Galeria Movimento comemora um ano na Gávea

26/out

 

A Galeria Movimento comemora um ano de sua sede na Gávea com a exposição “Oráculo” que reúne pinturas inéditas de Marcela Gontijo com abertura no dia 05 de novembro, às 14h. A artista nasceu em Belo Horizonte e está radicada em Brasília. Marcela Gontijo usou o tratado milenar chinês “I Ching” (o “Livro das Mutações”) para criar uma série de obras em que adiciona o acaso – os hexagramas resultantes do jogo de moedas – a seu processo de construção das tramas de linhas horizontais e verticais em cores fortes. Marcela Gontijo tomou contato com o “I Ching” quando morou em Hong-Kong, entre 2012 e 2015, e ao voltar ao Brasil começou a experimentar este sistema em seu trabalho, cujos resultados são agora apresentados ao  público. A exposição tem curadoria de Felipe Scovino.

A Galeria Movimento inaugurou seu espaço no Baixo Gávea com a exposição, “O Banquete”, também com obras de uma artista mulher, Viviane Teixeira, e curadoria de Victor Gorgulho. Desde então, já fez mais cinco exposições, entre coletivas e individuais, com os artistas Arthur Arnold, Edu Monteiro, Hal Wildson, Jan Kaláb, Marcela Gontijo, Marcos Roberto, Mateu Velasco, Paulo Vieira, Pedro Carneiro, Tinho, Viviane Teixeira e Xico Chaves.

 

 

Olhar histórico

24/out

 

O Sesc Pinheiros, São Paulo, SP, apresenta até 15 de janeiro de 2023, a exposição “Desvairar 22”. Com curadoria de Marta Mestre, Veronica Stigger e Eduardo Sterzi, a mostra parte da Semana de Arte Moderna de 1922 para rememorar alguns dos acontecimentos que marcaram aquele ano, como o Centenário da Declaração da Independência do Brasil, a Exposição Internacional do Centenário, a primeira transmissão de rádio no país e a descoberta da tumba do faraó Tutancâmon.

“Rememorar, por meio de datas marcantes, acontecimentos de repercussão histórica pode possibilitar a identificação, por meio de novos olhares, de fricções e choques presentes em circuitos já desgastados, com reparações que só serão possíveis a partir do envolvimento da coletividade”, afirma Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo.

“Desvairar 22” se propõe a explorar caminhos ainda não percorridos: “Escolhemos duas imagens fundamentais em torno das quais organizamos nossa comemoração. Os “índios errantes” que, de “O Guesa” de Sousândrade ao “Macunaíma” de Mário de Andrade, povoam os sonhos de escritores e artistas como imagem por excelência dos povos por vir, e um Egito mítico, sobretudo, delirante, invocado com frequência nas artes, como uma espécie de alegoria do próprio inconsciente do tempo na sua busca por outra origem e outra história”, justificam os curadores. A mostra reúne mais de 270 itens de artes visuais, música, literatura e arquitetura, que serão apresentados em quatro diferentes núcleos.

 

Percorrendo a exposição

“Desvairar 22” ocupa o espaço expositivo do 2º andar, mas já está presente logo na chegada à unidade. Uma charge da cartunista Laerte – em que esfinge pede: “Decifra-me outra hora” – reproduzida no muro de 22m x 6m da entrada do Sesc Pinheiros.

“Está fundado o desvairismo”. Com a frase de “Paulicéia Desvairada”, de Mário de Andrade e ao som de “Alalaô” (“Allah-lá-ô”), marchinha do Carnaval de 1941, o público adentra a coletiva e chega em uma espécie de “prólogo da mostra”, como definem os curadores, que tem “Calmaria II”, de Tarsila do Amaral, como um dos destaques dessa área. A pintora modernista visitou o Egito em 1926, com o então marido Oswald de Andrade, e referências dessa viagem estão nessa e em outras de suas obras. Flávio de Carvalho, Vicente do Rego Monteiro, Murilo Mendes e Graça Aranha também estão nesta seção, que leva o visitante até um sarcófago egípcio original. Ele está no centro da exposição, que tem uma montagem circular e seis vias a serem percorridas.

O primeiro núcleo é “Saudades do Egito”. “A terra dos faraós e dos sacerdotes, das pirâmides e das esfinges, vem inquietando há tempos a narrativa linear da cultura dita ocidental. A modernidade, com a invenção do turismo e da fotografia, renovou esse interesse pelo país, que agora é não só origem, mas também destino”, diz a curadoria. Nesta seção estão fotos da expedição que D. Pedro II fez ao Egito na década de 1870. Apesar de ter visitado o país aos 45 anos, o imperador era um “egiptomaníaco” desde a infância. Da viagem, trouxe muitos artefatos históricos, que formaram um dia o maior acervo egípcio da América Latina, mas grande parte dele se perdeu com o incêndio em 2018 do Museu Nacional do Rio de Janeiro. A descoberta da tumba de Tutancâmon é lembrada em jornais da época. A arquitetura “faraônica” de Brasília está representada em fotos de Marcel Gautherot e na série “Estudo de caso Kama Sutra”, da artista Lais Myrrha. A inspiração do Egito se revela na ópera “Aída”, em músicas de Margareth Menezes e Jorge Benjor e em videoclipe do grupo É o Tchan. As raízes negras do país africano também são ressaltadas no núcleo em obras como as de Abdias do Nascimento.

“Os Ossos do Mundo” é o título de um livro de Flávio de Carvalho, que mostra seu fascínio pelas ruínas e coleções dos museus como uma forma de penetrar nas várias camadas da história que formaram indivíduos e sociedade, ajudando a entender o presente e também o futuro. Neste núcleo se destacam imagens do desmonte do Morro do Castelo, no Rio de Janeiro.  Símbolo do passado colonial português, ocupava uma área de 184 mil m2, e foi destruído em nome de uma modernização urbanística e a construção dos pavilhões para a Exposição Internacional do Centenário. Figuras que remetem às múmias aparecem em obras como a de Cristiano Leenhardt.  Originário do Egito, o mosquito Aedes aegypti também ganha espaço, surgindo em uma tela de Oswald de Andrade Filho e em “Farra do Latifúndio”, obra inédita de Vivian Caccuri.

O próximo núcleo é “Meios de Transporte”. “A revolução tecnológica da modernidade encurtou distâncias e abriu caminhos novos para o corpo humano e, ao mesmo tempo, colocou-o diante de perigos e impasses inéditos. Não por acaso, a imaginação modernista incorporou obsessivamente a suas criações esses novos veículos que alteraram para sempre a face do mundo”, explicam os curadores. Há registros da passagem do dirigível Graf Zeppelin pelo Brasil nos anos 1930 e de um bonde empacado fotografado por Mario de Andrade. Mas o núcleo não se restringe a veículos de locomoção. “Pelo telefone” é o primeiro samba registrado fonograficamente. Daniel de Paula transforma em escultura uma luminária sucateada da Avenida Paulista, em São Paulo. Gravações feitas por Roquette Pinto de canções dos indígenas Pareci e Nambikawara e obras de Denilson Baniwa que inserem aparelhos tecnológicos no cotidiano indígena preparam o visitante para o último núcleo.

“Índios Errantes” se dá na contramão da idealização do indianismo romântico. É menos a “Iracema” de características europeias de Antônio Parreiras e mais o “Macunaíma” revisitado por Fernando Lindote. O núcleo traz obras de Anna Maria Maiolino, Carybé, Flávio Império, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Paulo Nazareth e Regina Parra. Registros da expedição realizada por Mário de Andrade à região amazônica em 1927 e fotos de Claudia Andujar e Alice Brill também estão presentes nesta seção.

A literatura é parte muito relevante da exposição, tangenciando e desdobrando sua pesquisa. Em toda a mostra, há trechos de autores diversos, que vão de Clarice Lispector a Ana Cristina Cesar, de Menotti del Picchia a Glauber Rocha. Em “Índios Errantes” ganha destaque um texto de 2018 do artista indígena Jaider Esbell, morto no ano passado. “O ser que sou, eu mesmo, é homem, um guerreiro pleno de 1,68 metros, 82 kg, 39 anos. É livre como deve ser. É livre como é meu avô Makunaima ao se lançar na capa do livro do Mário de Andrade (…)”.

Encerrando a visita, na varanda ao ar livre, o público conhecerá a instalação dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, campeões pela Acadêmicos do Grande Rio neste ano. “Exunautas” é uma remontagem de parte do carro alegórico que encerrou o desfile da escola de samba na Sapucaí. Ela traz sete esculturas que representam o orixá Exu e suas dimensões transformadoras.

“Desvairar 22” integra a ação em rede “Diversos 22: Projetos, Memórias, Conexões”, desenvolvida pelo Sesc São Paulo.

 

Sobre os curadores

Marta Mestre é curadora e trabalha em Portugal e no Brasil. Atualmente é diretora artística do Centro Internacional das Artes José de Guimarães. Foi curadora no Instituto Inhotim, curadora-assistente no MAM-Rio, curadora-convidada e docente na EAV-Parque Lage. É membro do Conselho Geral da Universidade do Minho, Portugal. Entre outros projetos, foi curadora de “Farsa” (SESC-Pompéia, São Paulo, 2020) e “Alto Nível Baixo” (Galeria Zé dos Bois, Lisboa, 2020). Atualmente prepara a retrospectiva “Philippe Van Snick: Dynamic World” (S.M.A.K, Ghent, Bélgica), que será inaugurada em 2022.

Veronica Stigger é escritora, curadora independente e professora universitária. Foi curadora, entre outras, das exposições “Maria Martins: metamorfoses” e “O útero do mundo”, ambas no MAM (São Paulo, 2013 e 2016); co-curadora, ao lado de Eduardo Sterzi, de “Variações do corpo selvagem: Eduardo Viveiros de Castro, fotógrafo”, no Sesc Ipiranga (2015), Sesc Araraquara (2016), Weltkulturen Museum (Frankfurt, 2017) e CIAJG – Centro Internacional das Artes José de Guimarães (Guimarães, 2019); e co-curadora, ao lado de Eucanaã Ferraz, de “Constelação Clarice”, no Insituto Moreira Salles (São Paulo, 2021 e Rio de Janeiro, 2022) . Com a exposição sobre Maria Martins, angariou o Grande Prêmio da Crítica da APCA e o Prêmio Maria Eugênia Franco, concedido pela ABCA para melhor curadoria do ano.

Eduardo Sterzi é escritor, crítico literário e professor de Teoria Literária na Unicamp. Autor dos volumes de estudos literários “Por que ler Dante” e “A prova dos nove: alguma poesia moderna e a tarefa da alegria”, ambos de 2008, e “Saudades do mundo”, que será publicado ainda em 2022. Organizou também “Do céu do futuro: cinco ensaios sobre Augusto de Campos”. Foi co-curador das exposições “Variações do corpo selvagem: Eduardo Viveiros de Castro, fotógrafo” (SESC Ipiranga, 2015; SESC Araraquara, 2016; Weltkulturenmuseum, Frankfurt, Alemanha, 2017; e CIAJG – Centro Internacional das Artes José de Guimarães, Guimarães, Portugal, 2019), e “Caixa-preta”(Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, 2018).

 

Sobre o Projeto Diversos 22

“Diversos 22 – Projetos, Memórias, Conexões” é uma ação em rede do Sesc São Paulo, em celebração ao Centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 e ao Bicentenário da Independência do Brasil em 1822, com atividades artísticas e socioeducativas, programações virtuais e presenciais em unidades na capital, interior e litoral do estado de São Paulo, com o objetivo de marcar um arco temporal que evoca celebrações e reflexões de naturezas diferentes, mas integradas e em diálogo, acerca dos projetos, memórias e conexões relativos à efeméride, no sentido de discuti-los, aprofundá-los e ressignificá-los, em face dos desafios apresentados no tempo presente.

 

 

Segredos e enigmas de Lize Bartelli

21/out

A Simões de Assis, Jardins, São Paulo, SP, apresenta a mostra “Skeleton Closet”, primeira individual de Lize Bartelli em seu espaço paulista. A série “Skeleton Closet” é um vislumbre da construção de um mundo que mistura imaginação e realidade, propondo criações figurativas, mas não necessariamente realistas. A artista convida amigas e familiares a posar para retratos absolutamente íntimos, geralmente solitários, em ambientes particulares e interiores domésticos. Ocasionalmente, um gato ou uma criança acompanham as modelos, carregando as cenas de um simbolismo misterioso. Lançando mão de cores não-naturalistas, as peles das figuras são esverdeadas e azuladas, evocando certa decadência, a mortalidade inerente a todas nós. O próprio título da mostra alude aos esqueletos no armário, apontando, de um lado, para o aspecto da morte, enquanto também sugere os segredos e enigmas que todas as suas personagens insinuam.

 

Até 10 de dezembro.

 

Celebração do artista e sua obra

 

“BARAVELLI 80″ é uma exposição organizada pela Fundação Stickel, Vila Olímpia, São Paulo, SP, em colaboração com a Galeria Marcelo Guarnieri que celebra os 80 anos do artista Luiz Paulo Baravelli. Serão apresentadas 57 obras do artista, cada uma correspondente a um dos seus 57 anos de carreira, desde 1965 até 2022. Pinturas, desenhos e relevos que manifestam o seu interesse pela arquitetura, pelo desenho da figura humana e pela pintura de paisagem, e que propõem um diálogo descontraído com a tradição. Para fazer companhia às suas obras, Baravelli convocou “Amigos e Vizinhos”, que segundo ele, foram – e ainda são – seus guias e orientadores ao longo de sua trajetória. Cerca de 200 imagens de obras de arquitetos, artistas, cartunistas e designers apresentados na exposição em formato de vídeo dão conta de aproximar o público visitante ao repertório do artista, que abarca desde uma pintura de Giotto de 1304, uma escultura de Barbara Hepworth de 1943, o still de uma cena do desenho animado “Os Jetsons” de 1962, até uma escultura de Martin Puryear de 2005.

Formado arquiteto e consagrado como pintor, Baravelli experimenta com o espaço tridimensional, tanto no campo físico, como no campo virtual de suas pinturas e desenhos. Em sua obra, as noções de perspectiva, planta, elevação e corte provenientes da linguagem da arquitetura são utilizadas para representar espaços interiores, casas e outras edificações, mas não se restringem ao traço, tornam-se ferramentas para questionar o formato quadrado da tela, dando às suas pinturas um certo dinamismo. É desse modo que elas transitam entre duas e três dimensões e adquirem o caráter híbrido de pintura-objeto. Podem ter contornos reconhecíveis como os de um corpo humano esguio ou contornos estranhos como os de pálpebras gordas e agigantadas que se beijam, contornos redondos que reivindicam seu lugar dentro da tradição do quadro e mesmo os quadrados que abrigam outras quadras e quadrículas dentro dos limites da moldura.

Baravelli compõe em camadas, recorta e sobrepõe referências, estilos, materiais e texturas. Tais operações estão carregadas de um senso de humor que tem permitido ao artista estabelecer uma relação espirituosa com sua obra nesses 57 anos de produção e que se faz evidente nos modos de abordar questões tão diversas como o amor, a história da arte, figuras de poder como políticos e colecionadores, problemas de planejamento urbano e a sensação de tédio de uma noite como outra qualquer. Não são temas, são questões que atravessam a qualquer um de nós, e que no trabalho de Baravelli surgem como comentários inusitados, mas sutis, daqueles que poderiam passar despercebidos em uma conversa com os mais desatentos. Não foi à toa que seus amigos e vizinhos foram convocados a participar dessa exposição, são vozes que ampliam o diálogo, adicionando camadas de significados e abrindo pontes para outras conversas.

Celebramos com alegria os oitenta anos de vida de um artista que dedicou cinquenta e sete anos a uma atividade de tão grande importância para a nossa cultura, formando outras tantas gerações de artistas, alunos, leitores e que é parte fundamental da história da arte de nosso país. E com a mesma alegria, celebramos a oportunidade de termos estado juntos durante os últimos trinta anos. Viva Baravelli!

 

Até 04 de fevereiro de 2003.

 

 

Mostra na Sala Guido Arturo Palomba

 

Exposição organizada a partir do acervo de artes visuais da Associação Paulista de Medicina, Bela Vista, São Paulo, SP, e da coleção particular que reúne obras de treze dos mais expressivos artistas do Concretismo brasileiro e presta homenagem ao psiquiatra forense e diretor cultural da instituição. Com visitação gratuita e abertura em 26 de outubro, o público poderá conhecer 30 obras assinadas por nomes como Luiz Sacilotto, Judith Lauand, Hércules Barsotti, Jandyra Waters, Paulo Pasta, Arcângelo Ianelli, Bárbara Spanoudis, Ramon Cáceres e Maurício Nogueira Lima.

Com curadoria do historiador e crítico de arte Enock Sacramento, um dos maiores especialistas dessas vertentes modernistas da arte brasileira, a exposição inaugura a Sala Guido Arturo Palomba, espaço que presta homenagem ao psiquiatra forense, um dos mais renomados profissionais da medicina legal e diretor cultural da Pinacoteca da Associação Paulista de Medicina.

Deliberada em votação realizada pela diretoria da APM em 17 de janeiro de 2020, a renomeação da antiga Sala Contemporânea da Pinacoteca da APM reconhece os esforços de Guido Arturo Palomba, que, desde 1982, é um dos maiores entusiastas da preservação e da continuidade do espaço cultural paulistano dedicado às artes visuais, uma das grandes paixões do médico, que possui uma coleção predominantemente construtivista e, inclusive, doará e emprestará obras de seu acervo para a exposição.

 

Acervo em construção

A criação do acervo artístico da APM, na segunda metade da década de 1940, contou com o apoio inaugural do então presidente, dr. Jairo Ramos, em resposta aos anseios de médicos, artistas e críticos de arte que participavam de palestras e debates realizados na sede da instituição. Em 1949, dr. Ernesto Mendes, um dos diretores da APM, recebeu a incumbência de também dirigir a recém-criada Pinacoteca. Por meio de uma campanha de doações de associados que viabilizaram um fundo destinado a aquisições, 14 obras de artistas modernistas compuseram o núcleo inicial da coleção, reunindo trabalhos de, entre outros, Aldo Bonadei, Alfredo Volpi, Anita Malfatti, Cândido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti, Francisco Rebolo Gonzáles, José Pancetti, Lasar Segall, Mário Zanini e Tarsila do Amaral.

Entre outras ações pontuais, na década de 1980, quando o cirurgião plástico e pintor Aldir Mendes de Souza tornou-se presidente da Associação Profissional dos Artistas Plásticos do Estado de São Paulo (APAP/SP), foi estabelecido um convênio entre a APAP, a APM e a Unimed Paulistana, mediante o qual os artistas receberiam um plano de saúde em troca de trabalhos doados à Pinacoteca da APM. Ao longo de três anos a parceria possibilitou ao acervo da Pinacoteca a inclusão de obras de, entre outros, Alex Flemming, Bernardo Krasniansky, Gilberto Salvador, Léon Ferrari, Lúcia Py, Maria Bonomi e Sonia von Brusky. Egressos desse acordo, trabalhos de Bárbara Spanoudis, Valdeir Maciel e do próprio Aldir Mendes de Souza integram a mostra “Diálogo Construtivo Paulista”. A partir dos anos 1990, com a atuação regular do dr. Guido Arturo Palomba na Pinacoteca da APM, novas iniciativas, como a cessão do espaço para a realização de mostras individuais e a publicação de catálogos de algumas das exposições, a coleção continuou a crescer com obras de Antônio Peticov, Cláudio Tozzi, Gregório Gruber, Inos Corradin, Ivald Granato e muitos outros. Hoje, o acervo da Pinacoteca da APM conta com cerca de 200 obras das mais variadas vertentes estéticas e cumpre importante valor histórico e cultural, com o acesso gratuito ao público paulistano, de outros estados e países.

Lisonjeado com a homenagem que receberá, e em meio à expectativa pela abertura da mostra “Diálogo Construtivo Paulista”, Guido Arturo Palomba faz um balanço de sua atuação na Pinacoteca da APM. “Estou no Departamento Cultural da APM desde 1982, portanto há 40 anos. Comecei como membro e, posteriormente, me tornei diretor cultural, cargo que exerci por várias gestões seguidas. Procurei dar o máximo, não somente à Pinacoteca, mas, de modo geral, à APM, que é minha casa desde os primeiros dias de formado até hoje. A Pinacoteca é a menina de meus olhos e a ela me dediquei e me dedicarei até quando não mais quiserem que eu lá permaneça”, afirma.

A realização da mostra também compreende ações educativas, como visitas guiadas para escolas públicas, sobretudo as da região central de São Paulo, e a publicação de um livro, com tiragem de 500 exemplares e versão eletrônica, que será disponibilizado gratuitamente para instituições culturais e das redes municipal e estadual de ensino.

Até 30 de novembro.

 

 

Bienal de São Paulo no MAR

20/out

 

O programa de mostras itinerantes da 34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto chega ao Rio de Janeiro no Museu de Arte do Rio (MAR). A exposição, correalizada junto ao MAR com o apoio do Instituto Cultural Vale, fica em cartaz até o dia 22 de janeiro de 2023.

A mostra é organizada em torno do enunciado Os retratos de Frederick Douglass. Douglass foi um homem público, jornalista, escritor, orador estadunidense, e um dos  principais expoentes da luta pela abolição da escravidão. Até hoje seus retratos circulam pelo mundo como símbolo de justiça e liberdade. Assim, sob o olhar penetrante e desafiador de Douglass, este enunciado traz artistas e obras voltados aos processos de colonização, deslocamento, violência e resistência que marcaram e continuam marcando a vida de milhões de pessoas ao redor do planeta.

Treze artistas de oito países diferentes compõem a mostra: Anna-Bella Papp (Romênia), Arjan Martins (Brasil), Daiara Tukano (Brasil), Daniel de Paula (Brasil/Estados Unidos), Deana Lawson (Estados Unidos), Frida Orupabo (Noruega), Gala Porras-Kim (Colômbia), Jaider Esbell (Brasil), Joan Jonas (Estados Unidos), Noa Eshkol (Israel), Paulo Kapela (Angola), Seba Calfuqueo (Chile) e Tony Cokes (Estados Unidos).

No dia da abertura, Daiara Tukano realiza uma performance, ativando sua obra Kahtiri Ēõrõ – Espelho da vida (2020), inspirada nos mantos tupinambás. A performance tem início às 11h30 e a artista percorrerá o caminho da exposição, no primeiro pavimento do Museu.

Além do fomento à produção artística, um dos focos principais da Fundação Bienal de São Paulo é a realização de ações de educação e difusão. No Rio de Janeiro, uma visita temática pela exposição está programada para o dia da abertura, 22 de outubro, às 12h30, com a equipe de mediação da Fundação Bienal. A atividade é gratuita, assim como a entrada na exposição na abertura, e não requer inscrição prévia.

 

 

 

Exibição de Maxwell Alexandre

19/out

 

A Gentil Carioca – São Paulo e Rio de Janeiro – apresenta, para a Paris+ par Art Basel (stand F10), o solo de Maxwell Alexandre. As obras compõem a série Novo Poder, um desdobramento de “Pardo é Papel”, feito para explorar a ideia da comunidade negra dentro dos templos consagrados para contemplação de arte: galerias e museus. Entendendo a arte contemporânea como um campo de elite que concentra um grande capital financeiro e intelectual, a série busca chamar atenção da comunidade negra para esses espaços que legitimam narrativas na história. A série trabalha apenas com três signos básicos, sendo eles o preto (personagens), o branco (“cubo branco” ou espaço expositivo) e o pardo (arte).

 

 

Múltiplos encontros de arte

 

Anita Schwartz Galeria de Arte, Baixo Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta encontros na exposição “Klangfarbenmelodie: melodia de timbres”, Yolanda Freire, Waltercio Caldas, Paulo Vivacqua, Rosana Palazyan, Evangelina Seiler, Lilian Zaremba e Pedro Lago, entre outros convidados, estarão na programação gratuita de conversas, performances e filmes de artistas, entre 27 de outubro e 17 de novembro, sempre às quintas-feiras, às 19h.

Do dia 27 de outubro a 17 de novembro, participarão da programação Yolanda Freire, Waltercio Caldas, Paulo Vivacqua, Rosana Palazyan – artistas que têm obras na exposição -, Evangelina Seiler, Lilian Zaremba e Pedro Lago, entre outros convidados.

No dia 17 de novembro, será realizado um recital de poesia concreta com Pedro Lago e convidados em homenagem à publicação “Poetamenos” (1953), um conjunto de poemas de Augusto de Campos (1931), considerado um dos precursores do Concretismo no Brasil. Pedro Lago, poeta, editor e performer é presença confirmada para dar voz às poesias de autores desde Augusto de Campos e seu irmão Haroldo de Campos, até Arnaldo Antunes, passando por Décio Pignatari, Wlademir Dias-Pino, Ferreira Gullar e Paulo Leminski.

“Poetamenos” – que pode ser vista na galeria – é a obra que fundamenta a exposição “Klangfarbenmelodie: melodia de timbres”,com a apropriação feita por Augusto de Campos do conceito da técnica musical inaugurada por Arnold Schoenberg (1874-1951) em 1911, em que a coloração, a tessitura orquestral (os diversos timbres dos instrumentos) são usadas para compor uma linha melódica, horizontal, serial, vazada de silêncios e intervalos, e não mais sobreposta dentro de uma harmonia, rompendo assim com o sistema tonal vigente. No início da década de 1950, Augusto de Campos visitou o conceito da “Klangfarbenmelodie” de Schoenberg, e cria uma transcrição intersemiótica, inaugurando novas relações e procedimentos na construção e apresentação da poesia. Ao propor uma leitura de múltiplas vozes e cores, Campos cria o “Poetamenos”, publicação que em 2023 completará 70 anos. A exposição “Klangfarbenmelodie: melodia de timbres” apresenta obras de Lenora de Barros, Waltercio Caldas, Augusto de Campos, Yolanda Freyre, Cristiano Lenhardt, Antonio Manuel, Rosana Palazyan e Paulo Vivacqua.

De 27 de outubro até 19 de novembro.

 

A programação:

27 de outubro – Conversa com a artista Yolanda Freyre e a projeção de seu filme “A Hortência e a Galinha: luto e vida”;

03 de novembro – Conversa entre os artistas Waltercio Caldas, Paulo Vivacqua e a roteirista, artista e pesquisadora radiofônica Lilian Zaremba;

10 de novembro – Conversa da curadora e consultora de arte Evangelina Seiler com a artista Rosana Palazyan sobre seu trabalho;

17 de novembro – Recital de poesia concreta com Pedro Lago e convidados.

Recomenda-se a inscrição prévia pelo telefone 21.2274.3873.

 

 

A cerimônia da arte autoral

 

“RITUS” é a segunda exposição conceituada por Renato De Cara que abre no Porão da BELIZÁRIO, Pinheiros, São Paulo, SP, com 30 trabalhos de Leo Sombra e Otoniel Ferreira onde esculturas e fotografias contam histórias de diferentes momentos dos dois artistas que apresentam suas poéticas construídas através de sua fé e da documentação do fazer artístico. Renato De Cara traz artistas marginais ao eixo Rio/São Paulo como uma afirmação cabal de que o fazer artístico não se circunscreve à eixos pré-definidos. A capacidade de transmitir emoções, sensações, verdades, nasce onde o criativo está sempre que há foco e determinação em seguir suas crenças e poéticas e que vivencias e origens distintas não são determinantes de conflitos e sim de harmonia e congruência. “Histórias e lendas, crenças e mitos – assim construímos nossas narrativas. Os afetos vão corroborando repertórios apropriados para vivermos dentro daquilo que podemos nominar como conforto ou reforço na salvaguarda de nossas esperanças”, conceitua o curador.

As fotografias de Leo Sombra compõe a série “Cura Áspera”, um registro analógico em negativo de 35mm, onde o artista se apropria dos ruídos e do acaso, “construindo assim uma narrativa sutil com elementos simples e banais da natureza e do seu cotidiano familiar. A imagem fotográfica como diário de uma pausa forçada a partir de uma lesão no pé. O artista, então isolado e imobilizado, começa a inventariar a poesia sutil do entorno”, explica o curador. Os paradigmas panafricanos são o foco principal das pesquisas de Otoniel Ferreira que exibe trabalhos da série Adupé-Iowo-olorún (Graças a Deus por ter conservado minha vida e minha saúde até hoje) onde esculpe e desenha totens e oferendas para seus orixás e santos de devoção. Nas palavras de Renato De Cara, “as construções escultóricas se dão coletando madeiras e materiais variados para resinificar a fé e o respeito ao divino. Seja na tradição de ex-votos ou numa pintura nova e sincrética o artista nos alimenta de esperança potencializando a verdade viva que experimenta…Dentro dos limites pessoais ou na expansão da liberdade imaginada de cada um a linguagem se fortalece, seja em imagens representativas ou documentais para falarmos com sinceridade sobre aquilo que nos é caro.”

Renato De Cara

 

Sobre os artistas

Léo Sombra (São Miguel, RN, 1986) – Vive e trabalha em São Paulo, para onde se mudou em 1998. Em 2006 fez um curso profissionalizante na ONG ImageMágica, onde, por falta de recursos, começou a fotografar no formato pinhole, construindo imagens com câmeras sem lentes e papéis fotográficos vencidos. Documentou a cidade de São Paulo e sua periferia, assim como indivíduos à margem da sociedade como portadores de deficiência visual, usuários de crack e moradores de rua. Incorporando o acaso e os defeitos oriundos do processo artesanal que utiliza para fotografar, Sombra desenvolve uma imagética intrigante e expressiva que, em certos momentos, nos remete a um universo estético muito particular, cheio de ruídos e impurezas transformados em poesia. Em 2011 teve cinco de suas obras adquiridas pela Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Otoniel Ferreira (Oto) – (Serrinha, BA, 1995) – Vive e trabalha em São Paulo. Ogã, Escultor, Pintor, Luthier e Artista Interdisciplinar, cursou Bacharelado Interdisciplinar em Artes da UFBA. Foi violinista e luthier no Programa NEOJIBA, acompanhando a Orquestra Juvenil da Bahia em sua Turnê Europa 2018; cursou construção e restauro na Geigenbauschule Brienz, na Suiça, e atuou como estagiário em ateliers em Genebra e França. Em 2019, participou da Exposição Pintura no Museu de Arte da Bahia e do 8° Salão da Escola de Belas Artes. Participou da Feira Latino Americana Equinox no ano de 2022. Segundo o artista, sua pesquisa é por meio da experiência no existir, corpo trajeto e território, suas estéticas e poéticas, comungando em sua arte o sentido de pertença à nação afrolatina e o descondicionamento às epistemes da colonização e do mundo globalizado.

 

Sobre o curador

Renato de Cara (Lins, SP 1963) – Vive e trabalha em São Paulo. Bacharel em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica – PUC/SP (1985). Interessado em cultura, especializa-se em arte e moda contemporânea, produzindo, escrevendo, editando e fotografando para marcas e veículos de comunicação. No período entre 2006 e 2017, dirige a Galeria Mezanino, respondendo pela produção e curadoria de inúmeras exposições, tanto individuais como coletivas fazendo com que o espaço se consolide tanto como um celeiro para novos nomes como também de resgate para artistas em meio de carreira, cruzando linguagens e propondo novas abordagens no mercado de arte contemporânea. Em 2018, assume a Diretoria do Departamento de Museus municipais de São Paulo, coordenando quinze espaços museológicos e históricos, construídos entre os séculos XVII e XX. Atua como curador independente e consultor de arte, acompanhando artistas em parcerias com instituições diversas.

 

De 24 de outubro a 19 de novembro.

 

 

Ateliê em aberto

18/out

 

No mês de outubro, o Ateliê André Venzon, Rua Leopoldo Froes, 126, Bairro Floresta, 4º Distrito, Porto Alegre, RS, comemora 25 anos de atuação com a exposição pop up “Eu me deixo ser”, que integra a agenda do projeto “Portas para a Arte” – 13ª Bienal do Mercosul. O espaço apresenta centenas de obras de arte contemporânea autorais e uma coleção pessoal de arte, exposta de forma inusitada. Criado junto a oficina mecânica da família, o local também é pensado pelo artista como uma obra de arte instalativa, interessante para quem busca conhecer uma casa/ateliê/acervo e arejar seus conceitos de como viver com arte por todos os lados, dos pés à cabeça, literalmente.

Segundo o amigo e curador Nicolas Beidacki, basta caminhar pelo seu ateliê, olhar os primeiros trabalhos, identificar a estante com presentes de amigos, reparar no acúmulo de potência que alimenta o artista nesse ambiente, para chegarmos a uma conclusão: “tudo que falta no mundo lhe preenche. As obras de arte, os livros, o acervo pessoal, os papéis de cada evento, as anotações, o apreço pela lembrança, por vivenciar a experiência de tentar nunca mais esquecer. Tudo aquilo que se apaga, que desaparece atrás dos tapumes na cidade, que se torna invisível para determinadas camadas sociais e que se desprende do afeto recebe acolhimento e devoção do artista. Sua prática é assim: uma vontade de conseguir desejar tudo; e uma força para reconhecer a dimensão das coisas que foram perdidas. Não permitir a destruição, não deixar avançar o horror e não ceder ao sentimento de incompreensão da vida.”

Seja revestindo completamente a si mesmo ou transformando as cabeças dos outros – colocando um cubo rosa para cobrir o rosto – a obra de Venzon busca nos inserir numa visão interna e até mesmo solitária sobre a vida. O jogo entre se abrir para o mundo ao nosso redor, mas não abandonar o olhar para um interior colorido reverbera uma multiplicidade de conflitos que transformam o sujeito e o colocam em confronto com a sua subjetividade. Ao perceber aquilo que fecha, reveste, protege e camufla, André pontua as necessidades de pessoas e lugares num mundo marcado por inúmeros projetos de destruição. A falência de bairros, a precarização da vida, a violência de um sistema econômico, o abuso e venda do próprio corpo e o esquecimento são parte fundamental de uma reflexão sobre a cidade, as pessoas e a arte que dialoga com o tema “Trauma, sonho e fuga” da Bienal. Reflexão essa que não se desprende daqueles que fazem de sua própria obra um conjunto de força. É a mescla entre o peso do mundo e a beleza rosa dos sujeitos comprometidos com a manifestação da singularidade, potência e dualidade do seu ambiente de origem.

A exposição “Eu me deixo ser”, com visitação gratuita, também é um convite para comemorar a esperança de que toda arte é portadora, desejando sempre a liberdade de expressão e do próprio ser.