Issa Watanabe em São Paulo.

03/jul

O Instituto Cervantes de São Paulo, Avenida Paulista, apresenta uma nova exposição em cartaz em sua sede, até o dia 31 de julho. Trata-se da exibição da autoria da ilustradora peruana Issa Watanabe, “Migrantes” que, como o nome indica, retrata um tema bastante discutido na atualidade: a imigração e os fluxos dos refugiados. As obras que compõem essa mostra são provenientes do livro homônimo publicado pela artista, além de ilustrações de sua mais nova publicação, “Kintsugi”, e outras composições recentes.

Issa Watanabe começou a se aproximar do tema imigração quando foi viver em Mallorca, na Espanha, no início dos anos 2000. No país europeu, ela testemunhou as primeiras tentativas massivas de estrangeiros partirem da África em pequenos barcos rumo à Europa – uma travessia altamente perigosa, feita em embarcações precárias, mas que continuam sendo realizadas até hoje.

Uma das pessoas que se arriscou na travessia foi Abdulai, um estrangeiro proveniente do Mali e que tinha praticamente a mesma idade de Issa e seus companheiros de casa. Os jovens conheceram o rapaz em um ponto de ônibus, quando ele havia acabado de chegar ao país, sem visto, sem documentos e sem nem mesmo falar espanhol. Issa e seus amigos decidiram abrigar o jovem africano, que acabou vivendo com eles por um ano e meio. “Ele falava um pouco de francês e era assim que nos comunicávamos. Pudemos entender os motivos de Abdulai e o que uma viagem desse tipo significava para ele e para sua família. E acompanhar o processo dele tentar se adaptar a uma sociedade que, naquela época, o rejeitava”, conta a artista. Toda essa experiência inspirou Issa a dar aulas de espanhol como voluntária para os estrangeiros que chegavam à Mallorca e fez com que a artista se interessasse cada vez mais pelo tema imigração. Mas os primeiros esboços de “Migrantes” tomaram forma apenas quando ela já estava de volta ao Peru, anos mais tarde. A produção se iniciou espontaneamente, sem planejamento, e foi enchendo os cadernos de rascunhos da ilustradora. “Essa é uma obra que retrata uma situação muito difícil, que fala sobre morte, perdas, mas também esperança. Na história, os animais se ajudam mesmo sendo de espécies diferentes – alguns até mesmo se alimentam de outros na natureza”, diz a artista.

“Migrantes”, de Issa Watanabe, chega ao Instituto Cervantes de São Paulo após passar pela instituição em Roma, Salvador, Brasília e Rio de Janeiro, e faz parte da programação do Festival Cidade da Cultura. O evento conta com o apoio da Embaixada do Peru no Brasil, Consulado Geral do Peru em São Paulo, Centro Cultural Inca Garcilaso, Embaixada da Espanha no Brasil e Cooperación Española.

Distintas vozes na Vaquejada da Meia-Noite.

30/jun

A Almeida & Dale, Pinheiros, São Paulo, SP, inaugurou “Vaquejada da meia-noite”, exposição coletiva com curadoria de David Almeida. Ocupando o novo espaço expositivo da Fradique 1360, a mostra reúne distintas vozes e gerações de artistas conectados ao território cearense por meio de um gesto afetivo que reverbera e amplia a trajetória e a pesquisa de David Almeida. Motivado por uma investigação familiar, David Almeida, nascido em Guará, DF, aproximou-se profundamente do sertão e seus artistas, encontrando reverberações de suas pesquisas nas imagens criadas por eles.

Mais do que explicar ou catalogar a produção local, “A mostra vocaliza testemunhos assombrados da resistência, que se entrelaçam e desafiam o real imaginário do Brasil profundo, onde a reza e a crença são parte indissociável da verdade”.

A noite, a crença e o diabo, assim como a luta, o trabalho e as ferramentas de sobrevivência, são imagens que tecem o ambiente gótico-sertanejo proposto na exposição.

Artistas participantes.

Arivanio, Artur Bombonato, Arthur Siebra, Associação de Artesãos do Padre Cícero, Beatrice Arraes, Darks Miranda, Diego de Santos, Efrain Almeida, Francisco de Almeida, Gilberto Pereira, Gustavo Diogenes, J.F., José Leonilson, José Lourenço, Júlia Aragão, Juno B., Sara Costa, Sérgio Gurgel, Sérvulo Esmeraldo, Stênio Diniz, Terezinha de Jesus, Thadeu Dias.

Até 16 de agosto.

Uma experiência alucinatória.

Acervo Vivo: Vivenciando a transcendência: uma coreografia de pinturas inaugura na quinta, 3 de julho, na Almeida & Dale, rua Caconde 152, São Paulo, SP. Partindo da pintura de Rubens Gerchman, a exposição propõe um percurso vertiginoso por entre pinturas de diferentes períodos e tendências, passando pelo abstracionismo, construtivismo, pop e a pintura contemporânea, constituindo um bailado que convida à uma experiência alucinatória, arraigada nos sentidos e de suspensão dos limites da historiografia tradicional da arte.

Acervo Vivo é um programa que explora o acervo da Almeida & Dale por meio de exposições organizadas por curadores e pesquisadores convidados e internos.

As exposições do projeto partem de uma seleção criteriosa e não hierárquica de obras que propõe diálogos entre artistas contemporâneos e de diferentes gerações, transpondo barreiras cronológicas, construindo articulações inusitadas, revelando novas camadas de sentido e promovendo encontros entre tempos e narrativas distintas.

Ao ativar o acervo como um campo de investigação contínua, Acervo Vivo reafirma o compromisso da galeria com a valorização da arte brasileira e global em suas múltiplas temporalidades, contribuindo para sua preservação, difusão e constante reinterpretação.

Artistas participantes

Adriana Varejão, Alfredo Volpi, Amilcar de Castro, Antonio Dias, Claudio Tozzi, Donna Huanca, Dudi Maia Rosa, Emmanuel Nassar, Luiz Sacilotto, Maxwell Alexandre, Mira Schendel, Montez Magno, Peter Halley, Rubem Valentim, Rubens Gerchman, Sandra Gamarra, Sean Scully, Siron Franco, Yayoi Kusama.

Até 31 de julho.

André Azevedo e sua Escrita-miragem.

27/jun

A Simões de Assis, Jardins, São Paulo, SP, apresenta até 26 de julho “Escrita-miragem”, exposição individual de André Azevedo.

Texto de Mariane Beline e Luana Rosiello.

O grid só existe quando criado, é uma estrutura organizacional, composta por linhas horizontais e verticais que desenham um sistema de divisão no espaço, de modo que não é encontrado organicamente no meio ambiente. André Azevedo combina a vontade de desafiá-lo com a investigação de imagens botânicas, operando em um campo de torção da escrita tradicional e do código visual. Na mostra Escrita-miragem nos deparamos com um universo singular, apresentado pela primeira vez nessa profundidade, que navega em nuances cromáticas, em que o azul, vermelho, verde e preto adentram o tecido e se transformam em figuração. Vivemos sob o domínio de códigos que se superpõem à experiência do mundo e nos afastam da realidade direta, e é nesse mundo codificado em que/no qual Escrita-Miragem atua. André Azevedo é um organizador de sinais, um semiólogo em ação, sua poética investiga possibilidades plásticas da datilografia, um equilíbrio entre a dureza da máquina e o lírico da representação figurativa floral.

A obra Datilográfica 9 engendra uma abstração e promove a abertura para novos universos. Estar diante dessa peça é como quando há décadas e décadas atrás sintonizávamos as estações do rádio. Um mobiliário/meio de comunicação, o rádio permite sentir as ondas sonoras das estações que transmitem sinais eletromagnéticos em determinadas frequências, em que sintonizamos até encontrar uma frequência dentro do circuito. Datilográfica 9 é o tuning da exposição, nos convoca a adentrar nessa frequência e apreciar uma apreensão poética do mundo codificado. Azevedo sintoniza a partícula mínima que é uma letra, parte da palavra imagem e a decompõem, recompõe, refaz, reconstrói, e a transforma em imagem. As obras em tecido de algodão não possuem moldura, as laterais esticadas em chassi de madeira são atreladas à feitura da datilografia, em alguns trabalhos existem pequenas pistas de que a imagem é forjada por caracteres. O revelar de camadas se torna evidente com os papéis carbono, aos quais é possível ver cada letra que atravessou a superfície e se tornou luz, virou partitura visual.

Acerca da escolha das imagens projetadas, as ilustrações retomam a vida e os elementos naturais da terra e foram apropriadas do livro “Historia Natural: Vida de los animales, de las plantas y de la tierra – Botánica”, advinda de coleções enciclopédicas ilustradas, populares nos séculos XIX e XX, em uma vida pré digital. A obra mimetiza a gramática da máquina e, em paralelo, a corrompe poeticamente, abrindo rachaduras no sistema de significação. As flores, galhos, ramagens materializam-se nos Is Ms As Gs Es e Ms em um diálogo ritmado entre a rigidez maquínica e a organicidade efêmera. As relações com a pintura se estreitaram. Azevedo opera o têxtil com o pensamento pictórico e alarga as possibilidades de tradução de imagem por um retorno ao analógico. Em obras que replicam figuras, ao primeiro olhar, são iguais, mas para a observação mais atenta, elevam-se pequenas discrepâncias de coloração, desenhos que se delineiam de outra maneira, fazendo com que os trabalhos repetidos sejam absolutamente singulares em sua formação. Utiliza um software que pixeliza a imagem e traduz em código para realizar uma imagem, a tecnologia já existe no campo da estamparia, mas é na tradução imagética que Azevedo a ressignifica, a partir do carbono e do gesto se adiciona individualidade a peça, ao subverter a reprodutibilidade técnica pelo imprevisível. A escrita escapa ao controle e a aura insiste em aparecer. Azevedo apropria-se da mecanicidade do aparelho, deixando a escrita por conta da máquina, instruindo os canais a distribuírem tinta em forma de sinais gráficos, cobrindo a superfície para, depois, encobri-la de maneira que seja apresentado algo imageticamente, produzindo um contraste entre a cor da tinta e da superfície. A escritura é a ciência das fruições da linguagem, a possibilidade de uma dialética do desejo, de uma imprevisão do desfrute, para Roland Barthes, o texto escrito sempre dá uma prova do desejo: é a própria escritura. O que Azevedo propõe é transbordar a escrita, sua prática concebe pela escritura um espaço de fruição poética e novas formas de percepção imagética. A abordagem pictórica é tanto matérica como mental. O artista se apoia em pensamentos como de Vilém Flusser, em que a cultura é a tentativa de enganar a natureza por meio da tecnologia, da maquinação. As regras numéricas inventadas pelo ser humano, em abstrato, são capazes de descrever, explicar e até prever a experiência sensorial. Tão poderosos são os códigos que construímos a partir deles versões alternativas da chamada realidade, mundos paralelos, múltiplas experiências do aqui e agora. Nesse entendimento, todo artefato é produzido por meio da ação de dar forma à matéria seguindo uma intenção, a manufatura corresponde ao sentido estrito do termo in + formação, dar forma a algo – na poética de Azevedo, de traduzir letra em imagem.

O aparelho se torna não apenas um dispositivo mecânico, mas uma entidade complexa, um compasso entre tecnologia, cultura e a humanidade. A intervenção/interação tecnológica organiza e transforma a realidade e a arte, modulando novos modos de vivência. Ao datilografar, Azevedo organiza sinais gráficos e os desenha, deixando a ação e o pensamento em completa coesão. A máquina de escrever atua como mediadora entre a natureza e a cultura, criando uma outra camada de complexidade na relação entre o artista e o espectador. Esse aparelho também influencia a comunicação, criando novas formas de expressão e interpretação. Nesse sentido, a tecnologia não é apenas um meio de transmissão de informação, é também um sistema que molda o significado e a mensagem. A prática poética de Azevedo, além de orientar os pensamentos, atua de forma direta no encontro com o outro, sendo apenas quando uma obra escrita encontra o outro que ela alcança sua intenção, uma espécie de ato criador. Ao investigar diversas possibilidades plásticas da datilografia sobre o suporte têxtil, gera imagens a partir da tipografia, em que cada algarismo imprime sua marca na superfície, com manchas de diferentes intensidades. Nessa lógica de operação, André encontra um possível destino para a escrita no processo de transformar a tipografia em textura e a escrita em imagem. Reconfigura a datilografia em forma visual, adicionando corpo de matéria ao fugidio. Escrita-Miragem é uma tentativa de capturar o que se dissolve, do movimento de se aproximar e se afastar para decifrar o desenho que atravessa o carbono e se pigmenta na tela, elaborando uma superfície simbólica. É dessa forma que o artista recupera um possível destino para a escrita, híbrida, técnica e sensível, em que o código provoca e projeta um futuro para a escrita a partir da visualidade. Futuro esse que é indisciplinado, e sobretudo, dinâmico. André Azevedo decodifica um futuro do passado.

José Medeiros e o Instituto Tomie Ohtake.

25/jun

Esta exposição é uma realização do Ministério da Cultura, via Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), e do Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, com a correalização do Ipeafro –  Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros e da coleção Abdias Nascimento Memória em Ação. A exposição reúne cerca de 110 itens, entre fotografias e documentos provenientes do acervo do Ipeafro, que iluminam a histórica colaboração entre o Teatro Experimental do Negro (TEN) e o fotógrafo José Medeiros (1921-1991) ao longo de quase duas décadas.

Mais do que documentar, a mostra busca evidenciar uma parceria artística que é, ao mesmo tempo, política e poética, ressaltando o papel fundamental do Teatro Experimental do Negro tanto na evolução do teatro moderno no Brasil quanto na afirmação da identidade negra nas artes e na esfera pública. A relação entre o Teatro Experimental do Negro e José Medeiros é de colaboração simbólica e prática: enquanto o grupo teatral lutava por representação e dignidade para pessoas negras no cenário artístico, o fotógrafo registrava e difundia essa luta com sensibilidade e respeito, contribuindo de forma decisiva para sua preservação na memória visual brasileira.

Fundado em 1944 por Abdias Nascimento, dramaturgo, ator, artista plástico, escritor, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras brasileiras, o Teatro Experimental do Negro foi uma iniciativa pioneira no combate ao racismo e na promoção da cultura afro-brasileira por meio das artes cênicas. Abdias do Nascimento tinha como objetivo criar um espaço onde artistas negros pudessem se expressar com autonomia e dignidade, enfrentando o preconceito que os limitava a papéis estereotipados na sociedade e no teatro da época. Para Abdias Nascimento, o teatro era espelho e resumo da peripécia existencial humana – mas só poderia alcançá-la realmente ao incorporar a humanidade negro-africana em sua dimensão plena. A dignidade dos povos afrodescendentes e a dramaticidade de sua epopeia no Brasil, as quais Abdias do Nascimento e o Teatro Experimental do Negro buscaram projetar, transparecem nas imagens criadas por José Medeiros. Amigo e participante do Teatro Experimental do Negro, o olhar do fotógrafo abraçava e celebrava as pessoas e criações do grupo, tanto no palco como na cena cultural e política do país.

In memoriam.

É com grande tristeza que comunicamos o falecimento de Katie van Scherpenberg, que morreu na sexta-feira, 20 de junho, aos 84 anos, no Rio.

Van Scherpenberg rompeu profundamente as fronteiras da pintura, expandindo o uso da cor para além da tela, intervindo em espaços físicos e destacando o papel do corpo. Sua prática de pintura e performance – intrinsecamente ligada à Amazônia – era movida por uma fascinação pela impermanência. Ao longo de uma carreira de cinquenta anos, van Scherpenberg explorou a relação entre a natureza e o ser humano, utilizando pigmentos que produzia a partir da terra para criar paisagens que, com o tempo, se dissolviam de volta à natureza, deixando que a própria terra se tornasse simultaneamente meio e mensagem.

Os anos de formação de van Scherpenberg foram divididos entre o Brasil e a Inglaterra. Após estudar pintura na Europa com Oskar Kokoschka, ela retornou ao Brasil e se mudou para a remota ilha amazônica de Santana, onde permaneceu por duas décadas. De volta ao Rio de Janeiro nos anos 1980, van Scherpenberg lecionou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e colaborou com a FUNARTE no desenvolvimento de materiais de qualidade para artistas no Brasil, sendo pioneira na produção de tintas derivadas de pigmentos minerais do solo brasileiro. Essa empreitada aprofundou suas já longas explorações sobre a materialidade e suas investigações intelectuais acerca da pintura. No Parque Lage, ela realizou Jardim Vermelho, um marco na história da pintura brasileira, explorando as porosas fronteiras entre a natureza, o feminino e o gesto artístico.

Ela expôs amplamente no Brasil durante sua vida, incluindo participações na Bienal de São Paulo em 1981 e 1989, deixando uma marca indelével na nossa cena artística. Van Scherpenberg passou a integrar a Cecilia Brunson Projects em 2019, realizando exposições individuais na galeria em 2021 e 2023, além de apresentações de destaque em estandes individuais na The Armory Show (2021) e na Frieze Masters (2022).

Em março de 2025, a Galatea apresentou em São Paulo sua última exposição e passou a representá-la em colaboração com a Cecilia Brunson Projects. Suas pinturas efêmeras começam agora a ser plenamente reconhecidas como formulações pioneiras e profundas do pensamento ecofeminista, servindo como referência em um dos temas mais urgentes que desafiam os artistas hoje.

“A prática expansiva de Katie era nômade, crua e destemida. Sua abordagem dos materiais como portadores de temporalidade, combinada a uma visão singular, conferia à sua obra uma profunda carga psicológica. Sua vida foi marcada por reviravoltas: aos três anos, foi para o Reino Unido durante os tumultuados anos da Segunda Guerra Mundial; aos vinte e poucos anos, retornou ao Brasil apenas uma semana após o golpe militar de 1964 – tema que enfrentou com ousadia e humor sombrio em sua obra. Num gesto característico de autonomia, mais tarde se mudou com a filha para a Ilha de Santana, produzindo trabalhos que testemunhavam essa paisagem remota, fonte que alimentava e sustentava sua prática. Nunca esquecerei quando conheci Katie em 2006, agachada sobre a sua instalação-paisagem nos jardins do Blanton Museum, no Texas, onde seu característico pigmento vermelho-sangue encontrava a grama verde vibrante, apenas para, com o tempo, se dissolver e ser absorvido de volta pela terra. Somos imensamente gratos pela enorme contribuição de Katie à arte brasileira e ao mundo da arte em geral.”

Cecilia Brunson

“Como uma das vozes mais radicais da pintura brasileira, Katie van Scherpenberg deixa um legado de extraordinária força poética e política. Sua capacidade de transformar matéria em gesto – terra em tempo – é inigualável. Na Galatea, sentimos uma profunda honra por termos trabalhado com ela e compartilhado sua visão naquela que se tornou sua última exposição. A obra de Katie continuará a ressoar, provocar e retornar – como a terra que ela tão poderosamente evocava.”

Antônia Bergamin, Galatea

Vínculos artísticos e representatividade.

Ao longo dos 15 anos, a Galeria TATO, Barra Funda, São Paulo, SP, vem estabelecendo relações duradouras com artistas cujas pesquisas se desdobram em diferentes frentes do campo contemporâneo. A representação artística, dentro desse percurso, tem sido entendida não como um ponto de chegada, mas como um compromisso mútuo de continuidade, diálogo e construção.

A cada novo ciclo, a presença desses artistas na galeria se atualiza em exposições, publicações, inserções institucionais e feiras, refletindo processos em movimento e práticas que respondem ao tempo presente com escuta, rigor e imaginação. Ao compartilhar algumas dessas trajetórias, é possível reafirmar não apenas o vínculo entre artista e galeria, mas também o papel desse encontro no ecossistema mais amplo da arte.

A representação é uma camada entre outras tantas da atuação da TATO, que se constitui na intersecção entre acompanhamento crítico, inserção profissional e compromisso com processos contínuos de pesquisa.

Livro sobre a obra de Carlito Carvalhosa.

A galeria Nara Roesler São Paulo convida para o lançamento do livro “Carlito Carvalhosa” (Nara Roesler Books), no dia 25 de junho, às 19h.

 A obra de Carlito Carvalhosa (1961-2021) ganha sua mais abrangente publicação, editada pela Nara Roesler Books. São 384 páginas, mais de 300 imagens – de obras, exposições e instalações, processos e documentos – capa dura, 21 x 28,5 cm de tamanho, e textos de Luis Pérez-Oramas, Lúcia K. Stumpf – organizadores -, Geaninne Guimarães, André Lepecki, Daniel Rangel e Bernardo Mosqueira.

No dia 02 de julho será lançado na Nara Roesler, Ipanema, Rio de Janeiro, RJ. O livro tem ainda uma cronologia ilustrada. Foram mais de dois anos de pesquisa e produção para a publicação, com registros de obras do Acervo Carlito Carvalhosa – coordenado por Mari Stockler, companheira do artista, e pelas filhas Maria e Cecília Stockler Carvalhosa – e de diversas coleções privadas e institucionais – como Banco Itaú; Cisneros Fontanals Art Foundation; Coleção de Arte da Cidade / Centro Cultural São Paulo; Dallas Art Museum; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand; Pinacoteca do Estado de São Paulo; e Solomon R. Guggenheim Museum.

Sobre o artista

Carlito Carvalhosa participou das mais importantes exposições e longevos projetos curatoriais no Brasil, como a Bienal de São Paulo, Panorama da Arte Brasileira, projeto “Respiração”, Casa Museu Eva Klabin, “Projeto Parede”, MAM/São Paulo, “projeto Octógono”, Pinacoteca de São Paulo, projeto “Arte/Cidade”, além de ter concebido instalações especiais como as apresentadas no MAM/Rio de Janeiro, Centro Maria Antonia da USP, MAC/USP, MAM/Bahia, Palácio da Aclamação em Salvador, entre muitas outras instituições. Ocupou o átrio do MoMA/NY, em 2011, um feito inédito para um artista brasileiro em vida. Em 2024 e 2025, recebeu duas grandes mostras póstumas e retrospectivas. O Sesc Pompeia apresentou um conjunto expressivo de instalações, além de um grande acervo documental: cadernos de anotações, desenhos, convites, folders, livros, registros fotográficos, maquetes; e o Instituto Tomie Ohtake mostrou obras de todas as fases da trajetória do artista.

Mostra institucional de Manuel Messias.

23/jun

O Ministério da Cultura, via Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), e o Instituto Tomie Ohtake, Pinheiros, São Paulo, SP, apresentam até 03 de agosto a  exibição de “Manuel Messias – Sem limites”, que conta com o patrocínio do Nubank, mantenedor do Instituto Tomie Ohtake, e o apoio da Danielian Galeria. A exposição traz a assinatura dos curadores Marcus de Lontra Costa e Rafael Fortes Peixoto.

Primeira mostra individual institucional de Manuel Messias, a mostra reúne cerca de 70 xilogravuras e traça um panorama sensível e contundente de um artista que manteve uma produção contínua e coesa apesar de ter enfrentado grandes dificuldades por ser um homem negro, nordestino e que viveu nos limites da pobreza e da loucura. “Sem limites”, como ele próprio se definia, Manuel Messias é hoje reconhecido como um importante membro de sua geração e um dos mais destacados nomes da gravura brasileira do século XX.

A exposição perpassa três décadas de produção artística, revelando a potência poética e crítica de Manuel Messias dos Santos (1945-2001), sergipano radicado no Rio de Janeiro desde a infância. Segundo os curadores, foi através de sua mãe, que trabalhou como empregada doméstica na casa de nomes influentes da cena artística carioca, que Manuel Messias pôde frequentar aulas de arte no início dos anos 1960, particularmente o curso livre de Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

No Instituto Tomie Ohtake.

18/jun

Manfredo de Souzanetto, Série Olhe bem as montanhas, 1973-1974

O Ministério da Cultura, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, e o Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP, apresentam Manfredo Souzanetto – As montanhas, exposição com patrocínio do Nubank, mantenedor do Instituto Tomie Ohtake, e com apoio da Galeria Simões de Assis. Sob curadoria de Paulo Miyada, diretor artístico do Instituto Tomie Ohtake, a mostra ficará em cartaz até 03 de agosto.

Paralelamente às exposições Teatro Experimental do Negro nas fotografias de José Medeiros, Manuel Messias – Sem limites e Casa Sueli Carneiro em residência no Instituto Tomie Ohtake.

Propondo um mergulho na formação poética e crítica de um dos nomes mais singulares da arte contemporânea brasileira, a mostra reúne cerca de 50 obras produzidas entre as décadas de 1970 e 1990. São sobretudo desenhos, fotografias e pinturas – a grande maioria advindas do acervo de Manfredo Souzanetto, que as guardou por décadas, como se antevisse a importância desses trabalhos na constituição de sua trajetória.

Nascido em 1947 no norte do Vale do Jequitinhonha, o artista teve uma infância marcada pelas paisagens montanhosas e as riquezas naturais da região – especialmente às pedras, cerâmicas e pigmentos terrosos – elementos que mais tarde se tornariam centrais em sua produção artística. As obras selecionadas revelam o processo de amadurecimento do artista, acompanhando a sua produção durante o percurso que o levou de Minas Gerais ao Rio de Janeiro, passando por Belo Horizonte, Paris e Juiz de Fora.

Ainda que tenha se deslocado por diferentes centros urbanos e circuitos artísticos, Manfredo Souzanetto manteve uma profunda conexão com sua terra natal. Em sua obra as montanhas mineiras não são apenas formas geográficas, mas entidades afetivas e políticas, evocadas em cores, volumes e superfícies que desafiam fronteiras entre escultura, pintura e intervenção paisagística. Como Paulo Miyada afirma no texto curatorial, “As montanhas, aqui, são muitas e nenhuma. Elas são memória atávica e pensamento junto da paisagem, articuladas de modo visual, material, cromático. Elas, as montanhas, são parte do que constitui este mundo, essas obras e esse artista”, conclui.

Mais do que um panorama histórico, a exposição convida o público a revisitar o gesto de olhar para a paisagem – como já propunha o artista em sua juventude com o emblemático adesivo “Olhe bem as montanhas”. Em um momento em que os territórios naturais enfrentam ameaças crescentes, as obras do artista oferecem uma reflexão sobre permanência, destruição e pertencimento. É um chamado para ver, com outros olhos, aquilo que insiste em permanecer: a paisagem como memória viva e a arte como forma de resistência.