Um jogo de evocação de presenças.

04/set

Anderson Santos, em “A Vida Nua”, nova exposição na Paulo Darzé Galeria, Salvador, Bahia, com abertura no dia 04 de setembro e temporada até 27 de setembro, aprofunda sua investigação sobre a figura humana e a presença desta, explorando camadas de intimidade, memória e corpo no limiar entre o visível e o oculto. Pintor figurativo, que transita entre técnicas do óleo, acrílica, desenho à lápis, trabalhando principalmente sobre tela, cartão, madeira, e sendo um desenhista que utiliza o grafite ou o carvão sobre papel, e a pintura digital, vindo neste último caminho a desenvolver uma pintura e um desenho no iPad, adaptando a técnica tradicional para esta nova realidade digital, com isso realizando experimentos em vídeo, cartazes, e storyboards para cinema,

Obra marcada pela presença humana, principalmente a feminina, onde a imagem dentro da imagem está sujeita a manchas ou proporções que a distorcem, produzindo uma pintura expressiva, ao trazer a figura, em sua angústia e seu cotidiano, a uma posição central, tema logo visível desde o início de suas mostras em 2002, e nas diversas fases, séries, ou no assunto seguinte que elabora.

Em “A Vida Nua”, Anderson Santos apresenta trabalhos em pinturas a óleo, acrílica, e lápis sobre tela, incluindo ainda desenhos sobre papel Fabriano e Velata Avario. O texto do catálogo é de autoria de Tarcísio Almeida.

A fala do artista.

“A Vida Nua” é uma mostra que lança luz sobre a minha produção mais recente em pintura, com foco no óleo sobre tela. Apresento 21 obras, desenvolvidas desde o início da pandemia da COVID-19 até agora, atravessando um período de intensa transformação pessoal e coletiva. O ponto de partida dessa série foi o vídeo “A Vida Nua”, realizado em 2020, para um edital emergencial, durante a pandemia. Esse trabalho, recusado na ocasião, acabou seguindo outros caminhos: esteve na SP-Arte online, no festival Zona Mundi, na mostra “Raízes” no MUNCAB e, posteriormente, em “Floresta Negra”, em Belém, exposição contemplada com o Prêmio Branco de Melo em 2023. O vídeo era um brado de esperança para que minha família pudesse atravessar a pandemia com vida, ainda que conscientes de que a experiência do mundo seria irreversivelmente transformada. Apesar do confinamento, a sensação era de exposição extrema. A vida, reduzida a registros burocráticos – CPF, CNPJ, cartão de saúde, Green Pass – parecia nua diante da arbitrariedade do poder soberano. Nesse contexto, me aproximei da obra do filósofo Giorgio Agamben, especialmente “Homo Sacer – O poder soberano e a vida nua”. Percebi como, em situações de exceção, os direitos civis podem ser suspensos e a vida reduzida ao seu limite biológico. Porém, sendo um homem negro, entendo também que esse arranjo de poder sobre corpos como o meu não se restringe a períodos de exceção, mas se estende indefinidamente ao longo da história. As pinturas e desenhos de “A Vida Nua” partem desse lugar, mas não como ilustração de uma tese. Não tenho respostas prontas para o mundo em que vivemos. Traço corpos – em sua maioria femininos (porque carregam a possibilidade do vindouro) – que emergem no espaço da tela ou do papel em um jogo de evocação de presenças. Procuro diálogos silenciosos, como aqueles que vivenciamos com pessoas, plantas, lugares, animais e coisas que conhecemos há muito tempo: encontros, em que a simples presença mútua é capaz de revelar camadas de intimidade, memória, e a possibilidade de reinvenção de mundos. Se em “Floresta Negra” havia uma relação evidente com a tecnologia e a interação em realidade aumentada, criando uma espécie de jogo com o público, em “A Vida Nua” decidi me afastar dessas camadas tecnológicas mais explícitas para me concentrar no gesto pictórico, no encontro direto entre corpo e pintura. Ainda assim, em um arranjo sutil de artesania, boa parte das imagens que me serviram de referência foi criada a partir do meu encontro com ferramentas de geração de imagens por meio de redes neurais – as chamadas inteligências artificiais. Essas imagens de referência foram reelaboradas a partir de meu próprio acervo, possibilitando o surgimento de novas criaturas híbridas. A mostra se articula em três subséries: “Presença”, que se ocupa do corpo das imagens criadas artificialmente e da dificuldade inicial dessas ferramentas em lidar com um imaginário não branco; “Accra”, que aborda mais diretamente nossa relação com as tecnologias emergentes e o preço desse relacionamento para o corpo do planeta; e “Sobre a Vida”, onde me volto para o envelhecimento da minha família mais próxima. As três séries juntas nos questionam sobre o que é estar no mundo hoje, apesar de todos os nossos excessos, e o que significa estar realmente presentes. Para mim, “A Vida Nua” é uma exposição que reafirma o poder da pintura de ainda abrir mundos e de sustentar presenças. Mesmo diante da precariedade da vida, a figura vem se afirmar na sua potência radical – ou presença.

Primeira individual na Austrália.

03/set

O escultor Leo Stockinger vai apresentar pela primeira vez sua exposição “Vísceras – Corpo e Existência”, em Sydney, na Austrália, país onde vive desde 2005. A mostra seráinaugurada no próximo dia 26 de setembro na Scratch Art Space (Sydenham Rd, Marrickville). As obras poderão ser visitadas até o dia 05 de outubro. O artista já participou de mostras coletivas em Brasília e Paraty, e esteve em cartaz no início do ano com sua primeira mostra individual no Brasil, durante a Bienal do Mercosul. Estudou escultura na National Art School de Sydney e, incorporou influências diversas à sua produção, que reflete uma vivência multicultural e a busca por novas formas de expressão, sem perder a conexão com a tradição da escultura: “Expandi minha visão sobre a arte, absorvendo referências que vão da tradição indígena australiana à arte asiática e ocidental contemporânea”.

“Vísceras – Corpo e Existência” ganhou vida quando Leo Stockinger  encontrou um material vermelho de aspecto molhado e surpreendente plasticidade – um adesivo que evocava a matéria viva da carne e das vísceras. “Busquei corpos fossilizados nos troncos de árvores mortas na praia. Eram vestígios do tempo, restos esquecidos que carregavam histórias em suas fibras secas”, revela.

Da fusão desses elementos nasceram corpos escultóricos únicos, onde madeira e adesivo se incorporam em diferentes formas e tamanhos, ressignificando a matéria e transformando-a em arte. Onde o espectador é convidado a sentir o que só a alma é capaz de enxergar: “A carne agora pulsa novamente – não mais inerte, mas víscera viva, reconfigurada pela arte”, complementa o artista. Há beleza e desconforto. Atração e repúdio. Tesão e medo. Instigados pela profunda estranheza das vísceras expostas e em constante busca de padrões pré-estabelecidos, o espectador impacta-se diante do que cada corpo deseja comunicar. Gestos, sensações e formas fundidas em matéria e dúvida. As esculturas de Leo Stockinger ultrapassam a beleza plástica e nos fazem perguntas. Sobre gênero, energia sexual, culpa, posse, raiva, vergonha, relações e desejo. Corpo e mente cúmplices em cada peça do artista e naqueles que são tocados pela sua criação. Carne, signo, desejo, símbolo.

Textos assinados pelo crítico de arte Jacob Klintowitz e pelo artista Tom Isaacs, de Sydney, refletem sobre a poética e o impacto do trabalho de Leo Stockinger.

Sobre o artista

crítico de arte Jacob Klintowitz e pelo artista Tom Isaacs, de Sydney, refletem sobre a poética e o impacto do trabalho de Leo Stockinger, em Sydney, Austrália. Nascido em Porto Alegre, RS, Brasil, em 1980, radicou-se na Austrália há duas décadas, onde vive e trabalha. Leo Syockinger cresceu literalmente no meio da arte. Sua herança começa na família, com seu avô, Francisco (Xico) Stockinger, reconhecido escultor, que exerceu uma influência fundamental em sua vida. Desde menino, frequentava o ateliê e, imerso naquele ambiente mágico, via formas surgindo do gesso, do barro, do metal e da madeira. Aprendeu os fundamentos da escultura e, ainda jovem, estudou também desenho com o pintor Danúbio Gonçalves, consolidando seu olhar sobre traços e sombras. Embora tenha iniciado sua trajetória acadêmica estudando Direito no Brasil, Leo Stockinger optou por seguir seu verdadeiro chamado, dedicando-se integralmente às artes. Sua formação na National Art School consolidou sua pesquisa escultórica, permitindo-lhe aprofundar a exploração da forma e da matéria. Em abril de 2025, trouxe para Porto Alegre-RS, Brasil, dentro do Projeto Portas Abertas – Fundação Bienal do Mercosul, a exposição “Vísceras-Corpo e Existência”, uma  realização da Galeria de Arte Stockinger.

Galatea na ArtRio 2025.

A Galatea participará da 15ª edição da feira ArtRio, que ocorre entre 10 e 14 de setembro, na Marina da Glória, no Rio de Janeiro. A galeria exibirá uma seleção de obras composta por nomes fundamentais da arte moderna e contemporânea brasileira, além de artistas que exerceram influência na cena nacional ou que por ela foram influenciados, abarcando desde jovens talentos emergentes a nomes consolidados.

A robusta lista de artistas reúne Alfredo Volpi, Allan Weber, Angelo de Aquino, Arnaldo Ferrari, Arthur Palhano, Ascânio MMM, Bruno Novelli, Carolina Cordeiro, Dani Cavalier, Edival Ramosa, Estela Sokol, Francisco Galeno, Franz Weissmann, Gabriel Branco, Gabriela Melzer, Georgete Melhem, Ione Saldanha, Israel Pedrosa, Joaquim Tenreiro, Julio Le Parc, Luiz Zerbini, Marilia Kranz, Max Bill, Mira Schendel, Montez Magno, Mucki Botkay, Raymundo Colares, Rubem Ludolf, Sarah Morris, Ubi Bava e Ygor Landarin.

O conjunto propõe um diálogo entre a arte contemporânea e vertentes de destaque na arte do século XX, como a arte concreta, o construtivismo geométrico, a abstração informal, a arte têxtil e a chamada arte popular. A amplitude temporal abarcada pela seleção de artistas reflete e articula os pilares conceituais do programa da Galatea: ser um ponto de fomento e convergência entre culturas, temporalidades, estilos e gêneros distintos, gerando uma rica fricção entre o antigo e o novo, o canônico e o não-canônico, o erudito e o informal.

Dois artistas na galeria A Gentil Carioca.

02/set

A Gentil Carioca, Higienópolis, São Paulo, SP, anuncia, em sua sede paulistana, a primeira exposição do artista colombiano Carlos Jacanamijoy no Brasil. Intitulada “Ambi Yaku” – expressão em quéchua que significa “água que cura” -, a mostra evoca a relação vital entre natureza, espiritualidade e ancestralidade. No andar superior da galeria, Ana Silva apresenta “Contemplação do Vazio”, sua segunda individual na galeria. Atualmente em cartaz na coletiva “O Poder de Minhas Mãos”, no Sesc Pompeia, a artista reúne composições de atmosfera onírica, que expandem a poética de seu trabalho e costuram tempos, territórios e memórias. As aberturas acontecem em 03 de setembro, coincidindo com o início do circuito da Travessa Dona Paula, encontro de colecionadores, patronos e curadores no contexto da 36ª Bienal de São Paulo.

Reconhecido como um dos principais nomes da arte indígena contemporânea nas Américas, Carlos Jacanamijoy (n. 1964, Putumayo, Colômbia) apresenta obras inéditas desenvolvidas durante residência no Rio de Janeiro. Sua pintura, de dimensão quase sinestésica, compõe partituras visuais em que cores e gestos se transformam em murmúrios, silêncios e explosões sonoras. Os títulos em quéchua, língua aprendida com a avó, reafirmam a resistência cultural e prestam tributo às gerações anteriores: “O quéchua é uma língua muito doce. Talvez eu sinta isso porque é minha língua materna ancestral em risco de extinção, e porque sinto nostalgia de fazer parte de uma cultura de língua milenar, silenciada, esquecida, invisibilizada (…). Sua sonoridade abre um portal de memórias muito imersas na natureza que me viu crescer e que eu via enquanto crescia.”

Para Carlos Jacanamijoy, a arte é uma linguagem de liberdade, capaz de “desfolclorizar e descolonizar”, rompendo estereótipos que historicamente reduziram os povos indígenas a representações folclóricas ou exóticas. Ao afirmar-se como artista – sem rótulos limitadores como “arte indígena” -, Carlos Jacanamijoy reivindica um espaço de dignidade, diálogo e reconhecimento. Suas obras integram coleções de prestígio, como o National Museum of the American Indian – Smithsonian Institution (Washington, D.C., EUA), Biblioteca Luis Ángel Arango (Banco da República, Bogotá), Museu de Arte Moderna de Bogotá e o Museo La Tertulia (Cali), consolidando-o como figura fundamental na arte contemporânea latino-americana.

A pesquisa de Ana Silva (n. 1979, Calulo, Angola) toma o bordado como linguagem plástica para refletir sobre heranças culturais, afetividade e identidade. Bordados, pigmentos e tecidos são sobrepostos e tensionados, ganhando densidade poética. O gesto manual, também uma escolha política, resgata tradições ligadas ao trabalho doméstico e feminino, articulando delicadeza e força, intimidade e potência. Suas obras integram as coleções do Centre Pompidou; Fondation H – Paris; Fonds de Dotation agnès b., PAMM: Pérez Art Museum Miami, e Fondation Gandur pour l’Art.

Na individual “Contemplação do Vazio”, Ana Silva apresenta obras inéditas produzidas em residência artística em São Paulo, nas quais investiga o vazio como espaço de potência e transformação: “Nesta série, parto do princípio de que o vazio não é sinônimo de ausência, mas de potencial. Um espaço em expansão, tal como o universo, traz consigo a possibilidade da criação, da transformação e da leveza. Tal como a respiração – que se expande e contrai -, o vazio pulsa, ressoa e oferece um refúgio ao movimento da existência.”, diz a artista.

Diferentes gerações e abordagens.

Transe - 001

A Gomide&Co e a Act Arte, Jardins, São Paulo, SP,  apresentam até 15 de novembro, “Transe”, coletiva organizada com Fernando Ticoulat, que também assina o texto crítico.

Reunindo artistas de diferentes gerações e abordagens, a mostra propõe um percurso que investiga a arte como meio ativo de reorganização dos sentidos, da linguagem e da percepção. A partir de diferentes suportes e abordagens, observa como processos técnicos e simbólicos estruturam a criação artística em diálogo com transformações históricas, culturais e tecnológicas. “A arte é um campo de condensação energética em forma sensível, do cósmico no íntimo, […] que reconfigura o mundo a partir de suas entranhas”, comenta Fernando Ticoulat.

O conceito da exposição parte do imaginário radical das décadas de 1960 e 1970, marcado por contracultura, psicodelia, lutas sociais, descobertas científicas e pela busca espiritual, quando a ciência já não bastava para explicar os novos limites da mente, do tempo e da realidade. “Transe” propõe um mergulho em práticas que operam por transformação: obras como sistemas abertos, em constante ativação, que mais do que representar o mundo, o refazem. A exposição inclui obras de Luiza Crosman, Antonio Dias, Rubens Gerchman, Karla Knight, Montez Magno, Cildo Meireles, Mira Schendel, Camile Sproesser, Megumi Yuasa, entre outros.

Jonathas de Andrade obras inéditas e recentes.

A Nara Roesler São Paulo convida para a abertura de “Permanência Relâmpago”, exposição com obras inéditas e recentes do celebrado artista Jonathas de Andrade (1982, Maceió, residente em Recife). A curadoria é de José Esparza Chong Cuy, diretor-executivo e curador-chefe da Storefront for Art and Architecture, em Nova York.

“Permanência Relâmpago” abrange três conjuntos de obras a que Jonathas de Andrade vem se dedicando nos últimos dois anos, em torno dos jangadeiros da praia de Pajuçara, em Maceió, que navegam em jangadas de madeira e velas tradicionais, levando turistas às piscinas naturais, e os canoeiros do Rio São Francisco, no sertão de Alagoas, próximo à Ilha do Ferro, que usam canoas de velas quadradas duplas de grande escala, notavelmente gráficas, em um circuito de competições de forma recreativa e esportiva.  Ambas as manifestações representam culturas náuticas seculares transmitidas de pai para filho, praticadas por comunidades de pescadores e barqueiros, revelando um jogo cultural que tensiona intimamente tradição, patrimônio, turismo e economia.

A exposição oferece ao público uma primeira vista, privilegiada, da pesquisa em andamento para um comissionamento feito em 2023 pelo Victoria and Albert Museum, em Londres, a convite de Catherine Troiano, curadora do departamento de fotografia da instituição. Em novembro de 2025, obras inéditas produzidas por Jonathas de Andrade dentro desta pesquisa serão exibidas no V&A, quando passarão a integrar a coleção do Museu. Em “Permanência Relâmpago”, Jonathas de Andrade questiona os sistemas em transformação que moldam identidade, trabalho e memória. Suas instalações, filmes e obras conceituais atuam como arquivos vivos, reativando histórias orais, saberes marginalizados e tradições artesanais.

A exposição terá três eixos de trabalhos. Na série “Jangadeiros Alagoanos”, Jonathas de Andrade usa como suporte as velas originais das jangadas marítimas, usadas na praia de Pajuçara, marcadas pelo sol e pelo uso. No segundo conjunto de trabalhos, “Canoeiros Neoconcretos”, o artista parte das velas de padrões gráficos ousados utilizados pelos canoeiros do Rio São Francisco, próximo à Ilha do Ferro, paisagem carregada de histórias de seca, migração e sobrevivência no Sertão.

Em outra série, “Puro torpor do transe do sol”, as velas gráficas dos barcos no Rio São Francisco inspiram composições abstratas com pintura automotiva, “dando volume escultórico e objetual aos campos de cor que atravessam o rio, na corrida das canoas e as velas gigantes”, comenta o artista.

O terceiro eixo da exposição é a estreia do filme “Jangadeiros e Canoeiros”, que terá uma sala especial para sua exibição. A trilha sonora é de Homero Basílio, profícuo percussionista e produtor musical que colaborou em diversos filmes de Jonathas de Andrade.

Até 26 de outubro.

O feminino como princípio criador.

do mundo”. Uma visão poética e sensível da mulher como matriz, gênese, força-motriz no mundo e no cotidiano é a ideia que agrega as 77 obras de 59 artistas mulheres. Entre as artistas, estão Maria Martins, Lygia Pape, Celeida Tostes, Leticia Parente, Anna Bella Geiger, Sonia Andrade, Regina Silveira, Anna Maria Maiolino, Ana Vitória Mussi, Iole de Freitas, Sonia Gomes, Lenora de Barros, Brígida Baltar, Beatriz Milhazes, Rosângela Rennó, Adriana Varejão, Laura Lima, Aline Motta, Bárbara Wagner e Lyz Parayzo. A curadoria é de Katia Maciel e Camila Perlingeiro, que selecionaram trabalhos em pintura, gravura, desenho, vídeo, fotografia, escultura e objetos.  A mostra ficará em cartaz até 18 de outubro.

O início do mundo é um convite a regressar às origens. 59 mulheres evocam o feminino como princípio criador e força de transformação. Cada imagem, cada matéria carrega em si a potência das metamorfoses cíclicas, antigas e futuras. Aqui, o começo não é um ponto fixo, mas um movimento contínuo: um mundo que se reinventa no corpo feminino, na memória e na arte.

“Essa exposição é um projeto ousado, mesmo para a Pinakotheke”, diz Camila Perlingeiro. “Reunir tantas artistas e obras com suportes tão diversos foi certamente um desafio, mas um que abraçamos com entusiasmo. Há anos pensávamos em uma mostra que envolvesse um número expressivo de artistas mulheres, e a curadoria de Katia Maciel, poeta e artista múltipla, foi a garantia de um projeto ao mesmo tempo criterioso e sensível”. A montagem da exposição não obedece a um critério de linearidade. As aproximações são poéticas, onde obras em diferentes suportes se agrupam – como filmes junto a fotografias, ou pinturas que conversam com objetos, por exemplo. “É um percurso orgânico”, observa Camila Perlingeiro.

A primeira sala é toda em preto e branco, “porque simboliza o começo, antes da cor, antes de tudo”, explica a curadora. As outras salas são uma reunião de obras que conversam profundamente entre si e ao mesmo tempo formam uma cacofonia delicada e potente de tudo o que simboliza o início e o ciclo da vida.

Katia Maciel indaga: “O início é um ponto, uma linha, um círculo?”. “Para a Física, seria um ponto primeiro, um começo que explode. Para a História, uma linha contínua que por vezes se bifurca. Para as Mitologias, um círculo que gira sobre si mesmo. Para a Arte, o início são os três pontos, a reticência, a pergunta, a dúvida, uma forma viva que liga o finito ao infinito. A exposição reúne o trabalho de 59 mulheres cujos aspectos sensíveis e simbólicos expressam um início possível”, afirma.

Exposição e livro na Pinakotheke Cultural.

Uma das figuras centrais na vida cultural brasileira desde 1956, Frederico Morais (1936, Belo Horizonte) ganha uma publicação em dois volumes, com 912 páginas no total, com seus textos críticos publicados ao longo das décadas de 1970 e 1980. “Frederico Morais – Arte e Crítica” (Edições Pinakotheke, 2025) é fruto de uma pesquisa de dez anos feita por Stefania Paiva e Rodrigo Andrade, que selecionaram 500 textos desse período abordado. O Volume I cobre os anos 1970; o Volume II, os 1980, e os textos foram publicados no jornal “O Globo”.

Para celebrar o lançamento da publicação, que dá a partida para as homenagens dos 90 anos de Frederico Morais, em 2026, a Pinakotheke apresenta uma exposição com 25 obras de 22 artistas próximos ao crítico, entre eles Beatriz Milhazes, Carlos Vergara, Cildo Meireles e Rubem Valentim, em seleção de Stefania Paiva e Diego Matos.

Além das obras, será exibido o filme “Frederico Morais – a crítica-poema”, com direção de Katia Maciel, pesquisa de Stefania Paiva, produção de Camila Perlingeiro e fotografia de Daniel Venosa, com depoimentos feitos pelos artistas Cildo Meireles, Rosana Palazyan, Carlos Zilio, Milton Machado, Ana Vitória Mussi, Evandro Salles, Beatriz Milhazes e Luiz Alphonsus.

A exposição apresenta também uma série de textos fac-similares com aproximação crítica, destacando três caminhos histórico-poéticos relevantes que atravessaram a trajetória de Frederico Morais: experiência e radicalidade (a arte dos jovens artistas dos anos 1960/1970); amplitudes modernas (a diversidade do Modernismo no Brasil) e identidades de um Brasil plural (muito além do moderno, um país único).

“Funcionando como prelúdio de um universo ainda maior, uma espécie de Biblioteca de Babel borgiana da arte brasileira, essa mostra permitirá visualizar algumas conexões selecionadas entre crítica e criação, entre curadoria e participação, entre história e presente”, como assinalam Stefania Paiva e Diego Matos.

As engrenagens de Gabriela Mureb.

 

A Central galeria, Higienópolis, São Paulo, SP, apresenta a partir de 02 de setembro a exibição individual de Gabriela Mureb, “Cavalo-vapor”. A exposição inaugura a nova sede da galeria, ocupando os dois andares do espaço com instalações, esculturas e um filme.

Artista em destaque na Trienal do New Museum em 2021 e na 13ª Bienal do Mercosul em 2023, Gabriela Mureb elabora, em sua obra, ruídos entre corpo, objetos técnicos e máquinas, em trabalhos que se apresentam ora como sobreposições de engrenagens, ora como sistemas em funcionamento.

Alberto Pitta na Nara Roesler.

01/set

Uma das figuras centrais no Carnaval de Salvador, onde atua há mais de 45 anos, o artista Alberto Pitta tem recebido, no Brasil e no exterior, um crescente reconhecimento de sua produção, e participará da 36ª Bienal de São Paulo, a convite de Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, que em 2023 já havia incluído obras suas na coletiva “O Quilombismo”, na Haus der Kulturen der Welt, em Berlim. Este ano, Alberto Pitta participou da exposição “Joie Collective – Apprendre a flamboyer”, no Palais de Tokyo, em Paris, entre outras. Na Nara Roesler São Paulo, Alberto Pitta irá mostrar, a partir de 02 de setembro, 24 trabalhos inéditos e recentes, em pintura e serigrafia sobre tela, além de desenhos sobre papel que mostram seu processo criativo, e ainda um carrinho de madeira, alusivo aos usados por vendedores de cafezinho em Salvador. A curadoria é de Galciani Neves.

Na abertura da exposição “Àkùko, Eiyéle e Ekodidé – Uma revoada de Alberto Pitta”, será lançado o livro “Alberto Pitta” (Nara Roesler Books, 2025), com 152 páginas, formato de 17,5 x 24,5 cm, capa dura com serigrafia, bilíngue (português/inglês) e texto de Galciani Neves – curadora da mostra – além de uma entrevista dada pelo artista a Jareh Das, curadora que vive entre a África Ocidental e o Reino Unido. A introdução é de Vik Muniz, amigo do artista desde que ambos participaram da exposição “A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé”, com curadoria de France Morin, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em 2000.

A curadora destaca que na exposição três pássaros “aparecem com protagonismo nas telas de Pitta: Àkùko, Eiyéle e Ekodidé se espalham a partir de uma organização cromática do espaço da galeria Nara Roesler”. “Eles habitam a primeira série de trabalhos, na qual predominam composições em preto, branco, vermelho e amarelo, como se dessem boas-vindas ao público; em seguida explodem em cores vibrantes e composições multicoloridas, para encantar; e, por fim,acontecem na calmaria de telas brancas – onde distintos matizes de branco compõem o trabalho”.

Vik Muniz, na introdução do livro, afirma que “nos panos dos abadás, uniformes dos blocos afro e blocos de índios sua linguagem se moldou, impregnada de referências ancestrais e desafiada pela multitude de propostas temáticas resultante da autonomia criativa dos carnavalescos. Pitta é protagonista e produto desse encantamento pleno de tradição, mas não vazio de liberdade”.

Na Nara Roesler São Paulo, Alberto Pitta vai mostrar um carrinho de cafezinho, feito em madeira, na forma de um caminhão de brinquedo, em alusão aos “carrinhos de cafezinho”, muito comuns em Salvador, usados pelos vendedores ambulantes para vender café, normalmente já adoçado com açúcar, colocado em garrafas térmicas e servido em copos de plástico. Para a exposição “A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé”, em 2000, no Museu de Arte Moderna da Bahia, com curadoria de France Morin, Alberto Pitta desenvolveu um projeto inspirado no seu envolvimento duradouro com esses carrinhos de cafezinho, desde os treze anos de idade, quando criou seu primeiro carrinho de cafezinho.

Até 26 de outubro.