A obra de Luana Vitra em Nova Iorque.

17/jul

A prática de Luana Vitra está profundamente enraizada em sua terra natal, Minas Gerais – região marcada pela extração mineral e pela intensa presença do ferro, elementos que atravessam sua produção de forma recorrente. Sua pesquisa se ancora em tradições filosóficas e espirituais da diáspora afro-brasileira, nas quais a terra é frequentemente compreendida como uma ancestral. Esta exposição no  SculptureCenter, Nova Iorque, USA, amplia as investigações recentes de Luana Vitra em torno da materialização da força energética e simbólica de elementos naturais como a pedra, o barro e a areia. Aqui, ela entende os minerais como mediadores entre mundos seculares e espirituais – receptores, condutores, transformadores e sedimentadores de energia -, atribuindo-lhes forma por meio de uma nova instalação escultórica.

Em “Amulets”, Luana Vitra convida o público a olhar para além das propriedades materiais dos minerais e de sua circulação como mercadorias, e a imaginar as dimensões espirituais a que pertencem. As formas que emergem em sua prática se tornam orações visuais, encantamentos ou manifestações de uma energia ancestral. A exposição “Amulets” se abre com uma cortina ultramarina – tonalidade associada ao lápis-lazúli, mineral tradicionalmente utilizado em rituais espirituais. As esculturas verticais em ferro – formas que surgiram à artista em sonhos – são concebidas como manifestações corpóreas do espírito mineral; a areia ao seu redor atua como proteção para o fluxo desses movimentos.

Luana Vitra: Amulets é organizada por Jovanna Venegas, curadora. Por ocasião da mostra, o SculptureCenter publicará o primeiro catálogo da artista em inglês (lançamento previsto para a primavera de 2025), com ensaio comissionado de Gabi Ngcobo, diretora do Kunstinstituut Melly (Roterdã); uma entrevista entre Luana Vitra e Diane Lima, curadora e escritora independente baseada em Nova York; e um texto curatorial de Jovanna Venegas. O projeto gráfico é assinado pelo Studio Lhooq.

Duas exposições na Paulo Darzé Galeria.

Na exposição “Arquétipos”, O Bastardo aprofunda sua investigação visual sobre a ancestralidade negra e seus desdobramentos simbólicos no presente, transformando suas figuras em portais entre passado, presente e futuro. A série de obras apresentadas parte de arquétipos ancestrais para tensionar o modo como essas imagens fundadoras atravessam a diáspora e se atualizam em corpos e narrativas contemporâneas.

A mostra “Arquétipos” será inaugurada no dia de 22 de julho e ficará disponível para visitação até o dia 23 de agosto, na Rua Dr. Chrysippo de Aguiar, 8, Corredor da Vitória, Salvador, BA.

Outra mostra que a Paula Darzé Galeria apresenta é a individual de Nádia Taquary, artsita baiana que vive e trabalha em Salvador. Cresceu em Valença, litoral baiano. Licenciada em Literatura  pela UCSal (Universidade Católica de Salvador/Bahia), pós-graduada em Estética, Semiologia e Cultura pela EBA-UFBA (Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia). A sua obra abrange esculturas, objetos-esculturas, instalações e videoinstalações que revelam uma investigação artística de uma poética relativa à História do Brasil, através de um olhar contemporâneo sobre a tradição, a herança africana, a ancestralidade diante da opressão e da esperança de liberdade.

Revisão do POP nacional.

Made in Brazil: Entre desejo, bandeiras e censura, arte pop brasileira ocupa a Pinacoteca de São Paulo.

Às vésperas do carnaval de 1968, centenas de pessoas se reuniram em Ipanema, no Rio de Janeiro, para um evento que ficaria conhecido como o “Happening das bandeiras na Praça General Osório”. Estandartes se espalharam em uma intervenção coletiva de artistas que queriam extrapolar o ambiente dos museus e galerias e criar espaços alternativos de cultura, reivindicando a esfera pública que havia sido silenciada e esvaziada pela ditadura militar. Transformando a rua em festa – com a presença, inclusive, de músicos da Estação Primeira de Mangueira -, estes sujeitos articularam a participação do espectador nas obras, questionando o sentido da arte em um mundo difícil e violento.

Hoje, as bandeiras serigrafadas que fugiam do espaço institucionalizado agora ganham destaque na exposição “Pop Brasil: vanguarda e nova figuração, 60-70″, em cartaz na  Pina Contemporânea, São Paulo, SP, até outubro. Reunindo cerca de 250 obras emblemáticas da segunda metade do século 20, a mostra faz uma espécie de “retrato de geração” de artistas que exploraram a linguagem da pop arte em um contexto de crise política e ascensão da cultura de massa, tendo reagido ao golpe militar de 1964, ao endurecimento do regime em 68, ao silêncio depois de 70 e, finalmente, ao processo de redemocratização a partir de 80. Em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, outros aspectos do espaço urbano também chamaram atenção dos artistas da década de 60. Contraditória e em constante transformação, a rua foi compreendida como um ambiente de controle e vigilância e, ao mesmo tempo, como território de expressões populares e de resistência.

Na exposição, diversas obras exploram a visualidade do cotidiano (com a apropriação de signos urbanos como letreiros, anúncios e fachadas); ruídos da cidade o futebol como paixão nacional e identidade coletiva; as manifestações e passeatas estudantis; e os corpos em movimento. Inspirados nessa efervescência, os visitantes poderão ainda experimentar e “ativar” os famosos Parangolés de Hélio Oiticica. Com curadoria de Pollyana Quintella e Yuri Quevedo, “Pop Brasil: vanguarda e nova figuração, 1960-70″ segue em cartaz até 05 de outubro e é imperdível para quem passa por São Paulo. Depois, a mostra viaja para a Argentina e passa a ser exibida no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (MALBA), a partir de 05 de novembro.

Texto: Carla Gil, pesquisadora independente e graduada em Arte: História, Crítica e Curadoria pela PUC-SP.

Variedade de escalas e intensidades.

16/jul

A Anita Schwartz Galeria de Arte, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, exibe até 23 de agosto, a exposição “Quimera”, de Fernando Lindote.

Artista com trajetória de quase cinco décadas, reconhecida por diversas premiações no campo das artes plásticas, Fernando Lindote mergulha nesse gesto técnico e reflexivo a partir do estudo de diferentes períodos da História da Arte, da Filosofia e das formas de ver o mundo de cada época. Realizando pesquisas materiais com pigmentos e vernizes, o artista investiga como a tinta se comporta sobre a tela. A floresta, nesse contexto, torna-se metáfora e método: “uma grande pinacoteca”, como ele define poeticamente, nas quais inúmeras possibilidades de pintura estão guardadas.

Ao conceber as obras reunidas em “Quimera”, o artista pensou não apenas nas imagens, mas na forma como o público se relacionaria com elas no espaço da galeria. “Pensei essa relação do espectador com a distância dos trabalhos”, comenta. A mostra apresenta tanto telas que exigem distância para a percepção de suas camadas quanto obras menores, de leitura mais intimista. Essa variedade de escalas e intensidades cria um percurso visual dinâmico que exige presença, reforçando o entendimento do artista de que sua pintura “não se esgota na imagem e precisa ser vivida”.

Outro eixo central da exposição é a crítica ao modelo clássico de composição que coloca o sujeito no centro da cena. As obras reunidas em “Quimera” propõem uma reorganização da estrutura pictórica ao explorar o embate entre figura e fundo. Aqui, todos os elementos visuais disputam o olhar do visitante, num jogo de planos e protagonismos que remete a nomes como Henri Matisse. A referência ao conceito de mundanidade, proposto pelo pensador palestino-estadunidense Edward Said, aproxima a exposição dos debates contemporâneos sobre representação, história e política na arte

Sobre o artista.

Fernando Lindote nasceu em 1960, em Sant’ana do Livramento, RS, vive e trabalha na Ilha de Florianópolis, SC. Artista multimídia cuja prática artística transita por diversas linguagens como pintura, desenho, escultura, instalação e vídeo. Fernando Lindote explora questões relacionadas à cultura popular, memória, o corpo e suas representações. Participou de diversas exposições de destaque, como a Bienal de São Paulo e a Bienal do Mercosul, além de realizar mostras individuais no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no Instituto Tomie Ohtake. Suas obras integram importantes coleções públicas e privadas, como a do Museu de Arte Contemporânea de Niterói e o Museu de Arte do Rio Grande do Sul. Ao longo de sua carreira, recebeu prêmios significativos, como o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea, consolidando-se como uma figura relevante no cenário da arte contemporânea brasileira. Dentre suas exposições individuais, destacam-se Quanto pior, pior (Instituto Tomie Ohtake, 2023), Fernando Lindote: trair Macunaíma e avacalhar o Papagaio (MAR, 2015), e 1971 – a cisão da superfície (CCBB Rio, 2012). Participou de mostras como a 29ª Bienal de São Paulo (2010) e a 10ª Bienal do Mercosul (2015). Recebeu o Prêmio Marcantonio Vilaça (2017-2018) e o Prêmio Mário Pedrosa (2022), suas obras integram coleções como as do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo e do Museu de Arte do Rio. Além de prêmios, como o de Aquisição no Salão Nacional de Artes Plásticas (1987), foi bolsista da Fundação Vitae.

O Tempo das Coisas Vivas.

O pensamento do filósofo e sociólogo francês Michel Maffesoli – Ecosofia – é o vetor poético da exposição coletiva “O Tempo das Coisas Vivas”, no Centro Cultural Correios Rio de Janeiro, com inauguração no dia 23 de julho de 2025. A partir da ideia de que a vida contemporânea se estrutura a partir interações dinâmicas e nem sempre harmônicas, ou seja, uma ecologia da vida cotidiana ancorada em um novo paradigma ético, estético e existencial a exposição percorre camadas invisíveis da experiência do viver, tensionando os limites da vida contemporânea diante da crise ecológica e da exaustão dos valores modernos.

Com curadoria de Shannon Botelho, a mostra apresenta obras dos artistas Ana Miguel, André Vargas, Beatriz Lindenberg, Bruno Romi, Cibelle Arcanjo, Cildo Meireles, Hilal Sami Hilal, Marina Schroeder, PV Dias, Rodrigo Braga, Simone Cosac Naify, Simone Dutra e Yhuri Cruz, e convoca os visitantes a desacelerar o olhar e a acolher os sinais do presente como indícios de outros futuros possíveis.

Beth Ferrante na Candido Mendes.

Uma galeria de retratos de autorretratos de artistas mulheres, todas emblemáticas à História da Arte no Ocidente, América Latina, Leste Europeu, Oriente Médio e Brasil. Este é o mote de “Não Sou Teus Olhos”, mostra individual que a artista Beth Ferrante apresenta no dia 06 de agosto, na Galeria Candido Mendes, Ipanema , Rio de Janeiro, RJ,com curadoria de Denise Araripe. Trata-se de uma contraofensiva à misoginia da história oficial da arte enquanto forma aguda da história da cultura ou das sociedades, marcada por programática supressão das contribuições femininas. Em pequenos e médios formatos, os retratos reunidos sugerem certa inconclusão antipreciosista, entregam bustos frontais, de escala direta – sob relação aproximada com o sujeito da experiência, e individualizações gestuais e cromáticas flexibilizando os campos visuais.

A palavra da artista.

“O pressuposto é um enfrentamento e um revisionismo crítico que exceda o caráter elogioso da citação – uma das chaves da apropriação características da pós-Modernidade. Daí a ideia de assumir flagrantes desvios das obras-referências, em lugar de mimetizá-las. Destaco o aparecimento dos textos feministas atuais em retratos das impressionistas Eva Gonzalès e Berthe Morisot, a presença da cor conceitual e antinaturalista no isolado “Djanira”, do azulado tabagismo “anti-status quo” e os fragmentos de falas conscientes da cineasta argentina Maria Luiza Bemberg, da artista visual guatemalteca Margarita Azurdia, da multidisciplinar mexicana Maria Eugênia Chellet e da mineira Teresinha Soares, pioneira da performance e do debate de gênero. Todas elas integrantes de movimentos por direitos civis das mulheres, reivindicando igualdade política, social e jurídica”.

Sobre a artista.

Beth Ferrante é artista visual, com graduação em História (UCAM/Rio, 2008) e Especialização em História da Arte e da Arquitetura no Brasil (PUC-Rio, 2010). A partir de 2003, no Rio de Janeiro, faz formação em arte contemporânea com José Maria Dias da Cruz, João Magalhães, Luiz Ernesto e Daniel Lannes, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage; com Charles Watson no ateliê-residência “Dynamics Encounters”; na “Escola sem Sítio”, com Cadu, Efraim Almeida e Marcelo Campos. Atualmente integra o grupo de trabalho da oficina “Antiformas da Intervenção” na EAV-Parque Lage – sob a orientação de David Cury. Participou dentre outras, das exposições coletivas Progetto Imago Mundi (Fondazione Giorgio Cini, Veneza, 2016); Do Tempo ao Tempo que Desaparece (Galeria Modernistas, Rio, 2016); Complementares (Galeria do Café Baroni, Rio, 2016); Projeto Farol “Poesia do Dia a Dia” (Espaço Cultural Sérgio Porto, Rio, 2017; Carpintaria para Todos (Galeria Fortes D’Aloia Gabriel, 2017; Flutuantes (Paço Imperial, Rio, 2018).

Em cartaz até 28 de agosto.

Carlos Trevi em exposição na Ocre Galeria.

14/jul

A mostra “Ascensão”, na Ocre Galeria, Porto Alegre, RS, de 19 de julho a 16 de agosto, do artista e gestor cultural Carlos Trevi, propõe nova leitura para fragmentos do cotidiano em suas esculturas; os trabalhos revelam a transformação de objetos outrora descartados, que agora se convertem em novas estruturas poéticas; com curadoria de André Severo e texto crítico de André Venzon, a exposição é uma travessia simbólica entre matéria e memória.

Trata-se da primeira grande mostra individual de Carlos Trevi na capital gaúcha que exibe um conjunto de 30 esculturas verticais, das mais variadas formas e tamanhos, que ressignificam fragmentos esquecidos, como: taças, cristais, pés de móveis, bibelôs e ornamentos, passando a formarem estruturas que evocam memória, beleza e transcendência. As obras são compostas por elementos que tiveram outras funções e que, reorganizados em colunas e totens, ganham novos significados. Ao reunir pedaços de madeira, ferro, fios, tecidos e outros materiais, o artista constrói estruturas que evocam uma arqueologia afetiva, onde cada fragmento guarda o silêncio do que já foi e a potência do que pode vir a ser.

“Sempre me interessei pelo que os objetos ainda têm a dizer, mesmo quando parecem esquecidos. Gosto de pensar que cada peça carrega uma memória silenciosa, e meu papel como artista é oferecer a ela uma nova chance de expressão”, explica Carlos Trevi. Resultado de uma pesquisa desenvolvida ao longo dos últimos anos, a mostra “Ascensão” investiga os sentidos simbólicos da matéria e sua capacidade de transformação com o passar do tempo. Nas esculturas, Carlos Trevi não apenas reformula os objetos: ele ativa suas memórias, criando uma linguagem que transita entre o sensível e o espiritual.

Sobre o artista.

Natural de São Paulo, graduado em Administração atua como gestor e curador à frente de importantes instituições culturais. Desde 2015 mantém residência e ateliê em Porto Alegre, onde desenvolve seus trabalhos na forma de objetos e assemblages. Em 2014 realizou sua primeira exposição individual “Carlos Trevi – Territórios da memória”, na galeria Sobrado Escritório de Arte em Olinda (PE), com curadoria de Raul Córdula. Tem obras no acervo do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Museu do Estado de Pernambuco e em coleções particulares.

Sobre o curador.

Nascido em Porto Alegre (1974), André Severo é artista, curador e gestor cultural. Mestre em Poéticas Visuais (UFRGS), fundou o projeto Areal em 2000, com foco em arte contemporânea fora dos grandes centros urbanos. Criou projetos como Lomba Alta, uma residência artística, e Dois Vazios, que une cinema e artes plásticas. Realizou mais de dez filmes e instalações audiovisuais e publicou livros como Consciência errante e Soma. Foi curador da 30ª Bienal de São Paulo e da representação brasileira na 55ª Bienal de Veneza. Recebeu o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea (2014) e o V Prêmio Açorianos de Artes Plásticas.

Sobre o crítico.

André Venzon vive e trabalha em sua casa-ateliê-galeria, no 4º Distrito de Porto Alegre. Artista visual, curador e gestor cultural, é mestre em Poéticas Visuais (PPGAV/IA-UFRGS), especialista em Gestão e Políticas Culturais (Universidade de Girona/Espanha) e graduado em Artes Visuais (IA-UFRGS). Atuou como presidente da Associação Chico Lisboa, Conselheiro Estadual de Cultura, membro do Colegiado Nacional de Artes Visuais e diretor do MACRS por duas gestões. Desde 2018, coordena a Galeria da Fundação ECARTA e é o atual diretor artístico do Instituto Cultural Laje de Pedra, em Canela (RS).

Uma escrita personalizada.

11/jul

O multiartista Patrick Conrad, belga de origem, também escritor e cineasta consagrado internacionalmente, abre sua primeira exposição individual no Brasil na Pinacoteca Municipal de Porto Alegre, RS. Patrick Conrad exibe cerca de uma centena de obras já realizadas em solo nacional distribuídas em técnicas diversas com especial destaque para suas inusitadas composições de cunho acentuadamente surrealista. Trabalhos de forte impacto visual de construção e desconstrução da figura humana expressas em uma escrita altamente personalizada.

Blinded by the Light na Casa da Cultura de Comporta.

A Fortes D’Aloia & Gabriel convidou a Mendes Wood DM para colaborar na quinta edição de sua mostra anual de verão em Comporta, Portugal. “Blinded by the Light” – em cartaz até 30 de agosto – é uma exposição coletiva que percorre a relação entre luz e sombra, explorando seu poder transformador como forças capazes de alterar tanto o ambiente físico quanto os estados psicológicos. Nesse contexto, a paisagem torna-se um espaço de transformação, onde fenômenos de percepção, memória e tempo convergem.

No cenário sociopolítico contemporâneo, experiências de sobrecarga sensorial e privação semântica se entrelaçam e disputam nossa apreensão da realidade. O ato de obscurecer e revelar torna-se não apenas uma exploração formal, mas também uma metáfora para as configurações turbulentas de Estados, fronteiras, logísticas sociais e imperativos políticos que regem o momento atual. As obras apresentadas em “Blinded by the Light” navegam pelo espectro entre o brilho e a sombra, o claramente definido e o nebuloso. A exposição abrange uma variedade de mídias, da pintura e fotografia à escultura e ao cinema.

A mostra apresenta obras inéditas de Laís Amaral, Paloma Bosquê, Rodrigo Cass, João Maria Gusmão, Marina Perez Simão, Marina Rheingantz, Maaike Schoorel, Pol Taburet, Antonio Tarsis e Janaina Tschäpe, além de trabalhos recentes de Nina Canell, Matthew Lutz-Kinoy, Leticia Ramos, Mauro Restiffe, Erika Verzutti, e pinturas históricas de Frank Walter.

Idealizado por Maria Ana Pimenta, sócia e diretora internacional da Fortes D’Aloia & Gabriel, o projeto Comporta estreou em 2021 e desde então se consolidou como uma plataforma vibrante de intercâmbio artístico, indo além dos modelos tradicionais de exposição. Instalado na Casa da Cultura – um antigo celeiro de arroz transformado em espaço cultural, parte da Fundação Herdade da Comporta – o projeto mistura arte contemporânea com a atmosfera única da região, proporcionando um ritmo mais lento e contemplativo de fruição. Enraizado na abertura e no diálogo, o projeto reflete o espírito colaborativo da galeria, fomentando parcerias significativas com instituições que compartilham dessa mesma visão. Esse formato flexível permite um processo curatorial mais intuitivo e cultiva sinergias únicas, incentivando novas conversas com parceiros afins. Ao longo dos anos, a Mostra de Verão de Comporta tornou-se um ponto de encontro para colecionadores, curadores, artistas e galeristas, oferecendo um ambiente mais espontâneo e orgânico do que os circuitos formais de feiras e galerias de arte.

A exposição de 2025 será acompanhada por um ensaio de Cindy Sissokho, curadora e produtora cultural que co-curou o Pavilhão Francês na 60ª Bienal de Veneza em 2024.

Figuras imaginadas de Zélio Alves Pinto.

Com curadoria de Agnaldo Farias, a mostra – em cartaz até 15 de agosto – reúne cerca de 20 obras do artista Zélio Alves Pinto realizadas nas últimas décadas do século XX, em técnicas como pintura, desenho, xilogravura e colagem. Trata-se da primeira individual do artista em mais de 10 anos.

A Galeria MAPA, Consolação, São Paulo, SP, inaugura a exposição “ZÉLIO. Imagens e figuras imaginadas”, dedicada à produção do artista Zélio Alves Pinto produzidas entre os anos 1980 e 2000. A mostra, com curadoria de Agnaldo Farias, reúne cerca de 20 obras em técnicas diversas, como pintura, desenho, xilogravura e colagem, e lança foco sobre um período de inflexão em sua trajetória, na qual o artista desloca a prática gráfica cotidiana para uma pesquisa mais contínua e autoral no campo das artes visuais.

Reconhecido por sua atuação múltipla, Zélio Alves Pinto construiu desde os anos 1960 uma trajetória que abrange o cartum, a publicidade, o design gráfico e a direção institucional. Colaborou com publicações nacionais e internacionais como O Pasquim, Senhor, Le Rire (Paris) e Punch Magazine (Londres). A partir dos anos 1970, passou a dedicar-se com maior regularidade à produção artística, realizando exposições em instituições como MASP, MAM-RJ, Museu Real da Bélgica e em Nova York. Essa circulação entre linguagens e contextos fornece um repertório visual que permeia sua produção com referências cruzadas.

A curadoria de Agnaldo Farias propõe uma leitura concentrada nas relações visuais que organizam a obra de Zélio nesse momento. O conjunto apresentado evidencia procedimentos recorrentes – como o uso da linha como contorno e estrutura, a justaposição entre formas orgânicas e elementos gráficos, e a aparição de figuras ambíguas, entre o humano e o fabuloso. Trata-se de um recorte específico, que não busca retrospectiva, mas observação aprofundada de um período onde artista reinventa modos de narrar por meio da imagem. Com mais de uma década desde sua última exposição individual, “ZÉLIO – Imagens e figuras imaginadas” representa a reabertura pública de um segmento expressivo da produção do artista, articulando obras pouco vistas e outras ainda inéditas em São Paulo.