Olá, visitante

AGENDA CULTURAL

Iconografia de Salvador

17/jun

A Editora Caramurê Publicações lança no próximo dia 19, na Livraria da Travessa, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ, obra sobre a história de Salvador contada através de imagens da cidade. No livro intitulado “Salvador, uma iconografia através dos séculos” de autoria da historiadora da arte carioca Fernanda Terra e coautoria dos baianos Francisco Senna e Daniel Rebouças, Salvador é mostrada sob a ótica de vários artistas e viajantes, que ao longo dos séculos, retrataram as paisagens, o povo e seus costumes na cidade consolidada como o mais importante porto do país até o século XIX.

 

 

Foram cerca de dois anos entre a ideia e a etapa de pesquisa da publicação. O livro transporta o leitor através de mapas, gravuras, desenhos, aquarelas e periódicos do acervo da Fundação Biblioteca Nacional para uma cidade dos períodos da Colônia e do Império. A autora traça ainda um olhar sobre a obra de arte, com comentários sobre os gravadores, editores, artistas e cartógrafos que registraram a Cidade de São Salvador em seus trabalhos. A obra recebe patrocínio do Ministério da Cultura e da GPE, Global Participações em Energia através da Lei Rouanet.

 

 

 

Dia 19 de junho, sexta feira, a partir das 19 horas Local: Livraria da Travessa – Endereço Rua Visconde de Pirajá, 572 – Ipanema – Rio de Janeiro – RJ – 324 páginas – Valor: R$ 130,00

 

Matheus Rocha Pitta na Athena

15/jun

No dia 2 de julho a galeria Athena Contemporânea, Shopping Cassino Atlântico, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, abre a mostra “Assalto”, do artista Matheus Rocha Pitta, que agora passa a ter suas obras representadas pela galeria.

 

Matheus apresentará uma série composta por onze lajes, inédita no Brasil, produzida especialmente para a Bienal de Taipei, em 2014. Em cada uma das lajes, o artista insere imagens do noticiário impresso e diversos recortes de gestos manuais retirados de anúncios publicitários. Juntos no mesmo plano frio do concreto, as imagens criam um choque com os gestos, como em um assalto: mãos ao alto!

 

A escolha bastante singular pelo concreto (baseado na técnica de construção de sepulturas de baixo custo) parece congelar um momento dialético e delicado, em que as imagens publicitárias são convertidas para um tema enigmático, mas não menos político.

 

A obra do artista é marcada pela pesquisa e investigação de lugares marginais, tanto em suas dimensões físicas quanto simbólicas. Seus trabalhos estão em importantes coleções como a Coleção Gilberto Chateaubriand – MAM, Rio de Janeiro, Brasil; Coleção Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; Museu de Arte Moderna da Bahia, Brasil; Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil; Centro Dragão do Mar de Arte Cultura, Fortaleza, Brasil; Maison Europenne de la Photographie, Paris, França; Castelo de Rivoli, Torino, Itália e Fondazione Nomas, Roma, Itália.

 

 

Sobre o artista

 

Matheus Rocha Pitta cresceu na cidade de Tiradentes, MG, e mudou-se, quando adolescente, para a cidade serrana de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Morou no Rio de Janeiro, em 1999, quando estudou História na UFF e Filosofia na UERJ. Em 2003, foi bolsista do Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte e em 2007 ganhou a Bolsa Iberê Camargo, uma residência na Universidade do Texas, Austin, EUA. No mesmo ano, ganhou o prêmio aquisição do 14º Salão da Bahia. Em 2011, participou da coletiva “Rendez Vous”, no Institut d’Art Contemporain de Lyon e realizou a individual “Provisional Heritage”, na Sprovieri, Londres, Reino Unido. Foi também 1º lugar do I Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea em 2012 e realizou individuais no Paço Imperial, Rio de Janeiro e Fondazione Volume, Roma. Vive e trabalha no Rio de Janeiro atualmente.

 

 

De 02 de julho a 1º de agosto.

Andy Warhol – Ícones POP

12/jun

O Shopping Leblon, Lounge, 3º piso, Rio de Janeiro, RJ, leva ao público a partir de 18 de junho a mostra “Andy Warhol – Ícones POP”, com 16 serigrafias catalogadas e certificadas do artista americano, um dos nomes mais fortes da Pop Art. Inédita no Rio, a exposição é assinada pela galeria catalã Antic & Modern, de Barcelona, e reúne, em tamanhos diversos algumas das mais representativas imagens criadas por Andy Warhol. A seleção de obras inclui personagens como Marilyn Monroe e Mao Tsé Tung, além de outros ícones mundiais do movimento, como o símbolo do dólar e a emblemática Campbell´s Soup.

 

 

De 18 de junho a 12 de julho.

Tinho na Galeria Movimento

 

Tinho, um dos mais conceituados artistas urbanos do Brasil, abrirá a mostra “Tinho – Verdades que habitam em coisas que restam”, na Galeria Movimento, com participação do público para arrecadar roupas para o Instituto da Criança. A partir do dia 02 de julho a Galeria Movimento, Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, apresenta ao público os trabalhos de Walter Tada Nomura, o TINHO, um dos precursores da arte urbana no Brasil. O artista paulista faz parte de um grupo, incluindo OSGEMEOS, que rompeu com a estética da arte urbana no Brasil, criando traços próprios e ousados, alavancando o nível mundial, inovando e levando mensagens politizadas para a arte de rua. Tinho foi convidado pela Xucun Comuna de Arte Internacional, uma importante Instituição de Arte Chinesa, para fazer uma residência na China ainda este ano, em agosto.

 

 

Em paralelo à exposição na Galeria Movimento, será realizada uma campanha de arrecadação de roupas e o público será convidado a participar. Interessados poderão levar roupas para doação, que primeiramente irão compor uma instalação que Tinho assina pensando nesta doação que será feita ao Instituto da Criança, que é uma organização do Terceiro Setor que promove o Empreendedorismo Social. Na medida em que o público trouxer as roupas, a instalação ganhará volume e criará forma.

 

 

A mostra, inédita, gira em torno dos bonecos de retalhos, personagens criados pelo artista em 1993, quando inicialmente eram inteiramente brancos ou pretos, somente com olhos e alfinetes coloridos. São sete obras de um metro e meio de altura, artesanais e únicos, em oposição aos brinquedos industrializados. São frutos analógicos do início desse milênio que ruma para a vida digital. Para o artista simboliza uma figura protetora e acolhedora, como um último recurso para uma criança abandonada. Esse aspecto sombrio é uma característica da sua busca artística. Crianças tristes fazem as pessoas pensarem, uma vez que chamam a atenção e despertam a curiosidade. “Todo adulto tem uma criança interior, que deve aprender a cuidar ao longo do curso da vida”, conta o artista. Tinho também vai apresentar 14 telas inéditas que envolvem o cotidiano urbano e todo o caos proporcionado pela metrópole. Em suas obras ele dialoga com o público sobre tentativa de estabelecer uma comunicação com o espectador, de forma a levantar e discutir questões contemporâneas.

 

 

 

Sobre o artista

 

 

Tinho participa de discussões e palestras regularmente, como aconteceu na VII Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, em 2007. Acumula em seu currículo participações em mostras coletivas de instituições como Centro Cultural São Paulo, Paço das Artes, MIS, Caixa Cultural, Santander Cultural, Memorial da América Latina e Pavilhão das Culturas Brasileiras, assim como nas bienais de Havana, 2009 e Vento Sul, Curitiba, 2009. Realizou exposições individuais em diversas galerias privadas ao redor do mundo e, a convite do Itamaraty, expôs em Londres e em Moscou. Em 2006 foi convidado a produzir um painel gigante para a Copa FIFA 2006, em Berlin, e também já participou de exposições em Grenoble e Hossegor, França; Gold Coast, Melbourne e Torquay, Austrália; Beijing e Shangai, China; Barcelona, Espanha; Rotterdam, Holanda; Moscou, Russia; Zurich, Suíça; Berlin e Munique, Alemanha; Varsóvia, Polônia; Milão, Itália; Buenos Aires, Argentina; e Santiago, Chile.

 

 

 

De 02 de julho a 1º de agosto.

 

Em Curitiba

11/jun

A SIM galeria, Curitiba, PR, anuncia sua próxima exposição: “Carbono 14″, individual de Marcelo Moscheta. O artista combina diversas técnicas em seus trabalhos como o emprego de gouache e colagem de transferidores e réguas de acrílico sobre impressão com tinta pigmentada mineral sobre papel Hahnemühle photo rag 300gr. Marcelo Moscheta recebeu texto de apresentação de Paulo Myiada.

 

 

Do que nomeia os saberes de Marcelo Moscheta

 

Marcelo Moscheta vive em tensão com esse modelo de organização do conhecimento. Por um lado, ele investe grande energia em deslocamentos por ambientes naturais – o Ártico polar, o deserto do Atacama, a fronteira entre Brasil e Uruguai – nos quais imerge como um explorador fenomenológico da paisagem, das pedras, dos caminhos e da natureza; neste aspecto, ele procura os ambientes limítrofes em relação ao campo organizado da cultura e dos saberes. Por outro lado, ele herda da tradição ocidental (e mais diretamente de seu pai, professor de botânica) uma série de princípios de organização sistemática das coisas do mundo: catalogação, medição, seriação, tabulação, reprodução e nomeação de espécimes, fragmentos do mundo natural traduzidos como itens em compêndios supostamente objetivos e verdadeiros.

 

Todas essas ações frias do saber técnico – identificadas com o cientificista pathos do pensamento moderno – integram os processos criativos de Moscheta da mesma forma que os cálculos de resistência dos materiais integram os projetos de um bom arquiteto. São modelos herdados que fazem com que a criação não parta exclusivamente da folha em branco, mas também de equações já apreendidas sobre o comportamento das coisas: imposição de limites que lhe reveste o pensamento com um véu de objetividade e verdade. Estamos falando de relações preexistentes entre formas de pensar, modos de olhar e ações de análise que são exacerbados pelo artista até se tornarem estruturas conceituais, esquemas compositivos e gestos poéticos, respectivamente.

 

Na obra de Moscheta, tudo que havia de peculiar, pesado e artificioso na organização dos já nostálgicos ficheiros das bibliotecas retorna ampliado e reformado por desígnios poéticos muitas vezes alimentados por imersões em paisagens desconhecidas e por projeções de forma, desenho e enquadramento. Assim, o que é dura artificialidade da organização do saber recebe uma paródia sagaz e se transmuta em lúdico arranjo.

 
É sabido que o pensamento analítico torna-se mais e mais cego para a totalidade do contexto quanto mais se aprofunda na tarefa de nomear e estruturar partículas menores e mais recortadas da realidade concreta – Marcelo Moscheta não corrige essa miopia, mas se aproveita dela para trapacear no jogo do pensamento moderno e criar suas máquinas de sonho presente.

Paulo Myiada

 

 

De 18 de junho a 01 de agosto.  

Bate-papo na Casa Daros

10/jun

A Casa Daros, Botafogo, Rio de Janeiro, RJ, realiza no próximo sábado, dia 13 de junho de 2015, às 17h, um bate-papo com o crítico de arte Luiz Camilo Osório e José Damasceno, artista integrante da exposição “Made in Brasil”, com mais outros sete artistas brasileiros. A conversa será sobre a trajetória do artista, suas influências e suas obras na exposição em cartaz na instituição. A entrada é gratuita e as senhas serão distribuídas meia hora antes na recepção.

Presença de Jean Boghici

09/jun

Nome fundamental do mercado de arte brasileiro, Jean Boghici, nascido em 1928, na Romênia, chegou ao Brasil em 1948 fugindo da Segunda Guerra na Europa, clandestino em um navio francês, após em anos em fuga ao lado de amigos judeus.  Iniciou suas atividades nos anos 1960, quando abriu, no Rio de Janeiro, a galeria Relevo. Jean Boghici, foi um dos maiores colecionadores de arte do país e pioneiro no mercado de arte brasileiro. Ao longo do tempo colecionou obras de artistas como Volpi, Guignard e Di Cavalcanti, mas também investiu em nomes como Antonio Dias, Ivan Serpa, Vegara e Rubens Gerchman. À frente da galeria que leva seu nome, em Ipanema, Boghici tinha um rico acervo, com trabalhos de Modigliani, Lucio Fontana, Rodin, Alexander Calder e Maria Martins, entre outros. Ajudou a formar duas das maiores coleções de arte brasileira, como as de Gilberto Chateaubriand e Sergio Fadel, e trouxe ao país obras de artistas internacionais como Corneille. O MAR, Museu de Arte do Rio, homenageou-o com a exposição intitulada “O Colecionador”, com quadros representativos do modernismo, do surrealismo, da pintura primitiva, da abstração informal, da abstração construtiva, da nova figuração e da pintura russa; sendo estes os maiores interesses de Boghici em termos de movimentos artísticos. Com 136 obras, de nomes como Tarsila, Lygia Clark, Di Cavalcanti, Brecheret, Kandinsky e Rodin, entre outros grandes artistas dos últimos séculos, a mostra recebeu 258 mil pessoas de março a setembro de 2013.

Manfredo na Galeria Bergamin

A exposição “Manfredo de Souzanetto “Paisagem ainda que”, entra em cartaz na Galeria Bergamin, Jardins, São Paulo, SP. Manfredo de Souzanetto é um dos nomes de ponta da arte contemporânea brasileira com vivência curricular profissional internacional.

 

 

Paisagem ainda que

Manfredo de Souzanetto – COR LOCAL

 

 

A presente mostra de Manfredo de Souzanetto na Galeria Bergamin, São Paulo, reúne uma seleção de quarenta anos da carreira do artista mineiro radicado no Rio. Fotos, pinturas e esculturas participam de uma trajetória iniciada em Belo Horizonte e amadurecida em Paris na década de 1970 que ainda hoje segue seus passos cadenciados e seguros. Nela se percebem dois traços característicos, frequentemente entrelaçados: a reflexão sobre a paisagem e a investigação de possibilidades em aberto para a pintura na contemporaneidade.
Desde o início a paisagem se colocara como um dado decisivo para o artista: a série de “postais” e um adesivo criado por ele chamavam a atenção para o desaparecimento por completo de montanhas por conta da mineração. Não deixava de haver um traço crítico e nostálgico perante essa transformação brutal da natureza, mas junto a ela vinha também a divagação simultânea sobre a estranha situação inerente à imagem fotográfica (ser o registro de uma memória e da perda de algo; aquela paisagem só sobrevive enquanto vestígio na imagem), uma reflexão sobre o trabalho artístico (bem como da atitude do espectador) de que criar um espaço é projetar literalmente a imaginação sobre o vazio. E, no que concerne a um problema “interno” da arte, tratava-se de estabelecer uma relação efetiva (e afetiva) com um determinado espaço cuja poesia não dependesse do recurso a mera representação lírica – isto é, a interpretação inspirada de uma cena, como, a título de comparação, fora a base de trabalho do romantismo um século e meio antes – e sim de uma encarnação física, uma (literalmente) corporificação de um motivo permeado de interesses tão distintos quanto uma luz especial ou um sentimento memorialista-nostálgico. Afinal, a arte moderna ensinou-nos que tudo isso era cabível na paisagem. O que ocupou as gerações posteriores era saber como reinventar essa relação. No caso de Manfredo, o que principia com os postais, cujas fotos são “retocadas” com a linha daquele espaço tornado invisível com sua desaparição, é de, partindo de um objeto essencialmente criado como souvenir, colocar-nos à prova de lembrarmos algo que talvez não tenhamos conhecido ou percebido, mas de cuja existência, não obstante, jamais duvidamos. A pressuposta impessoalidade de um objeto como o cartão-postal apenas reforça o descompasso visual de querer ver algo não mais disponível e malgrado seu fim, continuar crendo em sua existência. Mas, no fundo, não teria sido sobre isso que a paisagem sempre falou, desde quando promovida de um gênero secundário para a linha de frente da pintura moderna? Ao fim – e notaremos isso nas pinturas posteriores de Manfredo, o que se coloca é um convite ao espectador para reposicionar e alargar seu olhar. Isso mostra-se claramente quando nessas pinturas, o espectador não vê, mas entrevê e quase toca uma paisagem ali depositada.
Para Manfredo, a pintura (linguagem a que o artista também se dedica há décadas) se concentra na disponibilidade de exploração intercambiável e ilimitada de seus termos, mesmo que admitida uma quantidade limitada de variáveis. Das três gerações de artistas com as quais ele convive (daquela dos anos 1970 até as mais jovens, passando pelos anos 1980), talvez seja um daqueles que mais valorizou uma artesania em seus trabalhos. A plasticidade ganha um sentido alargado quando consideramos que a gestação da forma começa no esboço dos chassis. A pintura vai além da divagação a respeito de como ela corre ou se deposita sobre a superfície (ainda que isto seja algo que lhe interessa, ao nos determos na consistência argilosa de alguns planos), mas da superfície propriamente dita como problema de base e de conclusão da pintura, dado ela constituir as coordenadas a partir das quais, não importa qual noção de composição, dever-se-á por conta dela – e não de convenções assentadas passivamente – encontrar suas soluções. Isto porque mesmo quando o suporte é o retângulo mais comum, ativa-se sua opacidade inescapável enquanto geratriz do espaço. Se a sua silhueta admite qualquer desvio de seu formato usual, intensifica-se a constatação de que a pintura começa a partir deste dado material, ao qual conjugam-se outros, como a espessura sensual e corpórea do pigmento.
A artesania, portanto, não se manifesta na busca de um gestual marcado e único, mas nessa relação “orgânica” entre os materiais, deles obtendo resultados particulares, graças também a sua potencialização (isto é, eles não são nem dóceis nem inertes, podendo assumir diferentes aspectos). Seja ao decantar seus próprios pigmentos na produção das tintas (pigmentos estes, importante lembrar, extraídos das terras mineiras) ou ao desenhar os chassis das telas, Manfredo alarga e repensa o processo da pintura para além do preenchimento da superfície com pinceladas, entendendo-a como algo cuja espacialidade – tanto virtual da forma pintada quanto literal do objeto (o suporte) – começa a ser gestada na confecção mesma dos materiais. Isto fica claro nas obras surgidas a partir dos anos 1980, em que, por conta dessas diversas silhuetas dos chassis, a pintura ganha uma progressiva volumetria escultórica, na qual a composição do espaço interno da tela e seu formato tendem a coincidir, fazendo com que uma não seja apenas o “preenchimento” da outra. Complementa-lhe um sentido quase “arquitetural” da cor, que em sua delimitada gama, explicita a extensão do suporte, proporcionando-lhe um peculiar ajuste junto a parede, pois se a pintura tende com sua distensão homogênea a ajustar seu plano à continuidade da parede, ao mesmo tempo salta para além dela, dadas as reentrâncias e silhueta prismática da tela. Atentando para este fator mais cuidadosamente, vemos que ele parte de um prolongado debate da cultura moderna acerca da monumentalidade, por conta do dilema ocorrido entre o desejo de uma pintura com escalas ambiciosas e a preservação da regularidade, continuidade e ajuste da volumetria homogênea da parede e do prisma arquitetônico. Os planos largos de Manfredo apontam, por um lado, para este ajuste ponderado entre a pintura, sua superfície e a continuidade justa do lugar onde se escora (ou seja, a preservação do ritmo e simplicidade da parede); porém explora a dualidade dessa pintura não sublimar, mas, ao contrário, enfatizar sua histórica (e tensa) atitude de ecoar e duplicar o paralelismo dos planos pictóricos e o da parede. Quando, porém, o plano pictórico é vazado ou eviscerado por uma aresta protuberante ou um corte revelador do anverso da tela, a pintura é solicitada a reconhecer os complexos pactos entre ela e o muro, quebrando qualquer pretensão de naturalidade supostamente atribuída à parede. Nisto, pois, se revela a faceta escultórica desses quadros.
Na esteira destes pequenos achados aparecem os elos entre aqueles dois traços marcantes de sua produção acima indicados. Já em suas primeiras investidas na pintura, Manfredo recorria àquele caráter inerente à dinâmica da imagem. Conforme afirmado aqui, o fator emblemático da imagem é ela ser um resíduo de algo não mais visível. Do mesmo modo, nesses trabalhos iniciais o artista construía uma “pintura incidental”; as sutis e indeléveis camadas de cor diante de nós são, na verdade, a tinta vazada do verso da tela, ou seja, a pintura resulta de sua saturação. Por outro lado, a cor compacta dos trabalhos seguintes – a persistir ainda hoje – retoma a ligação com a paisagem. O pigmento decantado guarda consigo uma condição instigante: se ele fala de uma coisa que talvez não exista mais (uma montanha, para usar um exemplo forçado, mas não casual), é porque esta mesma coisa se metamorfoseou pelo corpo-cinzas do pigmento em uma outra entidade, isto é, o corpo do pigmento não deixa de ser uma cinza da paisagem também. É e não é a carne de uma paisagem perdida. A paisagem está (se não é) no pigmento, na cor. Há, por exemplo, a famosa história de Chopin que levou consigo uma caixinha de prata com terra da Polônia. Era bom ter sempre por perto algo especial, literalmente um pedaço de memória. Manfredo, nesse aspecto, não age diferente: a paisagem não precisa ser figurada porque ela – e todos os sentimentos que a envolvem – estão ali germinados no pigmento. Trata-se, porém, de mais do que uma pintura de paisagem; é uma pintura com a paisagem, uma pintura da paisagem, visto que ela é feita mais do que a partir da terra, do sentimento da terra.

 

 

Texto crítico: Guilherme Bueno

 

 

De 09 de junho a 10 de julho.

Visita guiada e catálogo

O artista Eduardo Coimbra lança, 17 de junho, às 19h, o catálogo de sua exposição individual “Uma escultura na sala”, na Galeria Laura Alvim, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. Haverá distribuição de exemplares aos presentes e visita guiada à exposição, junto com a curadora Glória Ferreira.

 

A mostra reúne 29 cubos de ferro em preto e branco, empilhados ou justapostos, que compõem uma única escultura que ocupa todo o espaço expositivo e cria novas áreas e percursos no circuito da galeria. De dimensões diversas e vazadas em duas faces, as peças podem ser ocupadas pelo visitante. A proposta do artista é que o visitante suba, sente e entre na obra.

 

“Uma escultura na sala” encerra o período da curadora Glória Ferreira, à frente da Galeria Laura Alvim desde 2013.

 

 

A exposição fica em cartaz até 28 de junho.

Gravuras de Rauschenberg

Em 1960, isolado em uma colônia de pescadores na Flórida, o artista texano dedicou-se a concluir uma série de trabalhos que recriavam graficamente os 34 cantos de Inferno, primeira parte de A Divina Comédia, clássico de Dante Alighieri. Nesse conjunto, Rauschenberg (1925-2008) usou uma técnica que investigava havia dois anos: a transferência de imagens de revistas, que recebiam solventes e eram posteriormente decalcadas. Utilizando ainda aquarela e lápis de cor, ele criou gravuras que, em 1965, seriam produzidas em uma edição fac-similar autorizada pelo próprio. Vêm daí as obras apresentadas, cada uma ao lado do respectivo canto. Trata-se de imagens que fogem do lugar-comum associado ao inferno — tão belas quanto alegóricas, são desafiadoras para qualquer um que deseje buscar nelas uma relação óbvia com o texto de Dante.
A exposição “Rauschenberg – O Inferno de Dante – Dante´s Inferno” – está em cartaz no Centro Cultural Correios, Centro, Rio de Janeiro, RJ.

 
Fonte: Resenha de Rafael Teixeira – Veja Rio.

 

Até 12 de julho.

Sua mensagem foi enviada com sucesso!