! L’expositionanniversaire no MuséeNational Picasso-Paris” (2015); “Picasso chez Delacroix no MuséeNationalEugéneDelacroix” (Paris 2015); “MiquelBarceló, Sol y Sombra”, no MuséeNational Picasso-Paris (2016), e está desenvolvendo a exposição “Histoires d’Olga – Filtres de l’Histoireauprès de Picasso”, no MuséeNational Picasso-Paris prevista para março de 2017.

 

 

 

Até 20 de novembro.

Mundo físico

A Galeria Virgílio, Pinheiros, São Paulo, SP, exibe obras dos artistas Fernando Burjato, Gabriele Gomes e Cleverson Oliveira.  A carreira dos três artistas tem início nos anos 1990, quando eram alunos da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, EMBAP, em Curitiba, PR. Logo que se formaram, cada um tomou um rumo diferente, fora da capital paranaense. Ainda assim, as obras dos três seguem paralelas, e nestes últimos vinte anos, têm mantido um rico diálogo, feito de aproximações e divergências, fato observado na mostra intitulada “Colapso”, realizada entre 2015 e 2016 no Museu Oscar Niemeyer, com a curadoria de Ana Rocha. “O mundo físico” é uma espécie de transbordamento da exposição curitibana, que teve mais de 11 mil visitantes; propõe um outro recorte do trabalho dos artistas, que se desenvolve em diversos materiais e linguagens: pintura, desenho, objeto, fotografia.

 

 

Sobre os artistas

 

Gabriele Gomes, Curitiba, PR, 1971, reside no Rio de Janeiro, produz instalações, fotografias, objetos e poemas, tendo como referência a tradição da pintura. Há em sua obra o desejo de fazer uma pintura que se estenda para fora do quadro, transformando em pintura aquilo que existe de mais trivial. Se Grabriele traz a pintura para o mundo físico, para os espaços entre as coisas, Cleverson Oliveira, Curitiba, PR, 1972, cria instalações gráficas, como desenhos de paisagem que podem ser vistos por dentro. Ou obras em grafite sobre papel em que o olhar do espectador oscila entre a nitidez da superfície e o caráter turvo de uma imagem que se reconhece. Fernando Burjato, Ponta Grossa, 1972, PR, desde 2000 trabalha principalmente como pintor. Seus quadros, entretanto, se alongam para fora dos limites da tela, a tinta escorre e seca, formando franjas, como uma pele que se escama e pende, como farrapos, contrastando com a luminosidade e a leveza das cores. É representado pela Galeria Virgílio desde 2009.

Texto de Daniela Vicentini

                              

O mundo físico, sabemos, não é estático. Nem uma rocha está mesmo parada. Ainda que tenhamos a sensação de que muita coisa não se mova, sequer este planeta em nossa percepção cotidiana. Assim, Gabriele Gomes, Fernando Burjato e Cleverson Oliveira ativam em objetos, pinturas e desenhos – que querem se afirmar como presenças físicas no mundo –, cada um a seu modo, percepções temporais distintas: coisas que trazem latente o vir a ser do processo de suas configurações.

 

Dos três, Gabriele é quem lança mão dos artefatos que estão ao alcance de todas as pessoas – um pirex, um paninho rosa de limpeza, garrafas de vidro vazias. Isso tem na casa de toda gente. Há também objetos afetivos do universo da artista – como livros e bibelôs – ou que parecem ter sido coletados em viagens e passeios – como pedras e conchas. E tudo remete ao ambiente das centenas de artigos que rodeiam a sua vida doméstica, mas poderia também ser a de outra pessoa. Então, um tanto de tinta, um volume de cor, se acomoda dentro ou sobre os objetos. E o processo corriqueiro do objeto comum para, adquire outra temporalidade: as garrafas não serão mais descartadas.

 

Tudo que nos rodeia se apresenta com um excesso de luz – cores fortes, letreiros, telas, as luzes estão bem acesas – e Gabriele as ilumina mais ainda: usa purpurina, espreme o tubo de tinta com cores industriais, elege cores saturadas. Embalagens e recipientes ganham outro tanto de cor chapada, sem escala de tonalidades. A tinta esparramada seca em sua liquidez, torna-se também coisa que se agarra a outra mas mantém uma aparência mole. Cristaliza-se no processo de estar conformando algo: borbulhando de dentro da garrafa, sobrepondo-se às superfícies.

 

Luz sobre luz, desfaz-se o contorno das coisas. Como que outra imagem de realidade se conforma, algo que traz um quê de uma atmosfera de sonho. A ação de Gabriele nos dá ferramentas para observar os objetos ao nosso redor como se pudéssemos olhá-los como que pela primeira vez. Raramente paramos para pensar em como as coisas vieram a ser o que são. Toda a complexidade do pensamento e fazer humanos que envolvem a existência de muitos itens. Eles estão aí, são úteis, descartáveis (ainda que não exista um fora) – tornam-se até mesmo invisíveis. Uma caneta esferográfica, um caderno quadriculado, como vieram a ser o que são? Gabriele os enlaça em pequenos arranjos jocosos – cor, forma, função. O pensamento e o olhar podem se deter, inclusive na individualidade de cada elemento.

 

Assim cria-se “Oba” na escala de uma mesa, tomando cerveja ou café, lembrando daquele passeio na praia com as conchinhas colhidas, depois deve-se limpar – nunca mais irei lidar com aquele paninho do mesmo jeito. É necessário reinventar – e por que não fazê-lo com instantes de um olhar generoso para o que está bem aqui? Conchinha sobre conchinha, o desejo é o de alcançar o céu, como a coluna sem fim de Brancusi. Ainda que no ato de erigir a tinta consiga apenas deitar-se.

 

Fernando Burjato tem na repetição de faixas um vocabulário desde muito tempo, já nas camisetas de seus autorretratos de quando começou enfurecidamente a desenhar, pintar e refazer. E repetidamente, todos os dias em seu ateliê, desde então, o fazer de Fernando se transforma por meio do excesso de sempre reconstruir. São muitos exemplares de um mesmo até que as transformações se insinuem – podem ser acidentes, desvios do fazer que são aceitos e tomam corpo. A arte é referência explícita: a grade moderna, a pintura como matéria, colagem, pinceladas, tinta escorrida, dripping, veladura, impasto, claro e escuro, qualidades de linhas e muito mais. Embebe-se de obras, experiência concreta da arte, essa é a realidade do artista. O sistema, portanto, não é algo para se adequar. É o ponto de partida para inventar excessos.

 

São pinturas a óleo em que aparecem faixas organizadas uma ao lado da outra, mais ou menos com a mesma largura e quantidade de tinta equivalente, cada cor num espaço definido. Diante de algumas, nos deparamos com o transbordamento da tinta para fora dos limites do quadro. Outras têm como suporte um paralelepípedo protuberante, com tinta escorrida nas laterais. Definem-se imediatamente dois lugares – um tanto do que é dentro está fora. Nas bordas, a tinta aparece efetivamente como coisa e o suporte inusitado é caixa: temos certeza de que se trata do mundo físico, com objetos tridimensionais que produzem sombras. Pode-se ver isso claramente no desenho em pastel que retrata as próprias pinturas – ou é estudo que as antecede?

 

Desse contraste evidente outros tantos vão surgindo. Há um todo ritmado, uma coisa depois da outra, mas a predileção é por cores dissonantes e o tratamento de pintura de cada parte cria acontecimentos específicos – numa vemos uma sequência de cores em degradê, noutra não identificamos nenhuma pincelada ou há brilhos ou vestígios de rastos do pincel ou um aglomerado de tinta. Como se o espaço de dentro fosse feito por citações de procedimentos pictóricos. O todo se organiza tanto como colagem de formas geométricas, por assim dizer, quanto como colagem de maneiras, já tradicionais, de se ativar uma superfície de pintura. Evidencia-se a convivência de coisas muito diferentes num lugar que de início parece um todo organizado. E quando nos demoramos em algo, a pintura parece dizer: “Ei, veja isso aqui agora, poderia funcionar assim também, não é? Olhe para esse esfumaçado, veja esse volume, viu a cor aqui em cima?”, e assim por diante. Nem tudo é muito sério, as curvas e as dobras e rasgos parecem querer brincar, a caixa é um treco na parede. Sorrimos.

 

As luzes também estão bem acesas, algumas cores são estridentes até. A potência de produzir é circunscrita a uma força de vontade individual, o fazer construtivo convive com sua impossibilidade – as bordas realmente caem.

 

Cleverson Oliveira apresenta desenhos feitos com pó de grafite e caneta permanente sobre tela; portanto, em escalas de cinzas e preto e branco. Eles parecem querer configurar uma paisagem, mas ela não se mostra totalmente. É apenas aventada por manchas nas quais reconhecemos as sinuosidades do mundo vegetal. Há também o desenho de ícones que querem representar gotas de água em escala real – se olharmos de perto vemos uma forma ovalada preenchida na metade de cima de preto e na de baixo de branco. Com pequenas diferenças de tamanho, esses desenhos são repetidos em toda a superfície da tela. Desse modo, vemos o desenho de gotas e o de silhuetas de plantas. E essas duas coisas nos fazem ver uma terceira que na verdade não existe: uma placa de vidro. O jogo do desenho é transformar a superfície da tela em vidro. Vemos aquilo que não existe como coisa – mundo físico. Não há desenho do vidro e é isso o que vemos o tempo todo. Temos então uma paisagem intuída através de um vidro embaçado sobre o qual há gotas – vidro, gotas e manchas.

 

Cleverson realiza trabalhos em diversas mídias. Entre elas, a fotografia e o vídeo. Há certa narrativa, um aparente descompromisso, muito humor. Interessa atentar como o artista lida com a imagem nesses veículos de reprodução. Sabemos que ela é constituída por pequenos pontos. E ele toma partido por evidenciá-los; portanto, as figuras aparecem granuladas, com contornos incertos. As cenas se dão com imagens que estão sempre prestes a ser desconfiguradas. As superfícies da impressão e do vídeo são porosas, ele constrói por indefinições, utiliza silhuetas – como também nesses desenhos de paisagem.

 

Bem, estamos abrigados da chuva quando contemplamos essas imagens. Seria de dentro de uma casa? Ficaríamos assim tanto tempo observando as vidraças? A paisagem está bem perto. Em suas fabulações, o artista introduz a experiência da viagem como assunto poético. E esses desenhos me remetem ao tempo em que passamos a olhar a paisagem quando estamos num ônibus, num trem, carro de passeio, vendo a chuva e o mundo cambiante e embaçado, impossibilitados de fato de estar lá. Apesar de que a dimensão da tela pode contradizer essa imagem. Afinal, um desenho tem a liberdade de ser apenas aquilo que é, em preto e branco.

 

O mundo físico de Gabriele Gomes, Fernando Burjato e Cleverson Oliveira é feito por coisas moles, cortinas que caem e vapores. Objetos do mundo comum reconfigurados, pinturas de faixas e desenho de paisagem – não alardeiam novidades. A potência dos trabalhos é reavivar sempre a vontade de arte – o processo de vir a ser é assunto.

 

 

De 13 de setembro a 08 de outubro. 

 

Nuno Ramos e Climachauska

08/set

A unidade do Sesc Pompeia, São Paulo, SP, recebe a instalação “O globo da morte de tudo”, de Nuno Ramos e Eduardo Climachauska, dois inventivos e múltiplos artistas das artes visuais. O projeto é pensado há mais de quatro anos, a partir do ritual da dádiva, da oferenda, existente em sociedades primitivas. Consiste em dois globos de aço sobrepostos e unidos por um ponto, “formando um oito tombado, o símbolo do infinito”, como aponta Nuno Ramos. Estes globos estarão conectados a quatro paredes de prateleiras de aço, com seis metros de altura, nas quais serão depositados mais de 1.500 objetos, comprados, coletados e doados por amigos e conhecidos ao longo do processo de criação.

 

Os objetos são agrupados em quatro categorias: cerâmica, cerveja, nanquim e porcelana. “Essas categorias podem ter um aspecto antropológico, mas é muito arbitrário”, explica Eduardo Climachauska. “É uma forma que encontramos para organizar as coisas e podemos trocar os objetos de categoria também”, conclui.

 

Segundo descrito pelos artistas, cada uma das quatro categorias presentes nas estantes tem um significado. A categoria cerâmica tem a ver com coisas arcaicas: instrumentos agrários, berrantes e material de construção. A categoria cerveja tem objetos ligados à vida cotidiana, como máquinas, troféus e bolas de sinuca. A categoria nanquim está ligada à morte, às coisas escuras e calcinadas. Já, a categoria porcelana representa o luxo, a frescura e coisas fora de moda, como peças de decoração, frascos de vidro e computadores antigos.

 

Estes elementos empilhados em bandejas de vidros planos formam um frágil equilíbrio, contrastando com a presença dos dois globos. Fazem, assim, uma espécie de inventário da cultura prestes a desabar. No dia 4 de outubro, um mês após a abertura da exposição, às 20h, acontece um evento-performance no qual dois motoqueiros giram dentro dos globos. Com o ruído provocado pelos motores e a trepidação, os objetos despencam parcialmente das prateleiras espatifando-se no chão. A exposição terá dois momentos: o antes e o depois da performance.

 

O momento performático convida à reflexão sobre alguns conceitos, tais como: consumo, acumulação e memória afetiva em relação aos objetos do cotidiano, sem tirar o bom humor da cena: ver as coisas quebrando. “A obra traz um aspecto cômico, um fundo de raiva, com sensação de querer que tudo vá pro inferno”, destaca Nuno Ramos, que ainda ressalta: “é a obra que mais me divertiu”.

 

Para Climachauska, a destruição das coisas, quando se quebram e se separam é, ao mesmo tempo, o momento no qual se misturam, virando matéria. “Surge uma fusão dos materiais, mistura de cores, líquidos, texturas […] e depois existe outra organização que independe da nossa vontade”, conclui o artista.

 

 

 

Sobre os artistas

 

 

Amigos e parceiros de longa data, Nuno Ramos, 1960, São Paulo, e Eduardo Climachauska, 1958, São Paulo, já compuseram juntos diversas canções, nove delas gravadas por Rômulo Froes e uma por Gal Costa, e realizaram os filmes: “Iluminai os terreiros” (2007), “Casco” (2004) e “Para Nelson – Luz Negra” e “Duas Horas” (2002), os dois primeiros com o cineasta Gustavo Moura. O caráter questionador de Nuno Ramos não se apresenta apenas na obra “O globo da morte de tudo”. A transmutação de formas por via violenta adquire caráter procedimental em toda a produção do artista, que possui desdobramentos em várias áreas. Nuno cursou filosofia na Universidade de São Paulo. Realizou os primeiros trabalhos tridimensionais em 1986. Em 1992, em Porto Alegre, expôs pela primeira vez a instalação 111, que se refere ao massacre dos presos na Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru). Publicou, em 1993, o livro em prosa “Cujo” e, em 1995, o livro-objeto “Balada”. Venceu, em 2000, o concurso realizado em Buenos Aires para a construção de um monumento em memória aos desaparecidos durante a ditadura militar naquele país. Em 2002, publicou o livro de contos “O Pão do Corvo”. Para compor suas obras, o artista emprega diferentes suportes e materiais, e trabalha com gravura, pintura, fotografia, instalação, poesia e vídeo. Participou de quatro edições da Bienal de São Paulo (em 1985, 1989, 1994 e 2010, quando levou polêmicos urubus ao Pavilhão da exposição) e da 46ª Bienal de Veneza (em 1995).

 

Formado em cinema pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA-USP (1976-1980), Eduardo Climachauska vem realizando exposições em importantes museus, instituições culturais e galerias de arte no Brasil e no exterior. Já realizou exposições no Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM, no Museu de Arte de São Paulo – MASP, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC USP, no Centro Cultural São Paulo – CCBB, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM-RJ, e em galerias, como a SycomoreArt em Paris, entre outras. Produziu filmes e vídeos experimentais de curta e média metragem, exibidos em mostras e festivais de várias capitais, como “Outono de Bashô” (1994), em parceria com Guto Araujo; “Bólide-Filme” (1995); “Exposto nº 2” (1997); “The RightNumber” (2001), com Guto Araujo; “Três Caras e um Matagal” (2001), com Alexandre Boechat e Guto Araujo; “Pensamento Selvagem” (2002), com Alexandre Boechat; além dos realizados com Nuno.

 

 

A instalação fica aberta para visitação até 06 de novembro.

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