Na Gentil Carioca

25/jul

Maxwell Alexandre – O Batismo de Maxwell Alexandre. No dia de abertura da exposição, em ato de peregrinação, o artista e os membros “d’A Noiva Igreja do Reino da Arte”, levaram a pé da Rocinha as pinturas-mãe, pinturas apelidadas carinhosamente pelo artista, numa jornada religiosa de quatro horas, onde todas,  foram enroladas e carregadas nos ombros até o centro do Rio de Janeiro. Em formato de grande escala, as telas, ao chegarem na A Gentil Carioca, Centro, Rio de Janeiro, RJ, foram içadas nas salas expositivas. Todo o ato foi filmado e transmitido ao vivo num telão na galeria.

 

 

Até 12 de setembro.

Rodrigo Torres na SIM SP

20/jul

 

A SIM galeria, Cerqueira César, São Paulo, SP, apresenta a série “Neolítico Express”.

 

Os trabalhos da série Neolítico Express, de Rodrigo Torres, estabelecem um diálogo curioso com a tradição: consagram, através de uma profanação minuciosa, a ambiguidade entre a obra intrínseca e extrínseca que marca nossa experiência com a arte contemporânea. No caso, a familiaridade com itens valiosos, num contexto decorativo ou museológico, é discutida em um processo de ruptura com o esperado ponto de vista reverente, aquele certo de encontrar ali algo de cujo núcleo emana uma verdade e beleza integral   , para ser problematizado quanto a um desenvolvimento particular da escultura no Brasil: o estremecimento das bases de uma autonomia, a partir da conclamação da cumplicidade diante de um estágio intermediário em que nada deveria ser visto como autêntico ou acabado de antemão.

 

Podemos pensar de início nosBólidesde Oiticica, no fato de que levam, desde o início da década de 1960, a uma relação renovada do público com o objeto, de outra forma, do participador com uma obra, que é simultaneamente um dispositivo sensorial e conceitual a ser acionado em um segundo estágio de aproximação. Ele participa no sentido de adensar a experiência ótica com uma camada de injunções às vezes precárias que culminam em significativas reconsiderações. E, principalmente, imagina que não há um único vetor construtivo que faz o artista produzir um objeto em uma totalidade que se mostra irredutível, mas um processo com idas e vindas que equaliza a posição de todos em um patamar. Nele o criador se constitui por um espelhamento instantâneo em uma criatura que reivindica seu lugar também como sujeito incompleto.

 

Mais recentemente, os Phanógrafos de projeção e deposição(2010), de Tunga, também se estruturaram a partir de um recipiente, vasos de cristal Baccarat, contidos por caixas articuladas que encerram sua gênese e seu funcionamento implícito. A origem desse fenômeno tange a compreensão de um princípio criativo que se afiança no onírico, superando embates voltados para a subtração de material, substituindo-os por encontros mágicos com o que está ali dado, como se aproveitasse o vácuo deixado pelo fato do ready-made ser, antes de mais nada, uma peça de cerâmica que surgiu no mundo da arte inadvertidamente. Nos Phanógrafos, a equação experimental se apresenta a partir do ficcional, estruturas que sempre comportam um segundo núcleo que irradia cor e materialidade furtiva, pois o objeto central também não se mostra integralmente, e sua cota obscura se preenche pela ansiedade de se conjugar delicadeza e brutalidade.

 

As ânforas de Rodrigo não contêm, não são recipiente, mas o conteúdo parcialmente embalado por um invólucro que se distanciaria no tempo do artefato encontrado pelo arqueólogo. Ali, a máxima minimalista em torno de um cubo anódino, de que “você vê o que você vê”, abre-se em um ciclo de perguntas e respostas bem menos tautológicas: não vemos tudo, e as partes nunca se equivalem, depondo o equilíbrio formal, calçando-o na gravidade, no equilíbrio real de um vaso sobre um balde, dentro de uma caixa ou sobre a mesa.

 

Produzidas e finalizadas em seu estúdio na Fábrica Bhering, no Rio de Janeiro, lugar onde doces eram industrializados, longe de seus ancestrais chineses e gregos, as ânforas demonstram não apenas quebrar a redoma que instaura a obra em uma temporalidade especial que se destaca da cotidiana, mas também eternizar o momento em que esses dois tempos se encontram, quando desembalamos ou embalamos algo, quando encontramos algo que vem, através de uma lição de Joseph Beuys, reforçar potencialidades metafísicas da matéria – títulos desmentidos por legendas induzem a uma manipulação virtual que ocorre, então, junto à observação atenta das propriedades de uma objectualidade que se instaura no provisório.

 

A argila primordial que amalgama o isopor, o papelão, a fita adesiva, resquícios de líquidos já vertidos ou a se verter, incorpora o mimetismo que engloba a pintura, que de fato reveste as peças  e o que parece ser o papelão areado esculpido escrupulosamente para que pareça ser aquilo em definitivo. Como se estivesse mesmo em trânsito, inviolada por alguém, acondicionada anonimamente por outro, cada uma delas se mostra em um pedestal neutro, na galeria, que sustenta outro suporte: a escultura como plataforma para o pensamento a respeito da preciosidade de sua incongruência e seu fascínio atual.

Rafael Vogt Maia Rosa

 

 

 

De 28 de julho até 25 de agosto.

Flávio Damm em São Paulo

A Galeria Marcelo Guarnieri apresenta a primeira exposição individual de Flávio Damm na unidade Jardins, São Paulo. A mostra reúne uma seleção de fotografias feitas por Damm desde o início da década de 1950 até o início dos anos 2000 e apresenta “Flávio Damm, um fotógrafo”, vídeo de Eduardo Barcellos produzido em 2017 que traz o relato acurado do fotógrafo sobre importantes momentos de sua trajetória. O título da exposição “Gêmeos, preto-e-branco” faz referência ao relacionamento que Damm estabeleceu com a fotografia PB ao longo de seus anos de atividade, nos quais dedicou-se exclusivamente a ela, concedendo ao preto e ao branco o mesmo valor de importância na construção de suas imagens.

 

Pombos, freiras e namorados. São esses três elementos que parecem perseguir Flávio Damm nos passeios que costuma fazer pelas ruas acompanhado de sua Leica. Constituindo um acervo de quase 60 mil negativos, uma parte das imagens que Damm produziu dá conta de retratar situações triviais do contexto urbano de diversas partes do mundo, sem, no entanto, abdicar do caráter construtivo ou mesmo poético em suas composições. São resultado do trabalho paciente e sensível de um fotógrafo que se propõe a ser apenas testemunha de momentos inusitados: ter o olho certo no lugar e na hora certa. Tal habilidade não pode ser fruto do mero acaso, ela se desenvolve em anos de exercício, do contato com a dinâmica das pessoas e das cidades em suas mais variadas formas de organização. Talvez a frequência daqueles três elementos em suas fotografias possa ser explicada pela vontade de adentrar, sem ser notado, em mundos tão particulares que casais de namorados, grupos de freiras e aglomerado de pombos criam para si em espaços públicos, e que acaba por exigir, de quem fotografa, um exercício incansável de aproximação. Desse modo, por mais que insista nesse desejo, Damm jamais poderá desvendar o mistério que envolve cada um desses grupos, mas se vale da insistência para criar intimidade com suas formas plásticas e saber explorá-las em seus variados aspectos, seja a partir do corte seco e geométrico da vestimenta das freiras, seja a partir das silhuetas de pombos alinhados no alto de um muro.

 

Uma outra porção de negativos do grande acervo de Flávio Damm é proveniente de seus mais de 70 anos de atividade jornalística. O fotógrafo, aliás, é conhecido por ser um dos maiores nomes da história do fotojornalismo brasileiro. Além de ter sido correspondente de grandes agências de jornalismo internacionais e de ter criado, junto a José Medeiros, a sua própria agência de fotografia, a pioneira Image, Flávio Damm integrou por dez anos a equipe da revista O Cruzeiro em seus tempos áureos, sendo ele mesmo peça chave na revolução que a publicação causou na imprensa brasileira. Criada em 1928, O Cruzeiro teve um papel importantíssimo no registro e na comunicação de um Brasil ainda pouco integrado entre suas regiões – quase sem estradas e sem televisão até a década de 1970 – e se estabeleceu como um dos mais influentes veículos de comunicação de massa do país. Sob a bandeira da modernidade e do progresso, a publicação apresentava inovações gráficas e editoriais, incorporando em seu projeto, a partir da década de 1940, o modelo da fotorreportagem, desempenhando, deste modo, um papel fundamental na elaboração da imagem do país como nação. O relato histórico ganhava, naquele momento, a força comprobatória da verdade fotográfica, dando ao fotógrafo a responsabilidade de ser o sujeito da narrativa, de ver por todos aqueles que não podiam estar no momento da ação, escolhendo o ângulo que julgasse mais adequado.

 

Flávio Damm contou muitas histórias enquanto esteve envolvido com o fotojornalismo: em 1948, fotografou Getúlio Vargas em seu auto-exílio na fazenda de Itu, no Rio Grande do Sul, sendo o primeiro fotógrafo autorizado a fazê-lo naquela circunstância e produzindo importantes imagens que circularam internacionalmente e antecederam o seu retorno à política brasileira; reportou distintos modos de vida e tradições dos lugares mais remotos de um Brasil ainda “em descobrimento”, como em 1954, quando publicou na revista O Cruzeiro registro do ritual de lamentação dos penitentes de Xique-Xique, no sertão da Bahia; esteve presente também na cerimônia de coroação da Rainha Elizabeth II, na Inglaterra, em 1953 e no lançamento do primeiro foguete na base de Cabo Canaveral, nos Estados Unidos, em 1957, sendo o único fotógrafo profissional brasileiro a registrar tais eventos. Fiel à fotografia analógica em preto e branco e avesso ao uso do Photoshop ou de outras manipulações na imagem, Damm preza pelo registro direto, pois acredita que assim cumpre, de maneira responsável, com a sua função de “testemunha ocular”.

 

Das fotografias apresentadas na exposição, uma parte foi produzida entre o início dos anos 50 até fins dos anos 60 e outra de meados dos anos 80 até início dos anos 2000 em cidades do Brasil como Salvador, Recife, Rio de Janeiro e Belém e em países da Europa e das Américas. Não tão alinhadas à linguagem jornalística, essas fotografias evidenciam uma liberdade de composição formal e poética, transportando o espectador a momentos de contemplação e beleza, à posição do flaneur, que, vagando pela cidade, é surpreendido por situações dignas de registro. Mais do que testemunha de um fato, Flávio Damm, na escolha do enquadramento permitido pela lente 35mm de sua Leica – câmera que por seu tamanho e leveza permite a ele agir com rapidez e discrição -, acaba por assumir o lugar de testemunha de um instante, que, ao se transformar em imagem, traz junto uma atmosfera, seja de humor, encanto ou melancolia. Ainda assim, são registros da história. O que essas fotografias nos sugerem, talvez, seja uma vontade de contá-la a partir das questões próprias da linguagem visual, sem, com isso, dever nada ao verbo.

 

 

De 28 de julho a 25 de agosto.

Emmathomas: inéditos de Mundano

Em “Vozes Mundanas”, o artista apresenta cerca de 40 trabalhos entre telas, esculturas e obras interativas que refletem problemas sociais, políticos e ambientais da atualidade. Um muro que separa o mundo real de um fictício. De um lado, a tinta cinza em alusão às vozes e cores caladas nas ruas de São Paulo. Do outro, telas, esculturas, objetos e instalações de cores vívidas e pulsantes, ruídos que fazem referência a uma série de problemáticas da atualidade: dos impactos ocasionados pela crise de água à questão dos refugiados em diversos pontos do globo. É esse o tom de “Vozes Mundanas”, exposição inédita do artista Mundano curada por Ricardo Resende, que será apresentada na Emmathomas Galeria, Jardim Paulista, São Paulo, SP.

 

À frente do espaço, uma escultura de dois metros, construída com extintores e botijão de gás. É ela que recebe o público, prestes a cruzar o Muro Social, obra de grandes proporções que delimita a mostra. “É o muro separatista, Muro de Berlim, do Donald Trump, dos refugiados, do condomínio: uma separação entre realidades distintas” pontua Mundano, que se define artivista, termo que condensa a ideia de arte como recurso de revolução social.

 

Se de um lado a cidade mostra-se como um ambiente frio, quase asséptico, do outro, o caos insere o visitante em um universo lúdico, suscitando uma série de questionamentos. Por meio dos cerca de 40 trabalhos que compõem a exposição, Mundano propõe uma pausa para conscientização e convida o público para a resistir em prol da preservação ambiental e por causas ligadas aos direitos humanos.

 

“O grande desafio dessa mostra é manter ou permanecer com as veias de artivista, integradas e ativadas no espaço comercial de arte. Ver um artista ainda disposto a manifestar-se, a preocupar-se com o outro e com o coletivo nas paredes de uma galeria, é, de fato, um alento quando se observa o mundo em que prevalece o individualismo, a banalidade e a competição nas relações humanas”, declara o curador Ricardo Resende.

 

O corpo da obra de Mundano surge de peças e instrumentos de reuso que ele mesmo encontra nas ruas ou daquilo que os catadores de materiais recicláveis oferecem a ele. Dessa busca, o reaproveitamento de insumos como livros que datam 100 anos ou mesmo revistas descartadas que, nas mãos do artista, se transformaram em colagens que tratam do desperdício.

 

Figura quase onipresente na exposição, o megafone, recurso bastante comum às manifestações sociais, é representado em diversas obras, ora ampliando a voz das mulheres, ora salvando dezenas de refugiados à deriva. O objeto aparece também em Panelofone, obra que faz referência aos panelaços, tão presentes em manifestações não só no Brasil e que atualmente caiu em desuso.

 

Para ressoar a voz de um dos maiores desastres ambientais do Brasil, em Mariana, MG, no ano de 2016, Mundano utilizou em grande parte de suas obras a lama tóxica coletada às margens do Rio Doce – o pigmento terroso contrasta com a paleta de cores marcantes característica do artista. O uso do resíduo como matéria-prima alerta para as consequências reais, sentidas ainda hoje pelos moradores da região.

 

O cacto, planta característica em sua produção, personifica o povo brasileiro, acostumado a resistir às adversidades mesmo com poucos recursos. Construídos a partir de extintores e torneiras, buscam chamar atenção para crise hídrica que volta a atingir níveis alarmantes em São Paulo e por todo o país.

 

O espaço expositivo será ainda ocupado por uma série de sons e vozes que reforçam o tom de protesto que permeia a mostra. Os áudios que vão ecoar em meio as obras são dos mais diversos momentos da história, da ditadura militar às recentes manifestações dos caminhoneiros. A trilha também abrange manifestações indígenas, marchas religiosas, de estudantes e professores em luta por seus direitos – todas essas vozes serão amplificadas durante a exposição. ”São palavras de ordem, gritos de vozes mundanas”, pontua.

 

 

 

De 24 de julho a 25 de agosto.

Garranchón por Mariano Barone 

17/jul

A Galeria Sancovsky, Jardim Paulistano, convida para a abertura da exposição “Garranchón”. Esta é a primeira individual de Mariano Barone, com curadoria de Amanda Arantes. A mostra reunirá uma seleção de trabalhos produzidos em 2017, além de obras inéditas criadas para esta exposição. O título remete à palavra garrancho, nome dado às caligrafias feias, quase ilegíveis. Aqui ela caracteriza o traço irregular de alguns desenhos, mas pode designar também uma qualidade rudimentar sugerida no conjunto da obra do artista.

 

Barone desenvolve sua produção através do desenho e da pintura utilizando materiais diversos como retalhos descartados pela indústria têxtil ou lonas usadas para cobrir o chão e montar tendas no comércio popular. Parte das obras apresentadas na exposição é formada por trabalhos em que o artista acumula camadas desses materiais sobre a parede, combinando-os a desenhos ou pinturas. Estas, por sua vez, podem ser recortadas e remontadas, em um jogo que incorpora a aleatoriedade e o improviso. Fixados de maneira precária, os tecidos e telas recortadas formam composições que remetem a estruturas temporárias e instáveis, como barracas e tapumes.

 

Embora sua obra se aproxime da visualidade urbana, esta não é colocada como tema, e sim material de sua prática artística. Essa característica é visível também em sua produção gráfica, influenciada pela estética dos rabiscos encontrados na cidade – muitas vezes ilegíveis e rasurados – mas que parte, sobretudo, de uma iconografia pessoal e de uma necessidade de desenhar. A isso soma-se uma atitude quase obsessiva de redesenhar as mesmas figuras, sobrepor camadas de desenho ou de pintura, tentar apagar ou disfarçar o que foi feito.

 

Barone é orientado por uma atitude de mastigar, deglutir e devolver ao mundo elementos visuais do seu entorno, seja este o espaço urbano ou o próprio ateliê do artista. O reaproveitamento de partes de outros trabalhos para a produção de obras novas e a presença de desenhos recorrentes são marcas de um trabalho que se alimenta de si próprio, em um movimento de transformação constante.

 

 

Sobre o artista

 

Mariano Barone nasceu em 1985, em Santa Fé, Argentina, vive e trabalha em São Paulo. É graduando em Artes Visuais pela UNESP, participou em 2017 do 42º Salão de Arte de Ribeirão Preto, das exposições coletivas “Também foi nevoeiro” (Espaço BREU, São Paulo – SP), “Novas Poéticas” (Galeria Cañizares, Escola de Belas Artes da UFBA, Salvador – BA) e “À Sombra do comum” (Galeria Andrea Rehder, São Paulo – SP), assim como da exposição “BFF”, no Instituto de Artes da Unesp (São Paulo – SP). Em 2018, participou das exposições coletivas “O Maravilhamento das coisas” (Galeria Sancovsky, São Paulo – SP), PARTE (Instituto de Artes da Unesp, São Paulo – SP) e “ruído e ausência contínuos” (Galeria Sancovsky, São Paulo – SP).

 

 

De 19 de julho a 18 de agosto.

Coletiva na Sancovsky

A Galeria Sancovsky, Jardim Paulistano, São Paulo, SP, convida para a abertura de “A Imensa Preguiça”, exposição coletiva com curadoria de Guilherme Teixeira. A partir do dia 19 de julho, a Galeria Sancovsky apresenta a exposição “A Imensa Preguiça”, mostra coletiva que busca explorar as relações de dissolução da forma e da ideia de derretimento a partir da ressignificação e destruição de objetos comuns e cotidianos no trabalho de dez artistas. Colocando em diálogo diversas linguagens como vídeo, escultura, pintura e instalações, a exposição se propõe à criação de um espaço de alucinação infinita, onde a prática e o objeto se tensionam na busca do movimento entre dissolução e reiteração de um utilitarismo cotidiano, o ready-made, o ócio e o gesto.

 

Participam os artistas André Barion, Andre Bontorim, Beatriz Ruco, Eleni Bagaki, Gabriella Garcia, Ignacio Gatica, Pedro Caetano, Renato Castanhari, Ricardo Carioba e Sergio Pinzón

 

 

De 19 de julho a 18 de agosto

Em torno de Pierre Verger

13/jul

Este é o ano que a Fundação Pierre Verger comemora 30 anos, e a Paulo Darzé Galeria 35 anos de atividades. Agora, em parceria, ambas apresentam no dia 17 de julho, terça-feira, das 19 às 22 horas e até 18 de agosto, a exposição “Entre Bahia e África”, com mostra de 55 fotos, e o lançamento de uma nova edição do livro Orixás, Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo, obras de Pierre Verger. A mostra “Entre Bahia e África”, após ser apresentada ao público baiano, em sua essência, seguirá para exposição no Museu da Fotografia em Fortaleza, Ceará; em Curitiba, no

 

Museu Oscar Niemeyer; São Paulo, Rio de Janeiro e em Porto Alegre, com trabalhos que desvendam que o que havia de grandioso e profícuo, na diversidade de suas temáticas, não fosse ter Verger construído uma vasta documentação visual em muitos países e em todos os continentes.

 

A nova edição de “Orixás, Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo”, de Pierre Verger retrata no livro os cultos aos deuses Iorubás nos países de origem, como Nigéria, ex-Daomé – atual Benin, e Togo e no Novo Mundo (Brasil e Antilhas), para onde os rituais foram trazidos quando da diáspora negra, durante o tráfico de escravos. A publicação traz 250 fotos e textos destacando as cerimônias, as características de cada orixá, além do descritivo dos arquétipos da personalidade dos devotos dos respectivos orixás. Esta nova edição traz um prefácio assinado por Mãe Stella de Oxóssi, do Axé Opô Afonjá, que entre outros momentos do texto, com parte em português e parte em ioruba, diz: “Oportunidade única de louvar todos que se sacrificam em ter uma vida longeva, a fim de contribuir para o aprimoramento do conhecimento e do processo civilizatório, como é o caso de Pierre Verger, que só deixou o corpo físico aos 93 anos, após entregar à humanidade um legado de valor incalculável composto por suas fotografias, seus livros e suas pesquisas. Mas como dizem: os homens vão e as obras que importam ficam”.

 

 

30 anos da Fundação Pierre Verger

 

Constituida por um acervo visual, mais os originais de estudos, pesquisas, livros, sobre vários povos e regiões dos cinco continentes, registrando uma época, um momento, formando uma memória sobre expressões e manifestações culturais em diferentes partes do mundo, a obra deixada pelo fotógrafo e antropólogo Pierre Verger reunida na Fundação que leva o seu nome abriga também um espaço cultural com atividades artísticas, esportivas, educacionais, em estreita ligação com a comunidade onde está inserida, e uma biblioteca com publicações, sendo um local de informações e pesquisas. Inaugurada em 1988, como pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, e sediada na Bahia, em Salvador, na 2ª Travessa da Ladeira da Vila América nº 9, Vasco da Gama, a Fundação tem entre seus objetivos preservar, divulgar e pesquisar a obra do seu instituidor, o fotógrafo e antropólogo Pierre Verger, e deste acervo o estudo das influências

recíprocas entre Brasil e África, cooperação interdisciplinar entre diversas áreas como artes, antropologia, botânica, música, história, atuando como uma organização cultural promovendo o intercâmbio com outros arquivos, fundações, universidades, e promover em especial a cultura afro-brasileira.

 

 

35 anos da Paulo Darzé Galeria

 

Comemorando em 2018, trinta e cinco anos de atividades, e realizado cerca de duzentas mostras neste período, a Paulo Darzé Galeria apresentou o que está sendo produzido nas artes visuais, tornando sua sede um espaço especialmente dedicado para a arte contemporânea, sem perder de vista a moderna. Uma das principais motivações para isto é que não poderia ser um local dedicado às artes e a cultura sem que este estivesse fincado em nosso tempo, um tempo de diversidade, pluralidade, aberto a todas as manifestações, pois a movimentação criadora está sendo realizado em suas ações num simultâneo, dentro de uma enorme complexidade, multiplicidade, dinamismo, o que obriga a estar em permanente atenção sobre tudo, diante de uma produção artística mais consistente, um mercado mais profissional, uma crítica com atuação mais decisiva, e um público mais receptivo, principalmente por passarmos a ter colecionadores mais preocupados em adquirir trabalhos de qualidade expressiva, de linguagens atuais, que representem este nosso tempo de agora. Dentro das comemorações dos 35 anos de atividade, a Paulo Darzé Galeria promove uma extensa programação, iniciada em janeiro com o lançamento do livro Via e-mail, encontro com artistas brasileiros, de Claudius Portugal, tendo em seguida as exposições Cruz Credo, de Antonio Dias, e em São Paulo, na SpArte, a mostra Uma poética visual brasileira, de Rubem Valentim, e em parceria com a galeria Almeida e Dale, curadoria de Denise Mattar e Thais Darzé, trabalhos de Mestre Didi sob o títuloMo Ki Gbogbo In – Eu saúdo a todos, reunindo 48 esculturas do artista, obra que evoca objetos sagrados do culto do Candomblé. Em maio apresentou a mostra 16 por 4, com obra dos artistas Jac Leirner, Ricardo Bezerra, Marcelo Cippis e Paulo Monteiro. Em junho, fotografias de Miguel Rio Branco. Em julho temos a exposição Entre Bahia e África com 55 fotos de Pierre Verger. Em agosto, comemorando os 80 anos de vida da artista, mostra pinturas e objetos de Maria Adair. Em setembro, Hildebrando Costa. Em outubro, Florival Oliveira. E em dezembro, permanecendo até janeiro de 2019, coletiva com novos nomes da arte baiana, recentemente integrados a galeria – Anderson Santos, Anderson A.C,  Fábio Magalhães, e Vinicius S/A.

 

 

Pierre Verger – Trajetória

 

Pierre Verger nasceu em Paris, França, no dia 4 de novembro de 1902. Em 11 de fevereiro de 1996 faleceu em Salvador, Bahia. Aos 30 anos inicia na fotografia e nas viagens. Com o falecimento de sua mãe, sua última parenta viva, Verger decidiu se tornar naturalmente um viajante solitário e levar uma vida livre e não conformista. De dezembro de 1932 até agosto de 1946, foram quase 14 anos consecutivos de viagens ao redor do mundo, sobrevivendo exclusivamente da fotografia. Negociava suas fotos com jornais, agências e centros de pesquisa. Fotografou para empresas e até trocou seus serviços por transporte. Paris, então, tornou-se uma base, um lugar onde revia amigos e fazia contatos para novas viagens. As coisas começaram a mudar no dia em que Verger desembarcou na Bahia. Em 1946, enquanto a Europa vivia o pós-guerra. Foi logo seduzido pela hospitalidade e riqueza cultural que encontrou na cidade e acabou ficando.

 

Como fazia em todos os lugares onde esteve, preferia a companhia do povo e dos lugares mais simples. Os negros, em imensa maioria na cidade, monopolizavam a sua atenção. Além de personagens das suas fotos, tornaram-se seus amigos, cujas vidas e história buscou conhecer com detalhes. Ao descobrir o candomblé acreditou ter encontrado a fonte da vitalidade do povo baiano e se tornou um estudioso do culto aos orixás. Esse interesse pela religiosidade de origem africana lhe rendeu uma bolsa para estudar rituais na África, para onde partiu em 1948.

 

Foi na África que Verger viveu o seu renascimento, recebendo o nome de Fatumbi, “nascido de novo graças ao Ifá”, em 1953. A intimidade com a religião, que tinha começado na Bahia, facilitou o seu contato com sacerdotes e autoridades e ele acabou sendo iniciado como babalaô – um adivinho através do jogo do Ifá, com acesso às tradições orais dos Iorubás. Além da iniciação religiosa, Verger começou nessa mesma época um novo ofício, o de pesquisador. O Instituto Francês da África Negra (IFAN) não se contentou com os dois mil negativos apresentados como resultado da sua pesquisa fotográfica e solicitou que ele escrevesse sobre o que tinha visto.  Começa a escrever artigos junto com as fotos devido ao seu interesse pela cultura afro-baiana e a origem desta nos países africanos do Golfo do Benim. Acabou se encantando com o universo da escrita como fruto de suas pesquisas e não parou nunca mais.

Apesar de ter se fixado na Bahia, Verger nunca perdeu seu espírito nômade. A história, os costumes e, principalmente, a religião praticada pelos povos Iorubás e seus descendentes, na África Ocidental e na Bahia, passaram a ser os temas centrais de suas pesquisas e sua obra. Passa a viver como um mensageiro entre esses dois lugares: transportando informações, mensagens, objetos e presentes. Como colaborador e pesquisador visitante de várias universidades, conseguiu ir transformando suas pesquisas em artigos, comunicações e livros. Em 1960, comprou a casa da Vila América. No final dos anos 70, ele parou de fotografar e fez suas últimas viagens de pesquisa à África. Em seus últimos anos de vida, a grande preocupação de Verger passou a ser o de disponibilizar o seu estudo e pesquisas a um número maior de pessoas e garantir a sobrevivência do seu acervo. Na década de 1980, a Editora Corrupio cuidou das primeiras publicações no Brasil. Em 1988, Verger criou a Fundação Pierre Verger (FPV), da qual era doador, mantenedor e presidente, assumindo assim a transformação da sua própria casa na sede da Fundação e num centro de pesquisa com a tarefa de prosseguir com o seu trabalho.

ArtRio : galerias selecionadas

12/jul

A ArtRio chega a sua oitava edição e reforça, entre suas principais metas, a valorização da arte brasileira. O comitê de seleção já definiu as galerias que participarão dos programas PANORAMA e VISTA. A feira acontece entre os dias 26 e 30 de setembro, na Marina da Glória.

 

As galerias e artistas participantes dos programas SOLO, MIRA, BRASIL CONTEMPORÂNEO, PALAVRA e IDA serão definidos pelos curadores.

 

Em 2018, a feira de arte irá focar na qualidade, inovação e apresentação de novos nomes para possibilitar ao público uma experiência enriquecedora e diferenciada de visitação, possibilitando, também, uma ampliação do colecionismo.

 

“Temos muito orgulho do espaço conquistado pela ArtRio frente ao cenário mundial da arte. Entre nossas prioridades está reforçar a arte brasileira neste mercado, tanto com o reconhecimento aos grandes nomes de nossa história como também com a apresentação de nova geração de artistas. Temos hoje no Brasil um mercado amadurecido, em total sintonia com as melhores práticas e regras éticas da cadeia global. Nossos artistas são destaques de grandes mostras em países europeus e nos Estados Unidos, e estão presentes em algumas das mais importantes coleções privadas e acervos de museus e instituições. Assim como em outros anos, vamos receber na ArtRio grupos de colecionadores e curadores brasileiros e internacionais”, reforça Brenda Valansi, presidente da ArtRio.

 

O comitê de seleção de 2018 é formado pelos galeristas Alexandre Gabriel (Fortes D’Aloia & Gabriel/ SP e RJ); Anita Schwartz (Anita Schwartz Galeria de Arte / RJ); Elsa Ravazzolo (A Gentil Carioca / RJ); Eduardo Brandão (Galeria Vermelho / SP) e Max Perlingeiro (Pinakotheke / RJ, SP e FOR).

 

A ArtRio é apresentada pelo Bradesco, pelo sétimo ano consecutivo, através da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura. O evento tem patrocínio de Stella Artois, apoio do site hoteis.come apoio institucional da Valid, Bondinho Pão de Açúcar, Bacardi e Estácio. A rede Windsor será a rede de hotel oficial do evento.

 

A feira de arte faz parte do calendário oficial de eventos da cidade do Rio de Janeiro.

 

Programas

 

  • PANORAMA

 

Participam galerias com atuação estabelecida no mercado de arte moderna e contemporânea.

 

  • VISTA

 

Programa dedicado às galerias jovens, com até 10 anos de existência, contando com projetos expositivos desenvolvidos exclusivamente para a feira.

 

Galerias participantes da ArtRio 2018

 

PANORAMA

 

  • A Gentil Carioca – Rio de Janeiro
  • Almeida & Dale Galeria de Arte – São Paulo
  • Anita Schwartz Galeria de Arte – Rio de Janeiro
  • Athena Contemporânea – Rio de Janeiro
  • Athena Galeria de Arte – Rio de Janeiro
  • Bergamin & Gomide – São Paulo
  • Carbono Galeria – São Paulo
  • Casa Triângulo – São Paulo
  • Cassia Bomeny Galeria – Rio de Janeiro
  • Celma Albuquerque – Belo Horizonte
  • Emmathomas Galeria – São Paulo
  • Fólio – São Paulo
  • Fortes D´Aloia & Gabriel – São Paulo / Rio de Janeiro
  • Galeria de Arte Ipanema – Rio de Janeiro
  • Galeria Estação – São Paulo
  • Galeria Inox – Rio de Janeiro
  • Galeria Karla Osorio – Brasília
  • Galeria Marilia Razuk – São Paulo
  • Galeria Millan – São Paulo
  • Galeria Murilo Castro – Belo Horizonte
  • Galeria Nara Roesler – São Paulo / Rio de Janeiro / Nova York
  • Galeria Ralph Camargo – São Paulo
  • Galeria Superfície – São Paulo
  • Gustavo Rebello Arte – Rio de Janeiro
  • Hilda Araujo Escritório de Arte – São Paulo
  • Luciana Caravello Arte Contemporânea – Rio de Janeiro
  • Lurixs– Rio de Janeiro
  • Marcia Barrozo do Amaral Galeria de Arte – Rio de Janeiro
  • Matias Brotas Arte Contemporânea – Vitória
  • Mercedes Viegas Arte Contemporânea – Rio de Janeiro
  • Movimento Arte Contemporânea – Rio de Janeiro
  • Mul.ti.plo Espaço Arte – Rio de Janeiro
  • Paulo Kuczynski Escritório de Arte – São Paulo
  • Pinakotheke – Rio de Janeiro / São Paulo / Fortaleza
  • Portas Vilaseca Galeria – Rio de Janeiro
  • Roberto Alban Galeria – Salvador
  • Ronie Mesquita Galeria – Rio de Janeiro
  • Silvia Cintra + Box 4 – Rio de Janeiro
  • SIM Galeria – Curitiba
  • Simões de Assis Galeria de Arte – Curitiba
  • Vermelho – São Paulo
  • Zipper Galeria – São Paulo

 

VISTA

 

  • Boiler Galeria – Curitiba
  • Cavalo – Rio de Janeiro
  • Central Galeria – São Paulo – ESTREIA
  • C. Galeria – Rio de Janeiro
  • Espace L & Coleção Finkelstein – Genebra (Suíça)
  • Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea – Rio de Janeiro
  • Janaína Torres Galeria – São Paulo – ESTREIA
  • Martha Pagy Escritório de Arte – Rio de Janeiro
  • Sé Galeria – São Paulo – ESTREIA

 

 

A editora Taschen terá um estande com seus principais títulos.

 

Curadoria

 

A ArtRio 2018 terá em sua programação os seguintes programas curados:

 

MIRA – indo para sua segunda edição em 2018, o programa cresce e, além do vídeo, incorpora também a música. As obras serão projetadas em um grande telão ao ar livre. O curador David Gryn faz sua estreia na ArtRio. Gryn é curador do programa de vídeo da Art Basel Miami Beach. A música ao vivo terá a assinatura do DJ inglês Max Reinhardt, músico, locutor e apresentador do Late Junction na BBC Radio 3.

 

BRASIL CONTEMPORÂNEO – primeira edição esse ano, terá curadoria de Bernardo Mosqueira e será dedicado a galerias e/ou artistas fora do eixo Rio de Janeiro – São Paulo. A criação deste novo programa possibilitará um destaque para uma visão mais ampla da produção artística nacional.

 

IDA – dedicado ao design, ganha novo formato em 2018 com a curadoria de Renato Tomasi. Com a participação de designers, galerias e estúdios, o programa estará mais integrado à feira e pretende mostrar a diversidade da produção brasileira tanto pela ótica da criação e produção como também pela variedade de matérias primas encontradas no país.

 

SOLO – Programa destinado a projetos expositivos que exibam um recorte das coleções de importantes colecionadores de arte.

 

PALAVRA – com curadoria da poetisa e artista plástica Claudia Sehbe, mostra como a palavra – escrita e falada – está presente nos diferentes processos de criação da arte.

 

Mais do que uma feira de reconhecimento internacional, a ArtRio é uma grande plataforma de arte, com atividades e projetos que acontecem ao longo de todo o ano para a difusão do conceito de arte no país, solidificar o mercado e estimular o crescimento de um novo público.

 

 

De 27 a 30 de setembro (quinta-feira a domingo)

Preview – 26 de setembro (quarta-feira)

Ingressos: R$ 40 / R$ 20

Local: Marina da Glória – Av. Infante Dom Henrique, S/N

Exposição DJANIRA

11/jul

A Galeria Evandro Carneiro Arte, Shopping Gávea Trade Center, Gávea, Rio de Janeiro, RJ, apresenta de 14 de julho a 11 de agosto a exposição “Djanira”, que reúne vinte telas a óleo e desenhos  da artista. Esta coleção, exposta pela Galeria de Evandro Carneiro, que também a conheceu e com ela conviveu, é parte de seu acervo pessoal, herdado pela grande amiga Rachel Trompowsky Taulois da Motta e Silva. Elas se conheceram nos anos 1950, na Vila Santa Cecília, onde foram vizinhas, em Santa Tereza, bairro predileto da pintora. Ali, no apartamento onde Djanira adorava viver, criando animais domésticos juntamente com o seu companheiro, o historiador baiano José Shaw da Motta e Silva, tomando bons vinhos, provando a boa culinária e, principalmente, pintando muito, foi onde captamos uma parte de seu acervo pessoal para essa importante mostra. Jangadas, colheitas de mandioca e café, trabalhadores carvoeiros e mineiros, mas também o retrato de seu grande amor Mottinha, naturezas mortas, animais e anjos são alguns dos temas expostos nas 20 telas a óleo e desenhos apresentados. Variedade, beleza, intensidade de cores e temas num estilo genuinamente brasileiro.

 

 

Sobre a artista

 

DJANIRA (1914 – 1979) era cabocla do interior de São Paulo, gente tipicamente brasileira. Essa brasilidade se expressou em suas obras, cujos temas variam dos mais populares aos mais eruditos, estes percebidos em sua religiosidade barroca ou na opção ética pelo trabalho do povo.

 

 

Nos dizeres de Mario Barata, “Não é só o folclore como tema que surge frequentemente na obra da pintora. É a própria irradiação de valores que ela infunde na imagem desse fundo de vida popular, que nunca a deixa. Repetimos, não se trata só de assunto, mas sobretudo da energia que se desdobra a partir da imagem realizada através dele.”(2005, p. 29-30).

 

 

Não se pode dizer dela uma pintora naif, como já disseram no passado; ela era uma estudiosa da diversidade geográfica e etnográfica do país, mas também dos tempos: o profano na busca pelo genuinamente popular e o sagrado em motivos religiosos, presentes, sobretudo, no ocaso da vida, quando a saúde já comprometia o seu entusiasmo contagiante. Ela era alegre e densa ao mesmo tempo, dizem os que a conheciam de perto. “E isso define sua personalidade de artista intuitiva, para quem a pintura era um modo natural de relacionamento com a vida” (Ferreira Gullar, 2000, p. 51)

Pinakotheke SP exibe Shiró

10/jul

Nos seus 90 anos, Flavio-Shiróo pintor ganha exposição panorâmica, acompanhada de livro com assinatura do crítico de arte Paulo Herkenhoff. No ano em que se comemora os 110 anos da Imigração Japonesa no Brasil, comemoram-se também os 90 anos de Flavio-Shiró. Para celebrar a data, a Pinakotheke, Morumbi, São Paulo, SP, realiza uma exposição que traça a trajetória do pintor – dos anos 1940 aos dias atuais. A mostra reúne uma seleção de pinturas, desenhos, fotografias e objetos, na sua grande maioria, inéditos, com curadoria de Max Perlingeiro e do artista. Na ocasião, será lançado o livro com texto de Paulo Herkenhoff e exibidos filmes em curta-metragem dirigidos por Adam Tanaka, neto do artista.

 

A exposição promove um mergulho no universo de Shiró, pintor oriundo de três universos distintos – nasceu no Japão, cresceu no Brasil e há mais de seis décadas divide seu ateliê entre Paris e Rio de Janeiro. “Trata-se de um artista polivalente e internacional, mas talvez coubesse melhor designá-lo como transcultural, pois a obra propõe a convivência do intercâmbio Ocidente/Oriente, Norte/Sul ou Sapporo/Tomé-Açu/Paris”, escreve Herkenhoff.

 

Com 26 pinturas, 12 obras sobre papel, além de fotografias, objetos pessoais e cinco curtas dirigidos por seu neto Adam Tanaka e Margaux Fitoussi e produção executiva de Josué Tanaka, filho do artista, a mostra traça um panorama da obra do pintor, do figurativismo presente até o princípio de sua vida em Paris (1953), a transição para o abstracionismo informal até a retomada da figuração, sempre tendo o gesto como expressão basilar.

 

As telas como Voo Noturno, Matéria III e Camargue, da década de 1950, presentes na exposição, estiveram também no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1959, quando Shiró, ainda assinava Flavio S. Tanaka. “Um quadro de Shiró explodia como a convulsão da matéria do mundo na liberação daquilo que pareciam forças do caos; a massa pictórica incorpora-se em enervação, e a pintura é uma carnalidade vibrátil”, destaca o crítico.

 

Já na década de 1960, a obra de Shiró refere-se à pertinência positiva da pintura no campo cultural, como destaca Herkenhoff. “A obra de Flavio-Shiró, neste período, não discute apenas a guerra do Vietnã, mas toda guerra”.  Em meados dos anos 1970, o pintor sintetiza sua múltipla herança cultural e condensa seu imaginário em questões que explorará em profundidade nas décadas seguintes. “Pintar incluirá ativar a memória produtiva da fantasmática e deixá-la emergir perturbadora ao plano do visível”. Na década de 1990, a sua pintura reacende m nova chave cromática e se desprega da relação entre pincelada e desenho. “Paradoxalmente, este estágio barroco de sua pintura não tem a presença de monstros e fantasmagorias, como pode ter acontecido nas décadas anteriores”, afirma o crítico.

 

Por sua vez, no século XXI, o tema que anima os meus trabalhos continua evoluindo ao mesmo imaginário através de uma visão transfiguradora e poética, observa Shiró. “A isto, podemos chamar de arte como projeto de vida. Prossegue em sua trajetória e se depura como pintor sintético e denso. Seu imaginário pulsa pleno com o vigor da matéria e se move por vontade de experimentar ideias e por curiosidade técnica. Algumas questões plásticas têm envolvido a mente inquieta de Shiró: objetos; invenções; experiências com a xilogravura e a nova inflexão em sua pintura, com formas audaciosas”, completa Herkenhoff.

 

 

De 09 de julho a 11 de agosto.